Um outro argumento apresentado pelos neo-ateus em sua tentativa de negar a existência de Deus é o da ‘não aceitação’ de argumentos metafísicos, uma vez que, de acordo com os ateístas, a não ser por este caminho que é sempre indireto, você não pode ‘provar’ a existência de Deus. E mais, para eles, argumentos metafísicos não têm base científica. Um exemplo simples: é como se um ateu pedisse a um teísta que lhe mostrasse ‘Deus’ para que assim fosse provada a sua existência. Como resposta ouvisse do teísta que não é possível ‘mostrar’ Deus, mas que basta ‘acreditar’ e ter ‘fé’, e então será possível ‘ver’ Deus de diversas maneiras.
Embora pareça, este não é um argumento simplista dos neo-ateus. Não chega a ser um argumento ‘sofisticado’, mas para os céticos é um ‘excelente’ argumento. Vale lembrar que em filosofia o ceticismo se difere do ceticismo científico. Isso porque a necessidade de evidências demonstráveis no aspecto material ou físico no mundo da ciência (como suporte a uma teoria) é mais evidente do que outras áreas. É verdade também que a ciência é ampla e não podemos colocar no mesmo nível de exigência de comprovação a ‘física teórica’ e os experimentos com medicamentos na área da ‘saúde’. Talvez por isso, muitos cientistas atravessam apressadamente em seus conceitos a fronteira do mundo da ciência e a transpõem para a metafísica.
Para responder este argumento precisamos nos deter em algumas considerações metafísicas.
Vamos supor que exista algo em nosso planeta que nós ainda não descobrimos. Tomemos por exemplo uma rara orquídea em uma floresta tropical. O fato de não a havermos descoberto e não termos conhecimento dela não quer dizer que ela não exista. Apenas não chegamos a ela ainda. Pode ser que alguém afirme que jamais seremos capazes de encontrar a tal flor porque ela não existe. Estaria ele certo? Claro que não, pois a flor existe e está lá, embora ainda não a tenhamos encontrado. Se chegássemos a ela não precisaríamos de nada além de nossos olhos para ‘comprovar’ a sua existência.
Contudo, imaginemos que a flor se encontra em um lugar inacessível, fortemente protegido por leis ambientais, e ainda que se passem séculos e milênios da história, nunca encontraremos a tal orquídea. Observe que ela ainda estará lá: ela existe, só que não chegamos ou chegaremos até ela. Não podemos negá-la por que não fomos capazes de chegar até ela.
Avancemos um pouco mais.
Nos últimos anos e décadas, o ser humano inventou diversos equipamentos e aparelhos que nos possibilitaram ‘ver’, ‘enxergar’, ‘analisar’, ‘perceber’ e ‘conhecer’ várias coisas do mundo natural que antes nos eram ‘invisíveis’ e por isso, ‘não existiam’. O desenvolvimento científico nos deu ‘aparelhos de raios X’, ‘radares’, ‘estetoscópios’, ‘microscópios eletrônicos’, ‘radiotelescópios’, ‘telescópios’, ‘espectômetros’ e uma enorme variedade de outros artefatos e máquinas que nos permitem ‘ver’, conhecer e compreender melhor o mundo à nossa volta. È muito provável que muitos do passado se mostrassem céticos se fossem confrontados com a simples informação de que seria possível ‘ver através do corpo humano’ ou de que ‘aquela não é uma estrela, mas um aglomerado’, ou ainda que ‘dentro do átomo existe um pequeno mundo à parte’. Muitos homens do passado diriam que tal coisa é impossível, que não faz sentido o que estamos falando. Ainda haveria aqueles que diriam que isso jamais ocorreria, pois não existe nada além do que vemos e conhecemos.
No ponto de vista contemporâneo, acreditamos que no futuro o homem inventará artefatos com tantos recursos tecnológicos que a simples menção do que eles serão capazes de fazer provocará arrepios em várias pessoas. Podemos até desacreditar ou duvidar de tal coisa ou capacidade. Mas o futuro se encarregará de provar que estávamos equivocados.
Avancemos para algo um pouco mais complicado.
