segunda-feira, 2 de junho de 2008

Montaigne - Do útil e do Honesto (2005)

Montaigne e seu apego à virtude
F.V. Carvalho

Resumo

A fraqueza e o zelo se confundem nas declarações de Montaigne, procurando evidenciar um pouco da natureza humana ao revelar-se a si mesmo através deste fabuloso ensaio. Ponteado de colocações ciceronianas, ora maquiavelianas, ele inicia uma discussão que tem como pano de fundo a sua própria experiência na vida pública, que consistia, mais das vezes, em viver uma não verdade diante de todos, do que a autenticidade que ele tanto buscava.

Abstract

The zeal and weakness in the declarations of Montaigne, looking a little evidence of human nature to prove to be yourself through this fabulous test. Marked of ciceronians standings, sometimes maquiavelians, he starts a discussion that has like backdrop its own experience in public life, which was, more often, live in a no truth in front of everyone, the authenticity of what they both sought. Their imperfections often could compress and force him to seek the answers, that he does not always reached.


“Ninguém está isento de dizer tolices. O infortúnio está em dizê-las compenetradamente”.

A fraqueza e o zelo se confundem nas declarações de Montaigne, procurando evidenciar um pouco da natureza humana ao revelar-se a si mesmo através deste fabuloso ensaio. Ponteado de colocações ciceronianas, ora maquiavelianas, ele inicia uma discussão que tem como pano de fundo a sua própria experiência na vida pública, que consistia, mais das vezes, em viver uma não verdade diante de todos, do que a autenticidade que ele tanto buscava. Suas imperfeições muitas vezes o comprimiam e o forçavam a buscar as respostas, que nem sempre ele alcançava.
Dizer o que se pensa à sua hora e depois tergiversar, mudar, ainda que seja o tom, não significa necessariamente trair-se e colocar a vontade sob a submissão de um interesse transitório e temporal. Também não é tirar proveito daquilo que é útil e não nega a sua superioridade. Esta liberdade, não tão uniforme, contradiz a lógica dos que se mantém, porque preferem o honesto ao útil. Talvez a cumplicidade seria maior na busca de um comportamento que não condissesse com nossos desejos íntimos.
Montaigne se mostra zeloso por suas virtudes, mas não nega que os vícios também disciplinam a manifestação da bondade e a equilibram.

“... As minhas me escapam tão despreocupadamente[1] quanto merecem.”

O termo nonchallamment será um termo chave. A sua nonchallance ainda não encontrou a sua melhor tradução na interpretação moderna. Ela vai se contrapor a curiosement[2], formando um campo de idéias adjacentes ao tema principal. Sua citação de Terêncio mostra que ele examinava as obras antigas em busca de respostas que pareciam não estar disponíveis em autores da sua época. Por outro lado, sua admiração por La Boétie e suas colocações maquiavelianas demonstram que ele buscava um meio termo entre o estoicismo de Cícero e o rigor de Maquiavel.

“... Tibério a recusou, estando em tão grande causa ...”

Na discussão do tema principal “Do útil e do honesto”, ele principia pelo exemplo da história romana - de Tibério e sua atitude para com o seu inimigo Armínio. A utilização de um exemplo tão contraditório, pois ele mesmo concorda que Tibério era um salafrário, para designar a escolha do honesto ao invés do útil (“deixou o útil pelo honesto”), vem reforçar suas palavras seguintes: “nosso edifício público e privado é cheio de imperfeição.”
Ao que parece uma justificativa para o comportamento humano, mas sua análise não é superficial, pois ele tenta descobrir o íntimo dos sentimentos humanos ao incluir Lucrécio:

“... Suave, mari magno, turbantibus aequora ventis,
E terra magnum alterius spectare laborem.”[3]

