F. V. Carvalho
Resumo
A educação moderna está marcada pela excessiva atividade no campo da inovação e experimentação educacional, mas a maioria não foi adequadamente avaliada em termos de propósito, objetivos e necessidades atuais.
A educação moderna está marcada pela excessiva atividade no campo da inovação e experimentação educacional, mas a maioria não foi adequadamente avaliada em termos de propósito, objetivos e necessidades atuais.
Substract
The modern education is marked by excessive activity in the field of educational innovation and experimentation, but most have not been adequately evaluated in terms of purpose, goals and current needs.
Charles Silberman observou que a educação “tem sofrido há muito tempo por haverem excessivas respostas e poucas perguntas”[1].
Neil Postman e Charles Weingartner demonstraram que a negligência na educação é o resultado natural em uma sociedade que tradicionalmente tem se importado com o “como” ao invés do “porquê” da vida moderna.
O mundo moderno tem feito um uso progressivo e incansável da capacidade científica e tecnológica por mais de um século. Em todos os setores (indústria, comércio, transportes, comunicação, saúde, higiene, educação e defesa) o progresso no campo técnico e científico é impressionante.
No entanto, as pessoas em geral, e mesmo os cientistas e pesquisadores raramente têm se questionado a respeito desses avanços: se os mesmos foram necessários; se deveriam tê-los; se o benefício que trazem cobra um preço muito elevado.
De certa forma o mesmo tem ocorrido na educação. Falando sobre a educação americana, Postman e Weingartner criticam o que ocorre nas escolas em sua busca por novos métodos e estratégias de forma incansável: a preocupação em criar novas técnicas para o ditado, novos métodos para ensinar aritmética para crianças de dois anos de idade, novas maneiras para manter silenciosos os corredores da escola e seguramente, novos procedimentos para medir a inteligência[2].
Os educadores têm se envolvido tanto na criação e implementação de novas metodologias que raramente têm questionado o valor e a importância de se ensinar matemática a uma criança de dois anos de idade.
No Brasil, como afirma Paulo Ghiraldelli[3], “todo ano tem um novo governo, com uma nova proposta e uma nova capacitação. Os governos irritam os professores com a mania de achar que a cada ano eles precisam ter uma nova teoria pedagógica. Os governos se envolvem nisso, mas, quando saem, não avaliam para saber se isso deu resultado na sala de aula. O sistema de avaliação não é adequado ao que se propõe como capacitação. Ele só olha para baixo, para os avaliados. Não olha para cima, para os pressupostos que geram a capacitação”.
“Por que toda esta educação? Com que propósito? Para quê?” Estas são três das mais importantes perguntas a serem encaradas.
A grande maioria dos educadores tem se preocupado mais com a ação do que com o progresso, mais com os meios do que com os fins. São incapazes de avaliar as principais questões sobre o propósito.
E a capacitação e treinamento profissional dos educadores, com ênfase na metodologia, raramente habilita-os para a solução deste problema.
Lawrence Cremin abordou o assunto com propriedade quando observou que poucos líderes educacionais estão genuinamente preocupados com os assuntos educacionais porque eles não possuem idéias claras sobre o significado da educação. O foco excessivo nos métodos, a preocupação com os meios em detrimento dos fins, e a ênfase nas questões políticas e equilíbrio orçamentário têm incapacitado estes líderes para o grande diálogo e público sobre a finalidade e o propósito da educação.
Há uma forte necessidade de preparação de nova linhagem de profissionais educadores que sejam capazes de focalizar o “pensamento no propósito” e de “pensar sobre o que estão fazendo e por que estão fazendo”[4].
A missão da filosofia educacional é colocar futuros professores, diretores, supervisores e especialistas educacionais em contato direto com as amplas questões relativas ao sentido e ao propósito da vida e da educação.
Devem ser temais reais de debates e aprofundamentos: a natureza e o sentido da realidade e do conhecimento, a estrutura dos valores e finalmente, a busca de soluções (em bases duradouras) para os problemas que afligem a humanidade.
A filosofia educacional deve fazer com que os futuros educadores possam, de maneira inteligente:
a) avaliar propósitos de longo alcance e fins alternativos, b) relacionar seus objetivos aos fins almejados e c) selecionar estratégias pedagógicas que se harmonizem com seus objetivos.
Em suma, o estudo da filosofia educacional é (1) ajudar os educadores a se familiarizarem com os problemas básicos da educação, (2) encorajá-los a avaliar melhor a grande variedade de sugestões oferecidas como solução para estes problemas, (3) auxiliar na clarificação do raciocínio no que tange aos objetivos da vida e da educação, e (4) guiá-los no desenvolvimento de um ponto de vista pessoal e de uma cosmovisão mais ampla.