Suponhamos que exista algo em nosso planeta que ainda não vimos e não conhecemos. Imagine que, infelizmente, a despeito de toda a nossa tecnologia do presente e mesmo do futuro, que nunca seremos capazes de descobri-lo, pois não seremos capazes de ‘inventar’ a tal máquina ou tecnologia que detecte ou descubra esse algo. Mas ele existe e continua ali, mesmo sem termos meios de o descobrir ou detectar. Pode ser que muita gente diga que não, que tal coisa não existe – mas sabemos que existe, só não somos capazes de ‘vê-la’ ou ‘percebê-la’. Em outras palavras, é possível que alguma tecnologia ‘detecte’ esse ‘algo’, mas não seremos capazes de construir um artefato tecnológico para essa tarefa.
Mas podemos ir além.
Imagine uma coisa ou algo que, mesmo inventado um aparelho ou artefato tecnológico que o detecte, o nosso aparelho corporal (ou seja, nossos sentidos) não seja capaz de ‘ver’, ‘perceber’, ‘sentir’ ou mesmo ‘interpretar’ os dados que se nos apresentam. Simplesmente não chegaremos ao conhecimento direto daquilo e isso não quer em absoluto dizer que esse algo não existe. Aqui o problema não é como chegar até esse ‘algo’, mas em ter condições de ‘percebê-lo’. Mesmo se estivéssemos diante desse ‘algo’, não seríamos capazes de ‘alcançá-lo’.
Esses passos dados anteriormente procuram racionalmente e de forma simples mostrar que não se pode negar a existência de alguma coisa ou algo apenas pelo fato de que não podemos vê-la ou senti-la.
Na ciência, muitas ‘descobertas’ se deram a despeito da limitação dos meios de observação. Por meios indiretos de observação, fórmulas e teorias foram construídas e muitas afirmações se fizeram prevendo tal e tal coisa ou fenômeno. É claro que houve muitos mesmo entre os cientistas, que negaram a validade dessas teorias e depois foram confrontados com os ‘resultados’ efetivos ‘ou conseqüências’ diretas das previsões do modelo teórico.
E então, esses resultados mudaram a sua forma de pensar? Nem sempre, alguns não se deram por satisfeitos e continuaram a negar, mesmo contra as ‘comprovações’ de natureza direta ou indireta.
Seriam eles céticos? É possível continuar duvidando sempre?
O ceticismo absoluto é impossível, uma vez que ‘duvidar de tudo e não acreditar em nada’, não deixa espaço para uma experiência ou vivência racional. Em algum nível, seja elevado ou baixo, todos nós somos ‘convidados’ cotidianamente a ‘acreditar’, ‘crer’ e ‘confiar’ nas informações que recebemos em nossa interação uns com os outros, com o mundo que nos cerca e até conosco mesmo, para ‘vivermos’. O ceticismo absoluto nega a si mesmo.
Para Truzzi, o verdadeiro ceticismo filosófico é duro enquanto duvida e questiona, mas diante de argumentos lógicos e racionais abre caminho para possibilidades. Ao contrário, o pseudo-cético mostra sempre “a tendência de negar, ao invés de duvidar; utiliza padrões de rigor acima do razoável na avaliação do objeto de sua crítica; realiza julgamentos sem uma investigação completa e conclusiva; mostra tendência ao descrédito, ao invés da investigação; usa do ridículo ou de ataques pessoais para com seus oponentes; apresenta evidências insuficientes para a descrença; tenta desqualificar os proponentes de novas idéias taxando-os pejorativamente de 'pseudo-cientistas', 'promotores' ou 'praticantes de ciência patológica'; parte do pressuposto de que suas críticas não tem o ônus da prova, e que suas argumentações não precisam estar suportadas por evidências, mas a de seus opositores sim; age da mesma forma que aqueles que critica ao apresentar contra-provas não fundamentadas ou baseadas apenas em plausibilidades; sugere que evidências não convincentes são suficientes para se assumir que uma teoria é falsa e, por último, tende sempre a desqualificar 'toda e qualquer' evidência, seja ela boa ou ruim”.[1] .
Os céticos estão espalhados por todos os campos do conhecimento e é provável que os críticos do teísmo ou da teologia talvez sejam mais enfáticos em seus argumentos. Mas eles já se mostraram presentes também na ciência e na tecnologia. O físico ganhador do Nobel, Max Planck, observou em seu livro The Philosophy of Physics (1936) o seguinte: “uma importante inovação científica raramente faz seu caminho vencendo gradualmente e convertendo seus oponentes: raramente acontece que Saulo se torne Paulo. O que realmente acontece é que os seus oponentes morrem gradualmente e a geração que cresce está familiarizada com a nova idéia desde o início”. Mas os céticos tentam se prevenir. É como disse o famoso astrônomo Carl Sagan, conhecido pelo seu ceticismo: “você deve manter sua mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia”.
