quinta-feira, 30 de junho de 2011

Emília Ferreiro e o Construtivismo no Brasil

Emília Ferreiro e o Construtivismo Brasileiro
Frank V. Carvalho

Uma aluna de Piaget, a psicóloga Emília Ferreiro, foi quem adotou e tornou conhecida a expressão construtivismo. Ela nasceu na Argentina (1936) e atualmente reside no México, onde trabalha no Departamento de Investigações educativas (DIE) do Centro de Investigações e Estudos avançados (Cinvestav) do Instituto Politécnico Nacional do México. Fez seu doutorado sob a orientação de Piaget – na Universidade de Genebra, no final dos anos 60, dentro da linha de pesquisa inaugurada por Hermine Sinclair, que Piaget chamou de psicolingüística genética. Voltou em 1971, à Universidade de Buenos Aires, onde constituiu um grupo de pesquisa sobre alfabetização do qual fazia parte Ana Teberosky e outros. No ano de 1974, foi afastada de suas funções docentes na universidade (questões políticas da ditadura que instalava-se no país) e em 1977, após o golpe de estado na Argentina, foi abrigada a exilar-se na Suíça. Lecionou na Universidade de Genebra, onde inicia uma pesquisa com a ajuda de Margarida Gómez Palacio sobre as dificuldades de aprendizagem das crianças de Monterrey (México). Em 1979, mudou-se para o México e lá publicou várias obras, entre elas A Psicogênese da Língua Escrita, em parceria com Ana Teberosky. Recebeu o título de doutor Honoris causa em Universidades da Argentina, Grécia e Brasil. Em 2001 recebe do governo brasileiro a Ordem Nacional do Mérito educativo.

Em seu livro Psicogênese da Língua Escrita (em parceria com Ana Teberosky), ela aplicou a teoria mais geral de Piaget na investigação dos processos de aprendizado da leitura e da escrita entre crianças na faixa de 4 a 6 anos. Constatou que as crianças não aprendem exatamente como são ensinadas. Constatou também que o nível sócio-econômico e cultural dos pais e o ambiente familiar têm influência direta no aprendizado das crianças. A partir daí ela procurou dar aos educadores a base científica para formulação de novas propostas pedagógicas de alfabetização. Em seu livro ela critica os métodos sintéticos de alfabetização e a utilização de cartilhas.

Emília Ferreiro constatou que crianças na faixa dos 4 aos 6 anos seguem uma seqüência lógica básica na alfabetização. Na primeira fase, a pré-silábica, a criança não consegue relacionar as letras com os sons da língua falada e se agarra a uma letra mais conhecida (em geral, presente em seu nome) para "escrever". Por exemplo, pode escrever macaco como MMMM ou AAAAA. Na fase seguinte, a silábica, já interpreta as letras à sua maneira, atribuindo valor silábico a cada uma (para ela, MCO pode ser a grafia de Ma-ca-co, em que M = ma, C = ca e O = co). Essa fase é geralmente subdividida em silábico sem valor sonoro (letras aleatórias que representam sílabas) e silábico com valor sonoro (letras relacionadas aos sons da palavra em questão). Um pouco adiante, na fase silábico-alfabética, mistura-se a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas propriamente ditas. Por fim, na fase alfabética, passa a dominar plenamente o valor das letras e sílabas.

As investigações de Emília Ferreiro e outros construtivistas procuraram demonstrar que a questão crucial da alfabetização não era de natureza perceptual, mas conceitual. Ou seja, por trás do aluno sendo alfabetizado, está um sujeito que “pensa sobre a escrita”. E que essa escrita existe em seu meio social, não apenas na sala de aula, e ele toma contato com ela através de atos que envolvem sua participação em práticas sociais de leitura e escrita. Os construtivistas diziam então que ocorre uma “evolução da escrita na criança”, evolução influenciada, mas não totalmente determinada pela ação das instituições educativas. Dessa forma, pode-se descrever uma psicogênese nesse domínio. E as novidades não pararam por aí, para Emília, as crianças tinham idéias sobre a escrita muito antes de serem autorizadas pela escola a aprender. Essas idéias assumiam formas inesperadas e ao invés das crianças irem acumulando as informações oferecidas pela escola, elas pareciam inventar formas surpreendentes de escrever que apareciam dentro de uma ordem precisa. Foi a descoberta das ‘fases’ da aprendizagem da leitura e da escrita mencionada no parágrafo anterior.

Suas teorias alcançaram repercussão em alguns países de cultura latina e mais expressivamente, entre os educadores da Argentina, México e Brasil. A acolhida em nosso país, no começo restrita a alguns educadores e pesquisadores, logo se transformou em tendência. As práticas construtivistas foram se desenvolvendo rapidamente, mas à princípio não houve sistematização de procedimentos.

Fonte: tvtribuna.wsoma.com 

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