Kohlberg e a Formação Moral
Frank V. Carvalho, Dr. Filosofia e Ética
A educação de valores morais deve obedecer a alguns critérios para que o trabalho do educador obtenha o êxito pretendido. Kohlberg[1] acredita que o desenvolvimento moral é baseado primariamente num raciocínio moral e segue uma série de estágios. Suas conclusões são resultado de mais de vinte anos de pesquisas envolvendo entrevistas com indivíduos de diferentes idades. Nestas entrevistas eram apresentadas às crianças uma série de histórias com dilemas morais. Uma das mais famosas é a seguinte:
Na Europa, uma mulher estava perto da morte com um tipo especial de câncer. Havia uma droga que os médicos pensavam que podia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico (químico) na mesma cidade havia descoberto recentemente. O preparo da droga era muito caro e dispendioso, mas o farmacêutico (químico) cobrava dez vezes mais do que a droga custava para ele. Ele pagava 200 dólares pelo rádio e cobrava 2000 dólares por uma pequena dose da droga. O marido da mulher enferma, Heinz, foi a cada pessoa que ele conhecia e pediu emprestado, mas ele conseguiu juntar somente a quantia de 1000 dólares, que era a metade do custo da droga. Ele falou para o farmacêutico que a mulher dele estava quase morrendo e que ele vendesse a droga para ele mais barato ou então que permitisse a ele pagar a diferença depois. Mas o farmacêutico disse: Não, eu descobri esta droga e eu vou ganhar dinheiro com ela. Então Heinz ficou desesperado e quebrou a loja do homem para roubar a droga para a sua esposa. (Kohlberg, 1969, p. 379).
Depois de ler a história, as entrevistas de Kohlberg tinham uma série de perguntas sobre questões morais:
- Heinz poderia ter roubado a droga?
- Este roubo era certo ou errado? Por quê?
- Era um dever roubar a droga para a sua esposa se não havia outra maneira?
- Poderia um bom marido roubar?
- Tinha o farmacêutico o direito de cobrar o quanto quisesse já que não havia uma lei estabelecendo limites no preço? Por quê?
Esta é apenas uma das onze principais histórias de Kohlberg para investigar a natureza do desenvolvimento moral. Para ele o conceito chave para a compreensão moral é a internalização a o desenvolvimento da mudança de comportamento que é externo controla o comportamento que é controlado por padrões e princípios internos. As crianças e os adolescentes desenvolvem seus pensamentos morais que vem a ser mais internalizados.
Para Kohlberg três são os níveis do desenvolvimento moral:
Nível 1 – Raciocínio Pré-convencional - É o mais baixo nível da teoria do desenvolvimento moral. Neste nível o indivíduo não mostra a internalização de valores morais - a razão moral é controlada por recompensas e punições externas.
Nível 1 – Estágio 1 - Punição e Obediência orientada - é o primeiro estágio da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg - neste estágio o pensamento moral é baseado nas punições. As crianças obedecem aos adultos porque os adultos falam para elas obedecerem.
Nível 1 – Estágio 2 - Individualismo e propósito - é o segundo estágio. O comportamento moral é baseado em recompensas e interesse próprio. Por exemplo, crianças e adolescentes obedecem quando eles querem obedecer e quando é melhor para o interesse pessoal delas obedecer. O que é direito é aquilo que parece bom e aquilo que é recompensado.
Nível 2 - Raciocínio Convencional - É o segundo ou intermediário nível desta teoria. Neste nível a internalização é intermediária. O suporte individual é baseado em certos padrões (internos), mas eles são padrões dos outros (externos), assim como os pais ou as leis da sociedade. O nível 2 é dividido em dois estágios:
Nível 2 - Estágio 3 - Normas interpessoais - Neste estágio, valores individuais de confiança, lealdade e cuidado aos outros são a base do julgamento moral. As crianças e adolescentes freqüentemente adotam os padrões morais dos pais, buscando a opinião deles como um “bom garoto”, “uma boa menina”.
Nível 2 - Estágio 4 - Sistema de Moral Social - Neste estágio, o julgamento moral é baseado na compreensão da ordem social, lei, justiça e dever. Por exemplo, adolescentes podem dizer que, para uma comunidade operar (funcionar) efetivamente, é necessário ser protegida pelas leis que são obedecidas (aderidas) pelos seus membros.
Nível 3 - Raciocínio Pós-convencional - É o mais alto nível na teoria do desenvolvimento moral. Neste nível a moralidade é completamente internalizada e não é baseada nos padrões dos outros. O indivíduo reconhece cursos de alternativa moral, explora as opções e decide por um código moral pessoal. Este nível também tem dois estágios:
Nível 3 - Estágio 5 - Direitos Comunitários Versus Direitos Individuais - Neste quinto estágio a pessoa compreende que os valores e leis são relativos e os padrões variam de uma pessoa para outra. A pessoa reconhece que as leis são importantes para a sociedade, mas sabe que as leis podem ser mudadas. A pessoa neste nível, acredita que alguns valores, tais como a liberdade, são mais importantes que a lei.
