Quarto e atual momento – Reflexão para uma revisão e remodelação da postura metodológica? (2001 - ?)
Frank V. Carvalho
O Novo Construtivismo (eu assim o defino) incorporou (discretamente) elementos do fônico e do tradicional (silábico) para manter a sua força como 'a melhor proposta'. Isso é fácil de perceber. Novos manuais de orientação construtivista, mesmo mantendo as linhas norteadoras das décadas passadas, dão agora mais ênfase à parte fonética, a gramática, trabalham 'famílias silábicas', não evitam as dificuldades ortográficas (mas direcionam o aluno para as mais 'fáceis), sistematizaram procedimentos (que levam a 'rotinas pedagógicas), ensinaram o 'passo a passo' da alfabetização (são as 'estratégias', nunca métodos ou técnicas) e enfatizam a condução do professor no processo de alfabetização. Porquê? Porque buscou reagir face às críticas que estava recebendo. Como assim?
Diante de tudo isso, o Construtivismo se 'reinventou', abandonou velhos dogmas e (sem admitir) incorporou elementos que lhe pareciam estranhos. Mas isso é bom, afinal de contas, o construtivismo foi uma grata criação 'brasileira' na interpretação da contribuição de Emília Ferreiro.
[1] (VIVER MENTE E CÉREBRO.São Paulo, edição especial nº 5, 2005. p.64).
Fonte da Imagem: http://ncoisasparapensar.blogspot.com
Frank V. Carvalho
O Novo Construtivismo (eu assim o defino) incorporou (discretamente) elementos do fônico e do tradicional (silábico) para manter a sua força como 'a melhor proposta'. Isso é fácil de perceber. Novos manuais de orientação construtivista, mesmo mantendo as linhas norteadoras das décadas passadas, dão agora mais ênfase à parte fonética, a gramática, trabalham 'famílias silábicas', não evitam as dificuldades ortográficas (mas direcionam o aluno para as mais 'fáceis), sistematizaram procedimentos (que levam a 'rotinas pedagógicas), ensinaram o 'passo a passo' da alfabetização (são as 'estratégias', nunca métodos ou técnicas) e enfatizam a condução do professor no processo de alfabetização. Porquê? Porque buscou reagir face às críticas que estava recebendo. Como assim?
A partir do início do século XXI, a aplicação do construtivismo na alfabetização começaria a enfrentar novas dificuldade. Chegaram ao Brasil as notícias das modificações que estavam em curso com relação à alfabetização em vários países. Na verdade, essas modificações estavam ocorrendo há mais de uma década e lentamente foram chegando aqui.
Nos Estados Unidos e Inglaterra, diante das dificuldades apresentadas pelos estudantes em testes de leitura e escrita, foram patrocinados estudos para se verificar quais eram os caminhos mais eficientes para a alfabetização. Após anos de pesquisa e estudos consideráveis, chegaram à conclusão de que o método fônico era mais eficiente e eficaz para promover o aprendizado da leitura e da escrita do que todos os outros métodos (incluindo aí o método ideovisual ou global, similar ao modelo construtivista aplicado no Brasil). Com uma atuação mais pragmática, esses países adotaram o método fônico como o modelo oficial.
Mas, boa parte dos teóricos construtivistas brasileiros refutou qualquer comparação daqueles países com o Brasil, utilizando dois argumentos básicos: a cultura e a língua anglo-saxônica são significativamente diferentes da nossa e, no Brasil havia outras várias questões que levavam ao nosso fracasso em alfabetizar.
Porém, progressivamente chegavam as informações de que outros países também realizavam pesquisas para encontrar os caminhos mais eficientes para uma alfabetização de sucesso. Estes países oficialmente abandonaram o modelo global de alfabetização e decidiram por caminhos fônicos ou fonéticos. Países de língua e cultura latina (França e Cuba) estavam entre eles e dessa vez, os defensores do construtivismo não podiam utilizar o argumento das dessemelhanças lingüísticas e culturais para refutar a comparação com a situação brasileira.
