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Turmas Heterogêneas
... alunos de alta performance (rendimento) acadêmica aprendem mais sozinhos ou trabalhando em grupo?
Uma das grandes motivações ao
se adotar um novo modelo de ensino e aprendizagem é a busca do aumento da performance (rendimento) acadêmica. Quando o objetivo é este crescimento do desempenho na aprendizagem, mudar a maneira ou a estratégia sobre o 'como' se trabalham as relações didático-pedagógicas no ensino e na maneira como os estudantes aprendem é interessante desafio, uma vez que se pretende alcançar esse aumento (do rendimento) através
dessa mudança.
Ao
longo dos últimos cinquenta anos, diversos estudos têm comprovado que em modelos de aprendizagem ativa e cooperativa, a performance dos estudantes é aumentada. Contudo, persistiu, e para muitos educadores, estudantes, pais e comunidade, ainda persiste a ideia de que, separar ou classificar os estudantes de acordo com sua performance acadêmica, e aí colocá-los em grupos ou salas homogêneas leva a um maior rendimento estudantil individual ou coletivo. Dessa maneira, permaneceu, e em grande medida ainda permanece, a descrença no efeito positivo de colocar os estudantes de diferentes desempenhos para trabalhar juntos (grupos ou turmas heterogêneas). E, em especial, há também a forte desconfiança de que aqueles alunos de maior performance sofreriam prejuízo nesse caso, e o ideal é deixá-los trabalhar sozinhos.
A
fim de investigar especificamente essa questão, se estudantes de maior performance são mais produtivos sozinhos ou em grupo, foi realizada uma pesquisa. A ideia era colocar estudantes
de alta performance em grupos heterogêneos em relação ao domínio de um tema/disciplina/conteúdo. Com esse propósito, após uma avaliação diagnóstica no começo do período letivo, numa sala/classe os estudantes formaram pequenos grupos de estudos. Em cada grupo, com base na avaliação diagnóstica, foi colocado um
estudante de alta performance, outro estudante de média
performance e por fim, um aluno de menor performance naquele conteúdo/disciplina/tema. Ao longo de cinco meses de atividades e estudos foram
desenvolvidas atividades cooperativas, onde os estudantes trabalhavam, estudavam e interagiam em grupo na aprendizagem dos conteúdos propostos. Ao longo do período da pesquisa, quantitativa e qualitativamente os conteúdos adquiriam progressão e cumulatividade. Ao final de cada mês houve uma avaliação individual para acompanhar
a performance desses estudantes. Havia também outra sala como um grupo de controle
(GC), do mesmo curso, série e disciplina, onde todo o ensino era baseado em atividades individuais. Nenhum tipo de aprendizagem
cooperativa acontecia: nada de duplas, pequenos grupos, tarefas coletivas.
Ao
acompanhar o progresso e o desenvolvimento do estudantes, os desafios sendo dados, os pesquisadores tiveram o cuidado para que sempre trabalhassem com avaliações individuais. Ou seja, a aprendizagem ocorria em
grupos cooperativos, porém a avaliação era individual. Percebeu-se que havia um
aumento da performance dos alunos nas avaliações na medida em que a disciplina
ia aumentando em quantidade, progredindo qualitativamente e em complexidade, ou mesmo ficando mais difíceis. Ao final do semestre podiam ser comparadas as duas
turmas - a sala com atividades em modelos de cooperação e o grupo controle.
Como
será que ocorreu a aprendizagem naquela sala/turma onde o trabalho foi apenas individual, nunca em grupo,
nunca coletivo? E na outra, onde ocorreu em grupos cooperativos? Como se saíram os
estudantes de alta performance? E os outros? Os dados coletados revelaram aspectos muito
interessantes. Os estudantes de alta performance, quando colocados para trabalhar em grupo interagiam com seus colegas: ensinavam a eles, explicavam os conteúdos, tentavam explicar as etapas na resolução das questões, tiravam dúvidas, e outras interações possíveis nas relações entre colegas. Em diferentes medidas e proporção, o mesmo ocorria com os estudantes de média e menor performance naqueles conteúdos. Isso levou a um aumento do rendimento acadêmico de todos.
O aumento do rendimento e da aprendizagem acontecia com os estudantes de média performance e proporcionalmente falando, ainda mais com os estudantes que sabiam menos daquele conteúdo, ou que, a princípio tinham mais dificuldade. O interessante é que, ao comparar com o grupo controle (GC), todos se desenvolveram mais nas salas onde havia maior interação. Ou seja, em grupos cooperativos todos cresceram mais do que trabalhando individualmente.
O aumento do rendimento e da aprendizagem acontecia com os estudantes de média performance e proporcionalmente falando, ainda mais com os estudantes que sabiam menos daquele conteúdo, ou que, a princípio tinham mais dificuldade. O interessante é que, ao comparar com o grupo controle (GC), todos se desenvolveram mais nas salas onde havia maior interação. Ou seja, em grupos cooperativos todos cresceram mais do que trabalhando individualmente.
Esse
é um estudo que revela que não importa o nível em que o estudante esteja, trabalhar
em grupos heterogêneos é sempre mais produtivo e de maior aprendizado.
Referências
JOHNSON, David W. ; JOHNSON, Roger. A Socialização e a crise da busca da
realização: está a solução nas experiências cooperativas de aprendizagem? Applied Social Psychology Annual 4 (Bervely Hills,
California, Sage Publicantions, 1983) pp. 119-159
_____________________________________
e SCOTT, Linda. Os Efeitos do Ensino Cooperativo e da Instrução Individualizada
sobre os Estudantes – Atitudes e Conquistas Acadêmicas. Journal of Social
Psychology 104 :2 (abril de 1978), pp 207-216.
CARVALHO,
Frank Viana. Trabalho em Equipe,
Aprendizagem Cooperativa e Pedagogia da Cooperação. São Paulo, Editora
Scortecci, 2015.
CARVALHO,
Frank Viana; ANDRADE NETO, Manoel. Metodologias
Ativas: Aprendizagem Cooperativa, PBL e Pedagogia de Projetos. São Paulo:
República do Livro. 122 p. ISBN: 978-85-85248-02-4. 2019.
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