O que se mostra, para Montaigne, é que somos isso mesmo – contraditórios. Cheios de imperfeições e qualidades doentias. Como se a virtude se esforçasse para vir à tona. Mas ele acredita que isto tem o seu lugar e utilidade no funcionamento de nosso ser. E se fosse possível tirar de nós estes “defeitos", deixaríamos de ser humanos, perderíamos “as condições fundamentais de nossa vida”.
Saindo do privado e dirigindo-se à vida pública, ele parece criar uma justificativa para o comportamento da classe política: “nela os vícios tem seu lugar.”
Se Cícero, que colocava que só é útil o que é honesto e que “a utilidade nunca deve lutar com a honestidade” (Cícero, III, 347), neste trecho ele parece ser mais maquiaveliano, pois acredita que a utilidade da execução do cargo público pede este comportamento das lideranças: “o bem público requer que se traia, que se minta e que se massacre.” Maquiavel afirma que “a condição humana é tal que não permite a posse delas (boas qualidades), nem a sua prática consistente.” (Maquiavel, 100).
No entanto, ele acha que este papel – o de exercer as “obrigações necessárias, mas também viciosas”[4] é um papel para os cidadãos mais vigorosos e corajosos. Para os mais “fracos”[5] ficam os outros papéis. No entanto, ele se inclui entre os mais fracos, dando a entender, claramente, que não era para ele aquele comportamento do setor político e público.

“... senti desgosto vendo juízes induzirem, por fraude e falsas esperanças de favor ou de perdão, o criminoso ...”

Para Montaigne, este tipo de comportamento, só é útil à justiça. É ”uma justiça maldosa”[6] mas não é apropriada a ele. Embora ele ache alguns males necessários ao funcionamento do edifício humano, ele busca se caracterizar particularmente – “e não apenas odeio enganar, mas odeio que se enganem sobre mim.”[7]

“... eu me apresento com minhas opiniões mais vivas, e de minha forma mais própria.”

Falando de suas negociações com os príncipes, ele afirma que se apresenta como de fato é, com ingenuidade[8] e liberdade[9]. Este seu proceder o livraria de suspeitas e com isso, seu crédito, já nos primeiros contatos seria obtido. O contrário se passaria com seus interlocutores, que se mantinham encobertos, apresentando-se e fazendo-se mais moderados e chegados tanto quanto fosse possível.
Na sua colocação – “não pretendo outro fruto ao agir do que o agir, e não vinculo a ele longas cadeias de intenções. Cada ação faz particularmente seu jogo: acerte, se puder”[10] – vemos sua naturalidade de buscar em cada ato um resultado para aquele único momento. A trama de ações e de intenções não fazia parte do seu proceder. Parecia agir e pensar no momento ou tendo apenas uma coisa em vista e não um desencadeamento de ações e conseqüências.
Porém, parecia justificar-se para revelar seu verdadeiro sentimento para com os príncipes. Seu sentimento por eles não era mais nem menos do o que deveria sentir. Não havia interesses por detrás. Como estava seguro do que dizia e não tinha comprometimentos que o pudessem prejudicar poderia falar e se sentir seguro – “todas as intenções legítimas e eqüitativas são por si mesmas equânimes e temperadas, caso contrário alteram-se em sediciosas e ilegítimas. É isto que me faz andar por toda parte com a cabeça erguida, com o rosto e o coração abertos.”[11]

“... Em verdade, e não temo confessar, levaria facilmente, se fosse preciso, uma vela para São Miguel e outra para seu dragão ...”

A contradição humana é levada ao extremo por Montaigne. É como se dissesse: permitam-me ser eu mesmo o tempo todo; e se sou contraditório, que eu seja assim também. Ora, aqui ele se revela pela utilidade – e se ela o levar à ruína, ou se ele sair perdendo com isso, que assim seja. Não está repleta a história de exemplos semelhantes?
Contudo, ele vê que esta posição é mais fácil para homens privados. Como poderia o político esperar a definição para depois tomar a decisão. Parece de fato muito mais difícil. Com propriedade ele cita Tito Lívio para justificar o seu comentário:

“... Ea non media, sed nulla via est, velut evcentum expectantium quo fortunae consilia sua applicent”[12]

