sexta-feira, 12 de junho de 2020

Praticando a Interdisciplinaridade

Praticando a Interdisciplinaridade
Frank Viana Carvalho
Duzolina Alfredo Filipe de Oliveira

Desde o advento da escola moderna com Comenius (Didática Magna), a prática pedagógica, embora tenha muitas virtudes, ao longo dos anos levou a escola a tratar os conhecimentos e acontecimentos da realidade social de forma fragmentada e desvinculada das experiências significativas do educando, não dando o real valor e unicidade aos contextos culturais, científicos, sociais, políticos econômicos e pessoais. Há necessidade de se trabalhar a abordagem contextualizada fundamentada no ponto de vista globalizador, buscando a operacionalização através do aprendizado da interdisciplinaridade. Ao adotarmos o exercício interdisciplinar na escola, envolvemos todos os educadores de diferentes formações e conseguimos envolver os temas transversais às disciplinas. Só assim professores e alunos compartilham o aprendizado e constroem juntos o conhecimento.
Embora a escola considere que a divisão e subdivisão dos saberes em áreas e disciplinas visava facilitar o ensino, muitos educadores estão certos de que isso em grande medida fragmentou e dificultou a necessária interligação que há no conhecimento. A Interdisciplinaridade parte do pressuposto que a realidade é una e indivisível e concebe o conhecimento como aberto a despeito de suas múltiplas faces, exigindo de educadores e educandos uma maneira de ensinar e aprender que desenvolva a competência de estabelecer relações entre partes e o todo, superando a concepção unidirecional e fragmentada do conhecimento.

A prática pedagógica é uma atividade complexa e dinâmica, que se efetiva em espaços educacionais ou em ambientes voltados a esse fim, voltados à formação do estudante. Para entender a demanda do contexto atual, deve ser organizada de modo que possibilite a formação de um cidadão critico capaz de lidar conscientemente com a realidade cientifica e tecnológica na qual está inserido. A aprendizagem é sempre potencialização de reconstrução de conhecimentos científicos, culturais, sociais e políticos.
A melhor maneira de fazer com que isso aconteça é através da interdisciplinaridade que deve ir além da simples justaposição de disciplinas ao interagimos em busca de objetivos comuns. Mas para isso é necessário ter uma visão do que ocorre em outras áreas e disciplinas.  Devemos através do trabalho pedagógico incentivar uma aproximação para envolver docentes, discentes e disciplinas em atividades ou projetos de estudoprojetos de pesquisa e ação. A interdisciplinaridade poderá ser uma prática pedagógica e didática eficaz ao cultivarmos um diálogo constante entre os saberes e desafiarmos os alunos a posturas construtivas de questionamento, de aprovação, de indeferimento, de acréscimo e de transparência sobre a sua compreensão dos conhecimentos. Na interdisciplinaridade os alunos aprendem a visão do mesmo objeto sob prismas distintos.
A prática da interdisciplinaridade possui uma linha de trabalho integradora que pode agregar um objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Quando problematizamos uma situação, o problema causador do projeto pode ser uma experiência, um desencadeamento de ação para interferir na realidade ou aprofundar os conhecimentos de uma área. Por vezes o tema ou assunto unificador propicia várias abordagens e projetos nas diferentes disciplinas, e em outros momentos é o modelo de abordagem ou a estratégia metodológica que permitirá ao aluno visualizar a interação e proximidade dos temas comuns às áreas. Devemos nos conscientizar que os projetos integradores são interdisciplinares em sua compreensão, cumprimento e avaliação.
Em termos pedagógicos, a interdisciplinaridade também pode ser substituída por outros termos como multidisciplinaridadetransdisciplinaridade e pluridisciplinaridade, pois as mesmas permitem compreender a organização dos saberes em áreas e criam contextos para unificar ou aproximar estes conhecimentos.
A interdisciplinaridade envolve a contextualização do conhecimento, que mantém uma relação fundamental entre o sujeito que aprende e o componente a ser aprendido, evocando fatos da vida pessoal, social e cultural, principalmente o trabalho, os valores e a cidadania. Quando os alunos participam da tomada de decisão a respeito de um tema ou na construção de um projeto, é possível que constituam relações entre os novos conteúdos e os conhecimentos que já possuem, conseguindo aprendizagens mais significativas, comparando, criticando, sugerindo ajustes, novas relações e organizações, abrindo portas para a interferência em uma realidade, desencadeamento novas ações e construindo um compromisso com uma cidadania ativa.
Referências:
PERRENOUD, Phillipe. Construir competências desde a escola.
Sites: Nova Escola, Portal Educação, Brasil Escola.
Fonte da Imagem: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0440.html

terça-feira, 9 de junho de 2020

Três meses de Pandemia - Caminhos e Soluções na Educação

Três meses de Pandemia - Caminhos e Soluções na Educação

Frank Viana Carvalho

O mundo inteiro está apresentando respostas educacionais para que o processo educacional continue em meio à crise do novo coronavírus. Em minha perspectiva de pedagogo, gastei um tempo considerável pesquisando sobre o que está acontecendo em outros países, pois é uma pandemia, uma excepcionalidade. Além disso, há vários exemplos em nosso próprio país. 
  
Diferentes caminhos para o ensinar e o aprender
A Associação Internacional Global Partnership que promove ajuda e recursos para dezenas de países, numa parceria mundial pela educação afirmou sobre os meios de educação nesta pandemia:

“Não existe uma escolha “certa” para educação a distância no momento. Cada país deve escolher os melhores meios ou uma mistura de meios de acordo com acesso, infraestrutura técnica, conteúdo, capacidade de adaptar esse conteúdo aos meios apropriados à sua disposição e sua capacidade de fornecer aos alunos acesso a essas oportunidades de aprendizado o mais rápido possível.”

