ALGUMAS REFLEXÕES FRENTE AO SISTEMA AVALIATIVO
Magda Cristina Fullan Bellini
Resumo
No Brasil, temos hoje, resumidamente, duas vertentes na prática avaliativa: uma é conservadora, tradicional, com avaliações pontuais que marcam o fechamento de uma etapa, uma ação meramente mecânica e a outra, uma visão transformadora articulada com o projeto pedagógico da escola.
Substract
In Brazil, we have today, briefly, in practice evaluative twofold: one is conservative, traditional, with assessments point to mark the closing of a step, a purely mechanical action and the other, a vision processing combined with the school's educational project.
Inúmeras publicações têm analisado a problemática da avaliação, tanto do ponto de vista da teoria como dos métodos pedagógicos.
No Brasil, temos hoje, resumidamente, duas vertentes na prática avaliativa: uma é conservadora, tradicional, com avaliações pontuais que marcam o fechamento de uma etapa, uma ação meramente mecânica e a outra, uma visão transformadora articulada com o projeto pedagógico da escola, sendo, uma avaliação diagnóstica pela qual o aluno participa do processo ensino/aprendizagem visando a melhoria da qualidade do ensino, que envolve o planejamento de seus instrumentos e seus dados como objeto de análise para que o professor situe o aluno no processo de ensino aprendizagem, redefinindo sua prática e formando assim o cidadão do futuro.
Nessa perspectiva, qual é a ação pedagógica que encontramos na sala de aula? Será que a teoria não reflete a prática? Existe diferença nessa prática quando se refere à escola pública e a escola privada?
Estamos em um novo milênio, em um mundo globalizado, onde a clonagem do ser humano agora é fato. A disparidade social entre os povos é imensa. Certos padrões que demarcavam a riqueza de um país caíram por terra; o computador que adquirimos hoje, amanhã é obsoleto onde o consumismo é frenético; onde os meios de comunicação transformam o mundo. Até que ponto a prática escolar atende o alunado para atuar nesse mercado de trabalho emergente?
A avaliação com provas e exames de finalidade na verificação de conteúdo e classificação estabelecendo a promoção e retenção, não atende às necessidades do meu aluno, que tem como direito atuar de forma consciente e participativa na sociedade.
Os meios que o aluno possui para obter informações são imensos, cabendo ao professor a tarefa de orientar seus alunos para pesquisar e selecionar essas informações. Ensinar o aluno aprender a aprender.
Será que a avaliação se instaura no âmbito educacional como elemento de poder de controle? Ranjard ( 1984) não dissocia a temática da avaliação da temática do poder. Ele se pergunta por que os professores adotam modos de notação cujos limites, arbitrariedade e aspectos negativos eles conhecem muito bem. Ranjard responde o seguinte:
Eles defendem um prazer de má qualidade, mas seguro, garantido, cotidiano. Um prazer que deve ser dissimulado para ser vivido sem culpa (...).
Esse prazer é o prazer do Poder com P maiúsculo. O professor é dono absoluto de suas notas. Ninguém no mundo, nem seu diretor, nem seu inspetor, nem sequer seu ministro, pode fazer nada contra as notas que ele atribui. Pois ele as atribui a sua alma e consciência. Com seu diploma, foi-lhe reconhecida a competência de dar notas ( o que não deixa de ser interessante! ). Sua consciência profissional é inatacável. E esse tipo de controle significa poder sobre os alunos. (Ranjard, 1984, p.94).[1]
Nessa perspectiva, saliento que este agir ou pensar de alguns professores não se encontra em um vazio, mas sim, inserido em um contexto histórico, marcado por uma educação extremamente elitista e tradicional.
Essa tradição de avaliações pontuais, que possue raízes profundas em nossas instituições, aparece até mesmo de maneira camuflada, recebendo outras conotações, como por exemplo, “Atividades Especiais”. Não perdendo assim o seu perfil classificatório.
No Trabalho escolar, a avaliação pode representar um terço ou mesmo de 40 a 50% do tempo de presença na sala de aula. No tempo de trabalho pessoal do professor, a preparação das provas e sua correção pesam muito. No entanto, esse componente da profissão raramente é mencionado.[2] Será que a avaliação tem outras nuances que o sistema educacional não detectou?
Nas escolas estaduais do Estado de São Paulo foi implantado o sistema de ciclos, suprimindo, portanto, a retenção. Será que somente isolando a retenção do processo, temos por resolvida essa problemática?