Para Montaigne, seria uma espécie de traição ter este procedimento na vida privada. É necessário nestes casos tomar partido. Vejamos, aqui ele se mostra pela honestidade, ou seja, não seria honesto não tomar partido. Parece estoico, pois vemos aproximar-se de Cícero “”o honesto que conseguimos entender deve ser tão protegido e conservado por nós, quanto aquilo que própria e verdadeiramente se diz honesto deve ser conservado pelos sábios.” (Cícero, III, 350)
Daí, ele volta ao público e diz que isto convém a eles, embora faça questão de frisar que esta justificativa não serve para ele. Ficar em cima do muro, usual para nós hoje, parece que é exatamente isto que não pode acontecer com a classe política, a não ser em caso de política estrangeira. Porem, a prontidão na resposta pode levar a “querelas desproporcionais”. Este procedimento apenas revela o lado humano no comportamento de quem detém o poder: “não é a causa que os acalora, é se [próprio] interesse: atiçam a guerra não porque é justa, mas porque é guerra.”[13]
E para os que são da vida privada, nada os impede de poderem se portar, tanto diante de um como do outro, com lealdade e comodamente. É como “deslizar por águas turvas sem nelas querer pescar.”[14]
Um comportamento diferente deste seria arriscado. Pois aqueles que levam e trazem, oferecendo-se ao serviço de um, em detrimento e traição de outro é tido por mau também da parte daquele que recebe o favor. Quem se beneficia deste procedimento (dos homens dúplices) são os que recebem a informação – guardam-se para que aquele leve o menos possível.
Já para Montaigne, ele não vê motivação ou utilidade que o possa levar a mentir a um ou a outro. “Sempre soube mais da parte deles do que quis. Um falar aberto abre outro falar e o traz para fora, como fazem vinho e amor.”[15]
E para justificar o seu comportamento diante dos príncipes, ele cita Filípides, na sua resposta ao rei Lisímaco, que lhe perguntava:
“... Que queres que te comunique de meus bens? O que quiseres, contanto que não sejam teus segredos.”[16]

Mas ainda assim, buscando a honestidade no proceder, conforme vimos claramente nesta situação, Montaigne confessa que se deve “servir de instrumento de engodo, que ao menos esteja preservada a ...(sua) consciência.”[17]
Mas ele sabe e comenta daqueles que não aceitam este tipo de serviço. Ou seja, um serviço limitado, preso às necessidade de apaziguar uma consciência. Pessoalmente Montaigne não vê remédio. Em meio a esta turbulência de contradições não seria possível trair uma única coisa: a sua consciência – “escravo não devo ser senão da razão”; e completa para que nós, seus leitores possamos coadunar com suas colocações iniciais “e nem isso consigo muito bem.”[18] É interessante perceber, que as aparentes contradições sempre encontram um proceder lógico, seja no âmbito da consciência, seja no campo das ações:

“... as vontades e os desejos fazem suas próprias leis; as ações tem que as receber da ordenação pública.”[19]

Para Montaigne, existiam caminhos “menos contraditórios” ao seu gosto e “mais conformes” à sua capacidade. Tudo isso para justificar que não eram do seu feitio as ocupações públicas, das quais ele acha que se retirou em boa hora. Para ele, não dá para participar deste “negociar”, sem dissimulação e mentira. Sua revelação é surpreendente: “nelas [ocupações públicas] me mergulharam até as orelhas, e com sucesso.”
Porém, sua busca da honestidade, que até aqui se mostra presa à sua consciência e à sua vontade parece ceder a utilidade quando ele afirma que: “se ela [a fortuna] me houvesse chamado outrora para o serviço público e para meu ganho de crédito no mundo, sei que eu passaria sobre a razão de meus discursos para seguí-la.”[20] É como se dissesse – cada homem tem o seu preço, a despeito de sua consciência.

“... Aqueles que dizem comumente contra o que professo, que isto a que chamo franqueza, simplicidade e espontaneidade em meus costumes, é arte e finura: antes prudência que bondade, indústria que natureza, bom senso, que boa sorte, conferem-me mais honra do que tiram.”

Parece falar aos seus críticos, talvez aqueles que o desmereceram por ele abandonar a vida pública, por não achar que ela era para ele e também parece falar para si mesmo, como se justificasse o seu proceder e quisesse explicá-lo. Para quem o olhasse com atenção, perceberia, que nas rotas tortuosas da sua aparente contradição existe um movimento natural, mas que não pode ser delimitado a uma regra.

