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A Equipe do Projeto em Ribeirão Preto
na Rodovia Anhanguera |
Com a temática principal focada na Educação e no
Intercâmbio Cultural, o Projeto de Extensão IFSP-SRQ no Xingu que visou 'Ações
de Extensão em Alfabetização e Construção de Conceitos em Cidadania e
Sustentabilidade' foi realizado durante dez dias em julho de 2015 (10 a
19/07/2015).
Seguindo as orientações do polo local da FUNAI e da
Secretaria de Educação, o convite para a visita/expedição foi feito pelo
cacique da Aldeia Afukuri (etnia kuikuro) e pelo coordenador pedagógico da
escola da Aldeia.
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No planalto goiano entre Caiapônia e Nova Xavantina |
A equipe, liderada por um docente do Instituto Federal
(Frank Carvalho), contava também com um egresso do IFSP-SRQ que é docente de Biologia
da Secretaria de Educação do Mato Grosso (Daniel
Januário), um fotógrafo e cinegrafista, aluno do Centro
Universitário SENAC (LeRoy Frank) e uma aluna do Curso de Gestão Ambiental do
IFSP-SRQ (Susy Leme). O Projeto contou com o
apoio da direção geral (Ricardo Coelho) e da coordenação de extensão (José Luís).
O local
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No rio Kuluene, afluente formador do Rio Xingu |
Para chegar ao local, viajamos três dias partindo de São Roque-SP até a Aldeia que fica no norte do Mato Grosso, sendo que percorremos 1684 quilômetros de carro em rodovias asfaltadas, 120 kms de caminhonete em estrada de terra e 110 kms de barco. A Aldeia fica no Parque Xingu, completamente isolada das cidades próximas.
O “Parque Indígena do Xingu” engloba, em sua porção sul, a
área cultural conhecida como “Alto Xingu”, formada pelos povos Kuikuro,
Kalapalo, Yawalapiti, Mehinako, Kamaiurá, Matipu, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Aweti .
Percorremos os mesmos caminhos dos indigenistas pioneiros na região, os irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e Leonardo). Eles chegaram nestas terras na década de
1940 e o primeiro contato deles com os índios Kalapalo ocorreu justamente às
margens do rio Kuluene, o mesmo rio por onde nós navegamos e chegamos à Aldeia
Afukuri.
Em nossa visita a Aldeia Afukuri dos Kuikuro, também conhecemos e
tivemos contato com integrantes dos povos Kalapalo, Yawalapiti e Mehinako.
A despeito de sua variedade linguística, esses povos caracterizam-se por uma
grande similaridade no seu modo de vida e visão de mundo.
Estão ainda
articulados em uma rede de trocas especializadas e intercomunicação cultural.
Entretanto, cada um desses grupos faz questão de cultivar sua
identidade étnica e, se o intercâmbio cerimonial e econômico celebra a
sociedade alto-xinguana, promove também a celebração de suas diferenças.
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Daniel mostra o beiju (tapioca) |
Há
casamentos frequentes entre membros de diferentes etnias, o que aumenta o
intercâmbio sociocultural entre esses povos.
Os contatos e atividades foram altamente positivos, permanecendo
a equipe do IFSP seis dias na Aldeia.
Dos cerca de 150 habitantes, em torno de
dez por cento falam português com relativa fluência.
Assim, em diversos
momentos necessitamos de tradução (karib-português ou português-karib) para compreender ou nos fazer entender.
A língua ou idioma ‘karib’
é de um tronco linguístico próprio da região, distinto do tronco tupi ou
macro-jê, e é falado pelas etnias Kuikuro, Kalapalo, Ikpeng, Matipu, Nahukwá e
Naruvotu (família Karíb).
Respeitando os conteúdos e formas culturais entendidas como
“próprias” da cultura Kuikuro, foram apresentadas aos professores da escola da
Aldeia, estratégias cooperativas de ensino e material de referência para as
aulas.
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No rio Kuluene, Susy e sua máquina fotográfica |
Foram dadas algumas orientações sobre o descarte e destinação dos
resíduos sólidos (lixo) que estão chegando dos núcleos urbanos fruto das
trocas, das viagens, do comércio das cidades próximas.
Os líderes da Aldeia reuniram-se mais de uma vez com a equipe para dialogar e apresentar algumas questões relativas às necessidades da escola local.
Vários costumes e tradições da etnia kuikuro foram compartilhados
com a equipe do instituto, valorizando a expressão e a comunicação entre as
culturas. Nesta época (meio do ano) eles realizam jogos e uma grande festa Kuarup - onde é feita uma homenagem a uma ou mais pessoas falecidas. Fomos convidados pelo cacique para permanecer nas festividades do final de julho e de uma festa no ano que vem.
Nos dias do projeto, a equipe pescou junto com eles no rio, comeu beiju e
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Um dos encontros com o Cacique e os líderes locais |
peixe (base da alimentação da aldeia), assistiu os preparativos e treinamentos das lutas, e participou de atividades próprias dos kuikuro. Além dos livros com estratégias didáticas cooperativas para os professores, a equipe deu uma caixa com livros, revistas e materiais didáticos para os alunos da pequena escola. A receptividade foi muito grande por parte dos aldeões.
Da parte da equipe do IFSP-SRQ, houve grande incentivo a valorização
da identidade étnica. Há muita diversidade presente em cada etnia e em cada
aldeia. É importante ressaltar que alguns costumes das cidades próximas já chegaram às aldeias, relativos
ao vestuário e à tecnologia.
Estratégias para atividades didáticas no ensino e aprendizado
da língua portuguesa e do tratamento dos resíduos sólidos são
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Em frente a "Oca dos Homens", uma foto no dia da despedida |
necessidades numa
tribo que, embora isolada geograficamente, tem permanente contato com a cultura e população
dos municípios matogrossenses vizinhos.
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A presença de pássaros e outros animais é normal na Aldeia |
Foi a própria comunidade indígena que solicitou uma escola para o aprendizado da língua portuguesa e valorização dos costumes, história e tradições locais. Embora eles não tenham a figura de um alfabetizador especializado
na escola ou na aldeia, os cinco professores da escola têm feito a alfabetização em língua portuguesa prosseguir. O professor Daniel Januário é o único não pertencente à etnia kuikuro.
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