No dia-a-dia, o professor deve trabalhar com diversas atividades: escutar, falar, ler, escrever, uso de textos diversos, exposição, debate, recitação, reescrever, compor, corrigir, trabalho em grupo ou individual...
Diante de um número tão diversificado de atividades, o professor deve selecionar as atividades mais significativas para registrar as informações, compondo assim, um instrumento com informações relevantes e úteis ao processo de aprendizagem do aluno.
Segundo César Coll, a avaliação deve desempenhar duas funções: permitir ajustar a ajuda pedagógica às características individuais dos alunos por meio de aproximações sucessivas; e permitir determinar o grau em que foram conseguidas as intenções do Projeto Curricular.[3]
Em contrapartida, temos a avaliação do professor – aquele que avalia e classifica passa a ser avaliado. Como é feita essa avaliação? Quais são os critérios utilizados? Quais as pretensões dessas avaliações? Ela difere em seu mecanismo quando pública ou privada?
Na Busca de resposta, analisemos a afirmação de Mônica G Thurler: A Avaliação interna começa com um diagnóstico, por exemplo, das forças e fraquezas de um estabelecimento escolar, empreendido, em colaboração, pelos professores e a direção da escola ( quando ela existe ). As informações são, em princípio, acessíveis a todos. A forma mais simples da avaliação interna consiste em conduzir de maneira regular uma análise tão exaustiva quanto possível do funcionamento do estabelecimento escolar. Consegue-se assim recolher um conjunto de dados que permitirão compreender melhor a maneira como o estabelecimento escolar reage em face da mudança, antecipar os problemas que se tem de prever, compilar as estratégias de resolução mais eficientes, definir as prioridades da próxima etapa de desenvolvimento e enfim, os critérios de êxito para avaliar, ao final de um período determinado, a eficácia dos procedimentos.[4]
Os critérios utilizados para avaliar a competência profissional deve ter um caráter formativo, buscando identificar as necessidades de formação no seu desenvolvimento profissional e não ser uma avaliação punitiva.
Concluindo algumas reflexões que pontuei neste documento, percebo que a avaliação e a auto-avaliação são instrumentos enriquecedores do processo ensino-aprendizagem e também da formação de professores, uma vez que, estabelecida a reflexão sobre a própria prática e compartilhada em grupos, identificam-se os pontos positivos e negativos e definem os caminhos a serem percorridos pelo projeto pedagógico da instituição.
“A avaliação formativa situa-se em uma perspectiva pragmática, não tem nenhum motivo para ser padronizada, nem notificada aos pais ou à administração. Inscreve-se na relação diária entre o professor e seus alunos, e seu objetivo é auxiliar cada um a aprender, não a prestar contas a terceiros”.[5]
Bibliografia
COLL, César. Psicologia e currículo. São Paulo: Àtica, 1996.
PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
–––––––––––– Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
THURLER, Mônica Gather. Inovar no interior da escola. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
[1] PERRENOUD, Philippe. Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001, p. 80
[2] Perrenoud p. 81
[3] COLL, César. Psicologia e currículo. São Paulo: àtica, 1996
[4] THURLER, Mônica Gather. Inovar no interior da escola. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001 [5] Perrenoud, 1991, 1998b
Documentos oficiais
BRASÍLIA (Distrito Federal). Secretaria de Educação
Fundamental. Referenciais para formação de
professores. Brasília, DF: Imprensa Oficial, 1999.
Fonte da Imagem: (http://www.sinjusc.org.br/)
Magda Cristina Fullan Bellini – Mestre em Educação (UNISO), professora de Projetos Especiais em Ecologia e Educação ambiental na Faculdade Hoyler de Pedagogia - VGP.
Um comentário:
Nos dias de hoje a avaliação tem se mostrado ao meu ver, discriminatória, por força do que o mundo pede hoje. Após a realização de uma avaliação o que se percebe e que quem tira nota alta e COROADO e que tira nota baixa e REBAIXADO. Isso está impreguinado na nossa sociedade que só valoriza os melhores, e a busca por ser o melhor nas escolas tem passado por cima de certos conceitos importante como: levar em conta o que o aluno aprendeu e se aprendeu isso vai contribuir para a sua vida, ou será que essa aprendizagem (nota alta)foi mascarada através da cola...
Hoje em dia estão coroando somentes os que chegam em primeiro, e esquecendo o restante que também tem seu valor...
Edson Eduardo (edsnedu@hotmail.com) Anahy-PR
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