O que é educação?
O que é educação? É o mesmo que escolaridade? É o completar um determinado curso acadêmico? É um conjunto de comportamentos e atitudes socialmente aceitáveis? Refere-se somente à educação escolar? É tudo o que a vida nos ensina? São nossas aprendizagens?
E o que é aprendizagem? Difícil chegar a um consenso sobre a sua definição, mas seu conceito moderno afirma que ela é “um processo que produz a capacidade de apresentar um novo comportamento ou conceito”. A aprendizagem não se limita ao processo educacional, mas está diretamente ligada ao termo “educação”. A educação vista a partir dessa perspectiva, não se limita ao processo escolar ou ao currículo tradicional, ou ainda às metodologias das escolas. A educação, como a aprendizagem, é um processo que dura toda uma vida e que pode ocorrer numa infinita variedade de circunstâncias e contextos.
Por outro lado, a educação escolar é distinta do conceito geral de aprendizagem, no sentido em que personifica a idéia de controle deliberado pelo aprendiz ou por alguém que visa a um objetivo desejado. A educação pode ser compreendida como uma aprendizagem direcionada ou direta, com vista a propósitos muito específicos.
Às vezes confunde-se educação com “treinamento” ou a capacitação direcionada. O conceito de treinamento pode ser diferenciado do conceito de educação baseado no desenvolvimento da compreensão. A compreensão cresce quando alguém é levado a pensar reflexivamente sobre as relações de causa e efeito em vez de apenas responder a um conjunto de estímulos. Deve-se notar, entretanto, que a educação pode por vezes incluir alguns aspectos do treinamento, uma vez que treinamento é um subconjunto da educação, como uma atitude deliberada no sentido de se aperfeiçoar uma prática.
E o educador?
Vamos nos ater ao papel do professor enquanto educador e tentar defini-lo. Professor é aquele que lidera ou conduz os alunos no processo da aprendizagem. Professor é o facilitador da aprendizagem. Professor é aquele que ensina aos seus alunos de tal maneira que eles podem depois aprender sozinhos. Professor é um “difusor” de conhecimentos que ensina e aprende com seus alunos. Essas são algumas das muitas definições do papel do educador enquanto professor.
[1] SILBERMAN, Charles. Crisis in the Classroom. New York, p. 11.
[2] POSTMAN, Neil e WEIGARTNER, Charles, The School Book. New York, p. 295-297.
[3] Filósofo, doutor em filosofia pela USP, e em filosofia da educação pela PUC-SP. Em entrevista com Sérgio Rizzo em 05/04/06 na Folha Online.
[4] CREMIN, The Genius of American Education, p. 112.
Charles Silberman observou que a educação “tem sofrido há muito tempo por haverem excessivas respostas e poucas perguntas”[1].
Neil Postman e Charles Weingartner demonstraram que a negligência na educação é o resultado natural em uma sociedade que tradicionalmente tem se importado com o “como” ao invés do “porquê” da vida moderna.
O mundo moderno tem feito um uso progressivo e incansável da capacidade científica e tecnológica por mais de um século. Em todos os setores (indústria, comércio, transportes, comunicação, saúde, higiene, educação e defesa) o progresso no campo técnico e científico é impressionante.
No entanto, as pessoas em geral, e mesmo os cientistas e pesquisadores raramente têm se questionado a respeito desses avanços: se os mesmos foram necessários; se deveriam tê-los; se o benefício que trazem cobra um preço muito elevado.
De certa forma o mesmo tem ocorrido na educação. Falando sobre a educação americana, Postman e Weingartner criticam o que ocorre nas escolas em sua busca por novos métodos e estratégias de forma incansável: a preocupação em criar novas técnicas para o ditado, novos métodos para ensinar aritmética para crianças de dois anos de idade, novas maneiras para manter silenciosos os corredores da escola e seguramente, novos procedimentos para medir a inteligência[2].
Os educadores têm se envolvido tanto na criação e implementação de novas metodologias que raramente têm questionado o valor e a importância de se ensinar matemática a uma criança de dois anos de idade.
No Brasil, como afirma Paulo Ghiraldelli[3], “todo ano tem um novo governo, com uma nova proposta e uma nova capacitação. Os governos irritam os professores com a mania de achar que a cada ano eles precisam ter uma nova teoria pedagógica. Os governos se envolvem nisso, mas, quando saem, não avaliam para saber se isso deu resultado na sala de aula. O sistema de avaliação não é adequado ao que se propõe como capacitação. Ele só olha para baixo, para os avaliados. Não olha para cima, para os pressupostos que geram a capacitação”.
“Por que toda esta educação? Com que propósito? Para quê?” Estas são três das mais importantes perguntas a serem encaradas.