Nível 3 - Estágio 6 - Princípios Éticos Universais - Neste estágio a pessoa desenvolve um padrão moral baseado nos direitos humanos universais. Quando confrontado com um conflito entre a lei e a consciência, a pessoa seguirá a consciência, ainda que esta decisão envolva risco pessoal.
Frank V. Carvalho, Dr. Filosofia e Ética
A educação de valores morais deve obedecer a alguns critérios para que o trabalho do educador obtenha o êxito pretendido. Kohlberg[1] acredita que o desenvolvimento moral é baseado primariamente num raciocínio moral e segue uma série de estágios. Suas conclusões são resultado de mais de vinte anos de pesquisas envolvendo entrevistas com indivíduos de diferentes idades. Nestas entrevistas eram apresentadas às crianças uma série de histórias com dilemas morais. Uma das mais famosas é a seguinte:
Na Europa, uma mulher estava perto da morte com um tipo especial de câncer. Havia uma droga que os médicos pensavam que podia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico (químico) na mesma cidade havia descoberto recentemente. O preparo da droga era muito caro e dispendioso, mas o farmacêutico (químico) cobrava dez vezes mais do que a droga custava para ele. Ele pagava 200 dólares pelo rádio e cobrava 2000 dólares por uma pequena dose da droga. O marido da mulher enferma, Heinz, foi a cada pessoa que ele conhecia e pediu emprestado, mas ele conseguiu juntar somente a quantia de 1000 dólares, que era a metade do custo da droga. Ele falou para o farmacêutico que a mulher dele estava quase morrendo e que ele vendesse a droga para ele mais barato ou então que permitisse a ele pagar a diferença depois. Mas o farmacêutico disse: Não, eu descobri esta droga e eu vou ganhar dinheiro com ela. Então Heinz ficou desesperado e quebrou a loja do homem para roubar a droga para a sua esposa. (Kohlberg, 1969, p. 379).
Depois de ler a história, as entrevistas de Kohlberg tinham uma série de perguntas sobre questões morais:
- Heinz poderia ter roubado a droga?
- Este roubo era certo ou errado? Por quê?
- Era um dever roubar a droga para a sua esposa se não havia outra maneira?
- Poderia um bom marido roubar?
- Tinha o farmacêutico o direito de cobrar o quanto quisesse já que não havia uma lei estabelecendo limites no preço? Por quê?
Esta é apenas uma das onze principais histórias de Kohlberg para investigar a natureza do desenvolvimento moral. Para ele o conceito chave para a compreensão moral é a internalização a o desenvolvimento da mudança de comportamento que é externo controla o comportamento que é controlado por padrões e princípios internos. As crianças e os adolescentes desenvolvem seus pensamentos morais que vem a ser mais internalizados.
Para Kohlberg três são os níveis do desenvolvimento moral:
Nível 1 – Raciocínio Pré-convencional - É o mais baixo nível da teoria do desenvolvimento moral. Neste nível o indivíduo não mostra a internalização de valores morais - a razão moral é controlada por recompensas e punições externas.
Nível 1 – Estágio 1 - Punição e Obediência orientada - é o primeiro estágio da teoria do desenvolvimento moral de Kohlberg - neste estágio o pensamento moral é baseado nas punições. As crianças obedecem aos adultos porque os adultos falam para elas obedecerem.
Nível 1 – Estágio 2 - Individualismo e propósito - é o segundo estágio. O comportamento moral é baseado em recompensas e interesse próprio. Por exemplo, crianças e adolescentes obedecem quando eles querem obedecer e quando é melhor para o interesse pessoal delas obedecer. O que é direito é aquilo que parece bom e aquilo que é recompensado.
Nível 2 - Raciocínio Convencional - É o segundo ou intermediário nível desta teoria. Neste nível a internalização é intermediária. O suporte individual é baseado em certos padrões (internos), mas eles são padrões dos outros (externos), assim como os pais ou as leis da sociedade. O nível 2 é dividido em dois estágios:
Nível 2 - Estágio 3 - Normas interpessoais - Neste estágio, valores individuais de confiança, lealdade e cuidado aos outros são a base do julgamento moral. As crianças e adolescentes freqüentemente adotam os padrões morais dos pais, buscando a opinião deles como um “bom garoto”, “uma boa menina”.
Nível 2 - Estágio 4 - Sistema de Moral Social - Neste estágio, o julgamento moral é baseado na compreensão da ordem social, lei, justiça e dever. Por exemplo, adolescentes podem dizer que, para uma comunidade operar (funcionar) efetivamente, é necessário ser protegida pelas leis que são obedecidas (aderidas) pelos seus membros.