“... O que se assenta melhor a alguém é o que lhe é mais natural.” (Id maxime quemque decet quod est cujusque suum maxime) (Cícero, I, 31)

Suas ias e vindas ao público e privado mostram quão diferentes eles as via como modelo de ação e consciência. Parecia acreditar firmemente que o engodo [engano] tem o seu lugar. Na sua compreensão do mundo ele até afirma que “há vícios legítimos, como muitas ações, boas ou justificáveis, ilegítimas.”[21]

Mais uma vez, suas referências a Cícero são uma busca de mostrar um caminho de honestidade e da sujeição da utilidade à honestidade. Pois para ele, a justiça em si, natural e universal (uma referência indireta ao direito natural), tem “regras diversas e mais nobres do que a justiça especial, nacional, condicionada à necessidade das comunidades políticas.”[22]

“... Não temos modelo sólido e exato do direito verdadeiro e da justiça perfeita; dispomos apenas de uma sombra e de uma imagem.” (Veri juris germanaeque justiciae solidam et expressam effigeam nullam tenemus; umbra et imaginibus utimur) (Cícero, III, 17)

E citando o exemplo de Diógenes, mostra que o estabelecimento do estado e do seu tipo próprio de justiça e de lei faz estabelecer por permissão e por persuasão muitas ações viciosas, as quais, apenas o direito de estado as justifica:

“... Há crimes instigados pelos senatus-consultos e plebiscitos” (Ex senatusconsultis plebisquescitis sclera exercentur) (Sêneca, Epístolas, XCV)

Neste ponto ele afirma que segue a linguagem comum, que faz diferenciação entre o útil e o honesto. Poderia ser diferente, já que ele apenas parcialmente parece concordar com Cícero? Em Montaigne, não parece a utilidade sujeitar-se à honestidade como vemos em Cícero: “não é lícito que o que é verdadeiramente honesto seja comparado a uma utilidade que se lhe opõe.” (Cícero, III, 350)
Ainda da traição, ele se detém no exemplo dos pretendentes ao reino da Trácia. O traidor, que matou seu oponente, foi igualmente traído por outro traidor, a mando do estado romano. Justiça foi feita, mas com traição. A utilidade (necessidade de cumprimento da justiça romana) subjugou a honestidade (traição de alguém).
Assim, ele mostra que este tipo de ação não é para ele, como anteriormente ele já havia dito e reafirmado. Por opção e por escolha, ele manifesta repetidas vezes sua intenção de seguir a sua consciência e a sua vontade. E se fosse convidado reagiria como os lacedemônios: “podeis nos incumbir de tarefas pesadas e penosas, tanto quanto vos agradar, mas vergonhosas e desonestas, perdereis vosso tempo em nos dar.” [23](sujeição da utilidade à honestidade). Sua defesa é a história, os exemplos lhe caem tão bem, que parece argumentar em função deles. Porém, sua consciência indica o caminho e este é o de realizar a sua vontade. Ele também se esconde na proteção que o seu comportamento lhe trará – aquele que contrata o traidor também o trairá. Montaigne vê uma justificativa para a perfídia: “quando se emprega em punir e trair a [própria] perfídia.”[24] As histórias de Jarolpec[25] e do seu remorso depois de empregar o engano, a de Antígono ao persuadir outros a trair Êumenes, a do escravo que delatou Sulpício, o de Maomé II que mandou um oficial matar o próprio irmão e a do rei francês Clóvia que induziu três servos a traírem Canacre, mostram as conseqüências para quem serviu de instrumento de traição.
Para Michel de Montaigne, mesmo para aqueles que “nada valem”, após tirarem proveito de sua falta de caráter ao promover ações tão viciosas, realizar algo que tenha algum traço de justiça, lhes serve como tentativa de aplacar a consciência. Isto sem contar que conseguem o silêncio do instrumento de tal malefício.
Assim, se torna mais execrável, aquele que se subordina ao cumprimento de tal ação.

“... Além da vileza de tais incumbências, há a prostituição da consciência.”

Esta busca da utilização da utilidade para o cumprimento da vontade soberana do estado encontra nos “homens perdidos” o instrumento ideal para a execução daquela que pode ser considerada “tarefa tão útil quanto pouco honesta.”[26] Embora, às vezes, Montaigne permita que a utilidade tome o seu curso, ele não deixa de caracterizar a vileza dos atos e a falta de honestidade presente neles. Para ele, a lei “é escrava do interesse público”[27], e entenda-se público, por aqueles que governam.
Os exemplos seqüenciais são pesados e difíceis, dada a sua natureza, mas a citação deles por Montaigne, demonstra que ele queria levar o assunto com profundidade: é o caso da filha de Sejano (violentada antes de ser morta, porque uma virgem não poderia sofrer a pena) (Tácito, Anais, V, 9-10), do rei Amurat I (que “ordenou” um parricídio para punir o parricídio que ele sofrera), dos infelizes que enforcavam os seus amigos para garantir a própria vida). São exemplos extremos e que mostram como a utilidade se põe a serviço do poder para a execução da sua vontade.