A grande maioria dos educadores tem se preocupado mais com a ação do que com o progresso, mais com os meios do que com os fins. São incapazes de avaliar as principais questões sobre o propósito.
E a capacitação e treinamento profissional dos educadores, com ênfase na metodologia, raramente habilita-os para a solução deste problema.
Lawrence Cremin abordou o assunto com propriedade quando observou que poucos líderes educacionais estão genuinamente preocupados com os assuntos educacionais porque eles não possuem idéias claras sobre o significado da educação. O foco excessivo nos métodos, a preocupação com os meios em detrimento dos fins, e a ênfase nas questões políticas e equilíbrio orçamentário têm incapacitado estes líderes para o grande diálogo e público sobre a finalidade e o propósito da educação.
Há uma forte necessidade de preparação de nova linhagem de profissionais educadores que sejam capazes de focalizar o “pensamento no propósito” e de “pensar sobre o que estão fazendo e por que estão fazendo”[4].
A missão da filosofia educacional é colocar futuros professores, diretores, supervisores e especialistas educacionais em contato direto com as amplas questões relativas ao sentido e ao propósito da vida e da educação.
Devem ser temais reais de debates e aprofundamentos: a natureza e o sentido da realidade e do conhecimento, a estrutura dos valores e finalmente, a busca de soluções (em bases duradouras) para os problemas que afligem a humanidade.
A filosofia educacional deve fazer com que os futuros educadores possam, de maneira inteligente:
a) avaliar propósitos de longo alcance e fins alternativos, b) relacionar seus objetivos aos fins almejados e c) selecionar estratégias pedagógicas que se harmonizem com seus objetivos.
Em suma, o estudo da filosofia educacional é (1) ajudar os educadores a se familiarizarem com os problemas básicos da educação, (2) encorajá-los a avaliar melhor a grande variedade de sugestões oferecidas como solução para estes problemas, (3) auxiliar na clarificação do raciocínio no que tange aos objetivos da vida e da educação, e (4) guiá-los no desenvolvimento de um ponto de vista pessoal e de uma cosmovisão mais ampla.
O que é educação?
O que é educação? É o mesmo que escolaridade? É o completar um determinado curso acadêmico? É um conjunto de comportamentos e atitudes socialmente aceitáveis? Refere-se somente à educação escolar? É tudo o que a vida nos ensina? São nossas aprendizagens?
E o que é aprendizagem? Difícil chegar a um consenso sobre a sua definição, mas seu conceito moderno afirma que ela é “um processo que produz a capacidade de apresentar um novo comportamento ou conceito”. A aprendizagem não se limita ao processo educacional, mas está diretamente ligada ao termo “educação”. A educação vista a partir dessa perspectiva, não se limita ao processo escolar ou ao currículo tradicional, ou ainda às metodologias das escolas. A educação, como a aprendizagem, é um processo que dura toda uma vida e que pode ocorrer numa infinita variedade de circunstâncias e contextos.
Por outro lado, a educação escolar é distinta do conceito geral de aprendizagem, no sentido em que personifica a idéia de controle deliberado pelo aprendiz ou por alguém que visa a um objetivo desejado. A educação pode ser compreendida como uma aprendizagem direcionada ou direta, com vista a propósitos muito específicos.
Às vezes confunde-se educação com “treinamento” ou a capacitação direcionada. O conceito de treinamento pode ser diferenciado do conceito de educação baseado no desenvolvimento da compreensão. A compreensão cresce quando alguém é levado a pensar reflexivamente sobre as relações de causa e efeito em vez de apenas responder a um conjunto de estímulos. Deve-se notar, entretanto, que a educação pode por vezes incluir alguns aspectos do treinamento, uma vez que treinamento é um subconjunto da educação, como uma atitude deliberada no sentido de se aperfeiçoar uma prática.
E o educador?
Vamos nos ater ao papel do professor enquanto educador e tentar defini-lo. Professor é aquele que lidera ou conduz os alunos no processo da aprendizagem. Professor é o facilitador da aprendizagem. Professor é aquele que ensina aos seus alunos de tal maneira que eles podem depois aprender sozinhos. Professor é um “difusor” de conhecimentos que ensina e aprende com seus alunos. Essas são algumas das muitas definições do papel do educador enquanto professor.
[1] SILBERMAN, Charles. Crisis in the Classroom. New York, p. 11.
[2] POSTMAN, Neil e WEIGARTNER, Charles, The School Book. New York, p. 295-297.
[3] Filósofo, doutor em filosofia pela USP, e em filosofia da educação pela PUC-SP. Em entrevista com Sérgio Rizzo em 05/04/06 na Folha Online.
[4] CREMIN, The Genius of American Education, p. 112.
Fonte da Imagem: (contanatura.weblog.com.pt)
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