Em 2003, a Comissão de Educação da Câmara Federal dos Deputados criou um grupo de trabalho para realizar uma pesquisa e dar uma visão atualizada sobre as teorias e práticas de alfabetização brasileiras. Os resultados apontaram o modelo fônico como solução e apontaram o construtivismo como o principal responsável pelo fracasso brasileiro em alfabetizar.
O resultado da divulgação do relatório desse grupo de estudos foi visto por alguns construtivistas como um trabalho ‘encomendado’ e ‘parcial’, ‘sem neutralidade’ e ‘equivocado’, feito por “defensores do método fônico”, com o “claro objetivo de dasalojar a influência construtivista dos documentos oficiais e de alguma possível estratégia na realidade brasileira”[1]. Felizmente, boa parte dos professores construtivistas que tiveram acesso às pesquisas, não tomou uma posição radical contra as conclusões do relatório, mas a encarou como um ponto de reflexão.
Os resultados dos testes revelaram um problema sério e real.
Se na década de oitenta os dados ruins oriundos das avaliações nacionais eram usados para desqualificar os métodos tradicionais e propagar o construtivismo a um topo discursivo, hoje, será que o temos hoje é o contrário disso?
Os dados obtidos nas avaliações brasileiras vêm sendo usados como fortes argumentos contra o construtivismo, como revela as avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb/2003) em que 55,4% das crianças brasileiras, depois de quatro anos sucessivos de escolarização, são consideradas em situação crítica quando se analisam suas habilidades de leitura e escrita (dessas 18,7% foram classificadas no nível ‘muito crítico’; os 36,7% restantes compõem-se de alunos que ainda não possuem as habilidades exigíveis ao término da 4ª série do ensino fundamental.
Ultimamente, até publicações do Ministério da Educação se renderam às evidências. Embora diversos fatores possam ser apontados como causadores do fracasso escolar das crianças brasileiras, não há como negar a participação dos aspectos metodológicos. O que temos para finalizar essa reflexão é o que foi publicado pelo MEC em 2007:
“Nas últimas três décadas assistiu-se a um abandono da discussão sobre a eficácia de processos e métodos de alfabetização (...)
Nos Estados Unidos e Inglaterra, diante das dificuldades apresentadas pelos estudantes em testes de leitura e escrita, foram patrocinados estudos para se verificar quais eram os caminhos mais eficientes para a alfabetização. Após anos de pesquisa e estudos consideráveis, chegaram à conclusão de que o método fônico era mais eficiente e eficaz para promover o aprendizado da leitura e da escrita do que todos os outros métodos (incluindo aí o método ideovisual ou global, similar ao modelo construtivista aplicado no Brasil). Com uma atuação mais pragmática, esses países adotaram o método fônico como o modelo oficial.
Mas, boa parte dos teóricos construtivistas brasileiros refutou qualquer comparação daqueles países com o Brasil, utilizando dois argumentos básicos: a cultura e a língua anglo-saxônica são significativamente diferentes da nossa e, no Brasil havia outras várias questões que levavam ao nosso fracasso em alfabetizar.
Porém, progressivamente chegavam as informações de que outros países também realizavam pesquisas para encontrar os caminhos mais eficientes para uma alfabetização de sucesso. Estes países oficialmente abandonaram o modelo global de alfabetização e decidiram por caminhos fônicos ou fonéticos. Países de língua e cultura latina (França e Cuba) estavam entre eles e dessa vez, os defensores do construtivismo não podiam utilizar o argumento das dessemelhanças lingüísticas e culturais para refutar a comparação com a situação brasileira.
Em 2003, a Comissão de Educação da Câmara Federal dos Deputados criou um grupo de trabalho para realizar uma pesquisa e dar uma visão atualizada sobre as teorias e práticas de alfabetização brasileiras. Os resultados apontaram o modelo fônico como solução e apontaram o construtivismo como o principal responsável pelo fracasso brasileiro em alfabetizar.