A UNESCO, braço da ONU para a educação, além da Internet, sugere vários caminhos para a educação a distância, que envolvem a todos, com inclusão real:

O mesmo incentivo para diferentes caminhos é feito pelo World Bank em suas políticas de educação para o mundo:


Ao pesquisar sobre o que diferentes atores estão fazendo nesta questão, vê-se que eles buscam respostas sem fechar ‘portas’ ou ‘possibilidades’, sem restringir o caminho da aprendizagem às TICs.

1. Na Colômbia (IDH 761, 79º), entre outras possibilidades, estão usando o Rádio, uma tecnologia centenária para o ensino na pandemia:

2. Na Argentina (IDH 830, 48º), além da internet, o uso da TV para educar na época do Coronavírus é oficial, são 14 horas de transmissão diária:

3. Na rica Áustria (IDH 914, 20º), no coração do continente europeu, além da internet, é também oficial o uso da TV para educar nessa pandemia com uma programação 24 horas: https://tv.orf.at/

4. Na Costa Rica (IDH 794, 63º), que possui um IDH dos mais altos entre os países da América Central, além da Internet e da TV, para as famílias que não têm internet, são enviados pelo Correio ou sistemas de entrega, todo o material de estudo impresso e apostilado a partir de um Programa do Ministério da Educação.


5. De volta ao Brasil (IDH 791, 69º).

a) Na UNICAMP, o Reitor Marcelo Knobel afirmou:
“A palavra chave neste momento é flexibilidade. É preciso dar flexibilidade para o estudante nesse momento tão complexo (...) Nós não tínhamos muito preparo [para o ensino remoto emergencial], mas ponderamos diversas questões, como nossa obrigação como instituição pública, de manter o funcionamento de algumas atividades (como nossos hospitais) e acreditamos que o ensino também é parte das coisas fundamentais de serem mantidas”.

A Universidade de Campinas deu liberdade aos Departamentos e docentes para a retomada de aulas e atividades não presenciais:

b) Na USP, mais de 90% das aulas teóricas dos cursos de graduação e mais de 900 disciplinas de pós-graduação estão sendo ministradas on-line. A instituição distribuiu 2.250 kits de internet aos estudantes em situação de vulnerabilidade acompanharem as aulas.

c) No IFRR, além de definirem como Plataforma AVA o Moodle, fizeram um leque amplo de possibilidades, materiais e recursos, e considerando que nem todos têm acesso à internet, estão fazendo chegar aos estudantes livros didáticos e materiais educativos impressos:

d) No IFES, além da internet, estão imprimindo instruções de atividades e apostilas, fazendo com que elas cheguem às casas dos estudantes: https://ifes.edu.br/noticias/19194-coronavirus

e) A Rede Estadual de São Paulo está utilizando a TV Escola e enviando às casas material impresso e kits de estudo:

f) O Instituto Unibanco lançou uma série de podcasts educacionais (seria como ouvir aulas no rádio) para os tempos da COVID-19:

g) A Prefeitura de São Paulo, além da internet, também está enviando material de aprendizagem impresso:
 

7. Na populosa Índia (IDH 647, 129º), 32 canais de TV Direct To Home (DTH) são dedicados à transmissão de programas educacionais, ampliando sua programação na pandemia para as 24 horas por dia e acessíveis em todo o país. 


8. No Peru (IDH 759, 82º), o governo está lançando mão de todos os caminhos para a aprendizagem dos estudantes: internet, rádio e TV. Além disso, o Ministério da Educação comprou mais de 840 mil tablets para os estudantes e professores.

9. Em outros países das Américas como Chile (IDH 845, 43º), Equador (IDH 758, 85º), Cuba (IDH 778, 72º) e Haiti (IDH 503, 169º), além das mídias digitais baseadas na internet, há muita utilização do Rádio e da TV para educar nos tempos da pandemia.

9. E os Estados Unidos (IDH 920, 15º)? Em Chicago, parte da programação televisiva foi adaptada para a educação dos estudantes. No Mississipi, a Rádio WTVA adaptou sua programação para fornecer programas de ensino à distância para estudantes em comunidades de pouco acesso à internet. Em Cleveland, uma emissora de TV faz transmissões de aulas em função da pandemia. Mesmo no país mais rico do mundo, Estados Unidos, há disparidades no acesso à internet e soluções inovadoras que não se restringem às TICs têm sido utilizadas. A frase da educadora americana Vickki Katz da Universidade de New Jersey (campus Rutgers, em New Brunswick) resume tudo:

"A noção de que devemos interromper o aprendizado digital para todos porque não temos como alcançar igualmente a todos é a preocupação certa, mas é a solução errada."



O retorno presencial e a vacina
Vários países já pensam no retorno presencial. Alguns que realizam educação à distância, após o pico da pandemia, tentaram voltar ao presencial e recuaram (Coreia e França, por exemplo). Avaliam que os riscos só diminuirão de forma efetiva com a vacina, mas deverão fazer novas tentativas quando houver menos infectados com o vírus e os riscos forem menores. Mas algumas experiências de retorno presencial antes da vacina com uma série de cuidados já começam a acontecer efetivamente na Nova Zelândia.

Essa pesquisa foi feita entre os dias 07 e 09 de junho de 2020.

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