quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Turmas Heterogêneas versus Turmas Homogêneas: o velho costume de separar "melhores" e "piores"

Assista o vídeo sobre esse tema /assunto no Youtube https://www.youtube.com/watch?v=4U3nTRvz2PM

Turmas Heterogêneas 

... alunos de alta performance (rendimento) acadêmica aprendem mais sozinhos ou trabalhando em grupo?

Uma das grandes motivações ao se adotar um novo modelo de ensino e aprendizagem é a busca do aumento da performance (rendimento) acadêmica. Quando o objetivo é este crescimento do desempenho na aprendizagem, mudar a maneira ou a estratégia sobre o 'como' se trabalham as relações didático-pedagógicas no ensino e na maneira como os estudantes aprendem é interessante  desafio, uma vez que se pretende alcançar esse aumento (do rendimento) através dessa mudança. 
Ao longo dos últimos cinquenta anos, diversos estudos têm comprovado que em modelos de aprendizagem ativa e cooperativa, a performance dos estudantes é aumentada. Contudo, persistiu, e para muitos educadores, estudantes, pais e comunidade, ainda persiste a ideia de que, separar ou classificar os estudantes de acordo com sua performance acadêmica, e aí colocá-los em grupos ou salas homogêneas leva a um maior rendimento estudantil individual ou coletivo. Dessa maneira, permaneceu, e em grande medida ainda permanece, a descrença no efeito positivo de colocar os estudantes de diferentes desempenhos para trabalhar juntos (grupos ou turmas heterogêneas). E, em especial, há também a forte desconfiança de que aqueles alunos de maior performance  sofreriam prejuízo nesse caso, e o ideal é deixá-los trabalhar sozinhos. 
A fim de investigar especificamente essa questão, se estudantes de maior performance são mais produtivos sozinhos ou em grupo, foi realizada uma pesquisa. A ideia era colocar estudantes de alta performance em grupos heterogêneos em relação ao domínio de um tema/disciplina/conteúdo. Com esse propósito, após uma avaliação diagnóstica no começo do período letivo, numa sala/classe os estudantes formaram pequenos grupos de estudos. Em cada grupo, com base na avaliação diagnóstica, foi colocado um estudante de alta performance, outro estudante de média performance e  por fim, um aluno de menor performance naquele conteúdo/disciplina/tema. Ao longo de cinco meses de atividades e estudos foram desenvolvidas atividades cooperativas, onde os estudantes trabalhavam, estudavam e interagiam em grupo na aprendizagem dos conteúdos propostos. Ao longo do período da pesquisa, quantitativa e qualitativamente os conteúdos adquiriam progressão e cumulatividade. Ao final de cada mês houve uma avaliação individual para acompanhar a performance desses estudantes.  Havia também outra sala como um grupo de controle (GC), do mesmo curso, série e disciplina, onde todo o ensino era baseado em atividades individuais. Nenhum tipo de aprendizagem cooperativa acontecia: nada de duplas, pequenos grupos, tarefas coletivas.
Ao acompanhar o progresso e o desenvolvimento do estudantes, os desafios sendo dados,  os pesquisadores tiveram o cuidado para que sempre trabalhassem com avaliações individuais. Ou seja, a aprendizagem ocorria em grupos cooperativos, porém a avaliação era individual. Percebeu-se que havia um aumento da performance dos alunos nas avaliações na medida em que a disciplina ia aumentando em quantidade, progredindo qualitativamente e em complexidade, ou mesmo ficando mais difíceis. Ao final do semestre podiam ser comparadas as duas turmas - a sala com atividades em modelos de cooperação e o grupo controle.
Como será que ocorreu a aprendizagem naquela sala/turma onde o trabalho foi apenas individual, nunca em grupo, nunca coletivo? E na outra, onde ocorreu em grupos cooperativos? Como se saíram os estudantes de alta performance? E os outros? Os dados coletados revelaram aspectos muito interessantes. Os estudantes de alta performance, quando colocados para trabalhar em grupo interagiam com seus colegas: ensinavam a eles, explicavam os conteúdos, tentavam  explicar as etapas na resolução das questões, tiravam dúvidas, e outras interações possíveis nas relações entre colegas. Em diferentes medidas e proporção, o mesmo ocorria com os estudantes de média e menor performance naqueles conteúdos. Isso levou a um aumento do rendimento acadêmico de todos. 
O aumento do rendimento e da aprendizagem acontecia com os estudantes de média performance e proporcionalmente falando, ainda mais com os estudantes que sabiam menos daquele conteúdo, ou que, a princípio tinham mais dificuldade. O interessante é que, ao comparar com o grupo controle (GC), todos se desenvolveram mais nas salas onde havia maior interação. Ou seja, em grupos cooperativos todos cresceram mais do que trabalhando individualmente.
Esse é um estudo que revela que não importa o nível em que o estudante esteja, trabalhar em grupos heterogêneos é sempre mais produtivo e de maior aprendizado.


Referências
JOHNSON, David W. ; JOHNSON, Roger. A Socialização e a crise da busca da realização: está a solução nas experiências cooperativas de aprendizagem? Applied Social Psychology Annual 4 (Bervely Hills, California, Sage Publicantions, 1983) pp. 119-159
­_____________________________________ e SCOTT, Linda. Os Efeitos do Ensino Cooperativo e da Instrução Individualizada sobre os Estudantes – Atitudes e Conquistas Acadêmicas. Journal of Social Psychology 104 :2 (abril de 1978), pp 207-216.
CARVALHO, Frank Viana. Trabalho em Equipe, Aprendizagem Cooperativa e Pedagogia da Cooperação. São Paulo, Editora Scortecci, 2015.
CARVALHO, Frank Viana; ANDRADE NETO, Manoel. Metodologias Ativas: Aprendizagem Cooperativa, PBL e Pedagogia de Projetos. São Paulo: República do Livro.  122 p.  ISBN: 978-85-85248-02-4. 2019.



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