Nível 3 - Raciocínio Pós-convencional - É o mais alto nível na teoria do desenvolvimento moral. Neste nível a moralidade é completamente internalizada e não é baseada nos padrões dos outros. O indivíduo reconhece cursos de alternativa moral, explora as opções e decide por um código moral pessoal. Este nível também tem dois estágios:
Nível 3 - Estágio 5 - Direitos Comunitários Versus Direitos Individuais - Neste quinto estágio a pessoa compreende que os valores e leis são relativos e os padrões variam de uma pessoa para outra. A pessoa reconhece que as leis são importantes para a sociedade, mas sabe que as leis podem ser mudadas. A pessoa neste nível, acredita que alguns valores, tais como a liberdade, são mais importantes que a lei.
Nível 3 - Estágio 6 - Princípios Éticos Universais - Neste estágio a pessoa desenvolve um padrão moral baseado nos direitos humanos universais. Quando confrontado com um conflito entre a lei e a consciência, a pessoa seguirá a consciência, ainda que esta decisão envolva risco pessoal.
Kohlberg acreditava que estes níveis e estágios ocorrem numa sequência:
- Antes dos nove anos, a maioria das crianças seguem caminhos pré- convencionais (nível 1).
- Na primeira adolescência, eles raciocinam de uma maneira mais convencional (nível 2). A maioria no estágio 3, com apenas sinais dos estágios 2 e 4.
- No início da fase adulta, um pequeno número de indivíduos arrazoam (raciocinam) de maneira pós-convencional.
Mais resultados das pesquisas de Kohlberg:
a) 62% do pensamento moral dos adultos de 36 anos de idade era baseado no estágio 4;
b) O estágio 5 nunca aparece antes dos 20 a 22 anos de idade;
c) Do total da população, 10% ou menos atingem o estágio 5.
Crítica
Aspectos negativos - Como muito poucos atingiram o estágio 6, alguns estudiosos do comportamento desconsideram o estágio 6 desta tabela classificatória, mas ainda é considerado como o ponto máximo do pensamento moral. A teoria de Kohlberg tem sido criticada por sua grande ênfase no pensamento moral e não no comportamento moral - uma razão moral pode ser às vezes uma desculpa para um comportamento imoral. Ou seja, ninguém quer uma nação de ladrões e trapaceiros que possam julgar ter motivações corretas ou razão num nível pós-convencional. Estes podem saber o que é certo, mas fazem o que é errado. Um outro ponto a ser considerado é que aspectos culturais interferem nesta classificação e valores religiosos ultrapassam as expectativas de Kohlberg.
- Antes dos nove anos, a maioria das crianças seguem caminhos pré- convencionais (nível 1).
- Na primeira adolescência, eles raciocinam de uma maneira mais convencional (nível 2). A maioria no estágio 3, com apenas sinais dos estágios 2 e 4.
- No início da fase adulta, um pequeno número de indivíduos arrazoam (raciocinam) de maneira pós-convencional.
Mais resultados das pesquisas de Kohlberg:
a) 62% do pensamento moral dos adultos de 36 anos de idade era baseado no estágio 4;
b) O estágio 5 nunca aparece antes dos 20 a 22 anos de idade;
c) Do total da população, 10% ou menos atingem o estágio 5.
Crítica
Aspectos negativos - Como muito poucos atingiram o estágio 6, alguns estudiosos do comportamento desconsideram o estágio 6 desta tabela classificatória, mas ainda é considerado como o ponto máximo do pensamento moral. A teoria de Kohlberg tem sido criticada por sua grande ênfase no pensamento moral e não no comportamento moral - uma razão moral pode ser às vezes uma desculpa para um comportamento imoral. Ou seja, ninguém quer uma nação de ladrões e trapaceiros que possam julgar ter motivações corretas ou razão num nível pós-convencional. Estes podem saber o que é certo, mas fazem o que é errado. Um outro ponto a ser considerado é que aspectos culturais interferem nesta classificação e valores religiosos ultrapassam as expectativas de Kohlberg.
Aspectos positivos - Os valores são desenvolvidos não de uma maneira compacta, fechada, mas de uma forma graduada e com mais ênfase em uns do que em outros. Por exemplo, uma pessoa pode chegar ao estágio 5 no que diz respeito a um determinado valor (patriotismo) e estar no estágio 3 com relação a um outro valor (honestidade). Entretanto, invariavelmente, se o pensamento moral dos valores que estão em um estágio mais baixo não evoluírem para os estágios onde estão os valores que estão num estágio mais alto (e internalizados), estes tenderão a descer para os estágios onde estão os outros valores.
Kohlberg também não chega ao ponto de afirmar que uma pessoa é melhor do que outra por estar num estágio mais elevado no contexto da formação do pensamento moral. É certo que um nível mais elevado traz mais responsabilidades e conseqüências um pouco menos previsíveis.
Fonte: CARVALHO, Frank. Pedagogia da Cooperação, UNASPRESS, 2003.
[1] SANTROCK, John W. Adolescence. Chicago, Brown & Benchmark, 1996, pp. 421-424.
Fonte da Imagem: www.academic.udayton.edu
4 comentários:
Nada Muito Extenso E Bem Explicativo. Amei!
Muito bom o texto, parabéns
Ótimo bem objetivo é elucidativo.
Muito bom mesmo, adorei
Parabens
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