O resultado da divulgação do relatório desse grupo de estudos foi visto por alguns construtivistas como um trabalho ‘encomendado’ e ‘parcial’, ‘sem neutralidade’ e ‘equivocado’, feito por “defensores do método fônico”, com o “claro objetivo de dasalojar a influência construtivista dos documentos oficiais e de alguma possível estratégia na realidade brasileira”[1]. Felizmente, boa parte dos professores construtivistas que tiveram acesso às pesquisas, não tomou uma posição radical contra as conclusões do relatório, mas a encarou como um ponto de reflexão.
Os resultados dos testes revelaram um problema sério e real.
Se na década de oitenta os dados ruins oriundos das avaliações nacionais eram usados para desqualificar os métodos tradicionais e propagar o construtivismo a um topo discursivo, hoje, será que o temos hoje é o contrário disso?
Os dados obtidos nas avaliações brasileiras vêm sendo usados como fortes argumentos contra o construtivismo, como revela as avaliação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb/2003) em que 55,4% das crianças brasileiras, depois de quatro anos sucessivos de escolarização, são consideradas em situação crítica quando se analisam suas habilidades de leitura e escrita (dessas 18,7% foram classificadas no nível ‘muito crítico’; os 36,7% restantes compõem-se de alunos que ainda não possuem as habilidades exigíveis ao término da 4ª série do ensino fundamental.
Ultimamente, até publicações do Ministério da Educação se renderam às evidências. Embora diversos fatores possam ser apontados como causadores do fracasso escolar das crianças brasileiras, não há como negar a participação dos aspectos metodológicos. O que temos para finalizar essa reflexão é o que foi publicado pelo MEC em 2007:
“Nas últimas três décadas assistiu-se a um abandono da discussão sobre a eficácia de processos e métodos de alfabetização (...)
[Nesse tempo] a discussão sobre a psicogênese da língua escrita (...) sistematizada por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985) passou a ocupar lugar central.
Tais mudanças conceituais, traduzidas no ideário “Construtivista”, reverteram a ênfase anterior no método de ensino, para o processo de aprendizagem da criança que se alfabetiza. (...)
Embora tais contribuições tenham se incorporado como conquistas importantes na trajetória da alfabetização escolar, alguns problemas e dilemas se instalaram a partir da excessiva centragem nas dimensões conceituais, em detrimento da sistematização metodológica [método] do ensino desse objeto em construção. (...)
A ênfase na faceta psicológica da alfabetização obscureceu sua faceta lingüística fonética e fonológica, além disso, a ênfase na dimensão do letramento obscureceu a dimensão da alfabetização como processo de aquisição do sistema convencional de uma escrita alfabética e ortográfica. (...)
À luz desses dilemas, como poderia ser encaminhada atualmente, a discussão sobre uma didática da alfabetização? Embora a questão metodológica não possa receber o pesado tributo de responsável exclusiva pelo nosso fracasso em alfabetizar, certamente seu lugar é considerável e necessita ser redimensionado. (...)
A multiplicidade de métodos e sua combinação simultânea em função dos diversos momentos do ensino inicial da leitura e da escrita é, atualmente, uma tendência internacional.” (Ministério da Educação, Prática de Leitura e Escrita, Programa Salto para o Futuro, Brasília, 2006, pags. 31 e 32)
Diante de tudo isso, o Construtivismo se 'reinventou', abandonou velhos dogmas e (sem admitir) incorporou elementos que lhe pareciam estranhos. Mas isso é bom, afinal de contas, o construtivismo foi uma grata criação 'brasileira' na interpretação da contribuição de Emília Ferreiro.
[1] (VIVER MENTE E CÉREBRO.São Paulo, edição especial nº 5, 2005. p.64).
Fonte da Imagem: http://ncoisasparapensar.blogspot.com
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