“... Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis,
E terra magnum alterius spectare laborem.” [1]
F. V. Carvalho
Ao citar Lucrécio, Montaigne tenta desvendar a alma ao revelar os mais íntimos sentimentos humanos. “Nosso edifício público e privado é cheio de imperfeição.”
Ao que parece, uma justificativa para o comportamento humano, mas sua análise não é superficial, pois para Montaigne, é isso mesmo que somos – contraditórios, cheios de imperfeições e qualidades doentias. É como se a virtude se esforçasse para vir à tona - mas ele acredita que isso tem o seu lugar e utilidade no funcionamento de nosso ser. E se fosse possível tirar de nós estes “defeitos", deixaríamos de ser humanos, perderíamos “as condições fundamentais de nossa vida”.
Saindo do privado e dirigindo-se à vida pública, ele parece criar uma justificativa para o comportamento da classe política: “nela os vícios tem seu lugar.”
Montaigne gosta de citar Cícero, que colocava que só é útil o que é honesto e, que “a utilidade nunca deve lutar com a honestidade” (Cícero, III, 347). Mas em alguns trechos de seus Essays (Ensaios) ele parece ser mais maquiaveliano, pois acredita que a utilidade da execução do cargo público pede um comportamento contraditório das lideranças: “o bem público requer que se traia, que se minta e que se massacre.” Maquiavel já afirmava que “a condição humana é tal que não permite a posse de boas qualidades, nem a sua prática consistente.” (Maquiavel, O Príncipe, 100).
No entanto, Montaigne acha que este papel – o de exercer as “obrigações necessárias, mas também viciosas” é um papel para os cidadãos mais vigorosos e corajosos. Para os mais “fracos” ficam os outros papéis. No entanto, ele se inclui entre os mais fracos, dando a entender, claramente, que não era para ele aquele comportamento do setor político e público.
[1]Trecho do Poema Rerum Natura de Titus Lucretius Carus (ou Tito Lucrécio Caro, na forma portuguesa), poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C.
Amigos, caso queiram mergulhar um pouco mais fundo no pensamento de Montaigne, leiam o artigo que escrevi “Do útil e do honesto – o apego de Montaigne às virtudes”, no seguinte endereço: http://novafilosofia.blogspot/.
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