“... Mas que evite procurar pretexto para o seu perjúrio.” (sed videat ne quaeratur latebra perjurio) (Cícero, III, 29)

O príncipe, para Montaigne, tem defesa de suas ações, podendo excusar-se de seus erros afirmando que deixou de realizar o seu dever por razões superiores. Vício, certamente não, é o infortúnio. Mas se ele de fato foi pressionado (ou por uma circunstância urgente ou por um acidente relativo à exigência de estado), era mister fazê-lo. Mas se o fez sem sofrer (sem pesar, não lhe custou), é sinal de que sua consciência está em mau estado.
Aqui vemos a ênfase que permeia todo o texto – a preocupação de Montaigne para que o homem se mantenha fiel aos preceitos de sua consciência. Inclusive o príncipe. Mas mesmo aquele que titubeia, não receberia menos apreço por parte de Montaigne.

“... Nós não podemos tudo.”

Em casos extremos, para ele “é preciso freqüentemente, como a última âncora, confiar a proteção de nossa nau à condução do céu.”[28] Ou seja, a fé é o último recurso face a coisas e atitudes que colocam em risco “a sua própria salvação.”[29] E se assim agir, seguindo com serenidade e convicção os ditames da consciência, não deveria esta pessoa esperar que o Onipotente interceda e tenha misericórdia?

“... São exemplos perigosos, exceções raras e malsãs às nossas regras naturais. É preciso ceder, mas com grande moderação e circunspecção.”

O trabalho de Montaigne ao trazer-nos todos estes exemplos é colocar-nos face a nossa vulnerabilidade diante destes casos extremos. Somos traídos por nossa consciência ao fazermos avaliações e julgamentos com muita facilidade. Colocar a utilidade acima da honestidade resulta tão perigoso quanto ignorá-la no serviço público. A “moderação e circunspecção”[30] é que devem orientar as ações fruto da reflexão da consciência e decisões da vontade.
Os exemplos anteriormente aplicados por Montaigne mostraram o fim dos executores da traição. Mas na história de Timoleão, ele mostra um caso diferente. A oportunidade que Timoleão teve de resgatar a sua justificação foi enfrentando dificuldades e asperezas, as quais ele tinha que vencer, pois do contrário sua sentença era certa.
Mas o exemplo do senado romano (poder público), que com o pretexto de aumentar a sua receita muda o seu veredicto em relação a uma sentença anteriormente dada, indigna Montaigne, que fala: “horrível imagem de justiça!”[31] E “punimos os privados [homens] por terem acreditado em nós.”[32] É o estado a sobrepor-se ao homem e esmagando os seus direitos (naturais) sob a razão (soberana) do estado.
A revelação máxima, a meu ver, da consciência de Montaigne empurrando-o para o cumprimento do dever (honestidade) é o exemplo dos ladrões que o prendem e só o libertam sob o juramento de que ele pagará o resgate:

“... Enganamo-nos ao dizer que um homem de bem estará desobrigado de sua palavra sem pagar, quando estiver livre de suas mãos. De modo algum.”


[1] Nonchallamment – Tambem traduzido por: desacaloradamente, tranquilamente, serenamente
[2] Curiesement – Tradução: compenetradamente, com cuidado; cuidadoso; forjado, fingido.
[3] “É doce, quando sobre o vasto mar os ventos agitam as águas, assistir da margem ao sofrimento de outro”
[4] Essays, 79
[5] Idem
[6] 79
[7] 79
[8] Naifveté – Tradução: candura (Sérgio Malta); franqueza (Sérgio Milliet)
[9] Liberdade no falar
[10] 81
[11] 81
[12] “Isso não é tomar o caminho do meio, mas sim, tomar nenhum caminho. É esperar o acontecimento para colocar-se ao lado da fortuna.” Tito Lívio, XXXII, 21.
[13] 84
[14] 84
[15] 84
[16] 85 (Conforme Plutarco – Da Curiosidade, IV)
[17] 85
[18] 85
[19] 85
[20] 86
[21] 87
[22] 87
[23] 89
[24] 89
[25] 90
[26] 92
[27] 92
[28] 93
[29] 93
[30] 93
[31] 95
[32] 95
Fonte da Imagem: (hua.umf.maine.edu)

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