Não se pode negar a lógica do raciocínio exposto acima. Contudo, para acreditar em algo que não se vê, seja pelas nossas limitações, seja porque ainda não chegamos até elas, ou por algum outro motivo, o caminho de fato passa pela confiança ou crença. Alguns chamariam mesmo de fé. Quando a ciência, em função de suas teorias, acredita em algo que não pode provar diretamente, os cientistas não chamam isso de fé. Para eles, as próprias teorias passam a ser os pilares desse conhecimento.
O que sabemos é que não é completamente certo negar a existência de um Ser apenas porque não o vemos ou não o sentimos.
Os céticos mais radicais poderão discordar dessa linha de raciocínio. Em seu livro A Caixa Preta de Darwin, Michael Behe conta de um cientista conhecido seu, que afirmou que ainda que visse a estátua centenária de um anjo mover os braços, não acreditaria tratar-se de um milagre.
Se abraçarmos o ceticismo com tal força, nem os fatos escancarados à nossa frente nos farão mudar de opinião.
Contudo, acho que a postura equilibrada não se encontra nem na crença cega, nem no ceticismo absoluto. O filósofo cético David Hume, tentando buscar o caminho do equilíbrio, afirmou que “não temos a opção de viver de acordo com essa percepção das coisas: a razão é escrava das paixões”. Na conclusão de seu pensamento, ele concluiu que “as escolhas que fazemos presumirão que há conexões que somos incapazes de provar”.[2]
[1] Marcello Truzzi, On Pseudo-Skepticism" Zetetic Scholar (1987) No. 12/13, 3-4
[2] MAGEE, Bryan. História da Filosofia. São Paulo: Loyola, 1999, p. 115.
Embora pareça, este não é um argumento simplista dos neo-ateus. Não chega a ser um argumento ‘sofisticado’, mas para os céticos é um ‘excelente’ argumento. Vale lembrar que em filosofia o ceticismo se difere do ceticismo científico. Isso porque a necessidade de evidências demonstráveis no aspecto material ou físico no mundo da ciência (como suporte a uma teoria) é mais evidente do que outras áreas. É verdade também que a ciência é ampla e não podemos colocar no mesmo nível de exigência de comprovação a ‘física teórica’ e os experimentos com medicamentos na área da ‘saúde’. Talvez por isso, muitos cientistas atravessam apressadamente em seus conceitos a fronteira do mundo da ciência e a transpõem para a metafísica.
Para responder este argumento precisamos nos deter em algumas considerações metafísicas.
Vamos supor que exista algo em nosso planeta que nós ainda não descobrimos. Tomemos por exemplo uma rara orquídea em uma floresta tropical. O fato de não a havermos descoberto e não termos conhecimento dela não quer dizer que ela não exista. Apenas não chegamos a ela ainda. Pode ser que alguém afirme que jamais seremos capazes de encontrar a tal flor porque ela não existe. Estaria ele certo? Claro que não, pois a flor existe e está lá, embora ainda não a tenhamos encontrado. Se chegássemos a ela não precisaríamos de nada além de nossos olhos para ‘comprovar’ a sua existência.
Contudo, imaginemos que a flor se encontra em um lugar inacessível, fortemente protegido por leis ambientais, e ainda que se passem séculos e milênios da história, nunca encontraremos a tal orquídea. Observe que ela ainda estará lá: ela existe, só que não chegamos ou chegaremos até ela. Não podemos negá-la por que não fomos capazes de chegar até ela.
Avancemos um pouco mais.
Nos últimos anos e décadas, o ser humano inventou diversos equipamentos e aparelhos que nos possibilitaram ‘ver’, ‘enxergar’, ‘analisar’, ‘perceber’ e ‘conhecer’ várias coisas do mundo natural que antes nos eram ‘invisíveis’ e por isso, ‘não existiam’. O desenvolvimento científico nos deu ‘aparelhos de raios X’, ‘radares’, ‘estetoscópios’, ‘microscópios eletrônicos’, ‘radiotelescópios’, ‘telescópios’, ‘espectômetros’ e uma enorme variedade de outros artefatos e máquinas que nos permitem ‘ver’, conhecer e compreender melhor o mundo à nossa volta. È muito provável que muitos do passado se mostrassem céticos se fossem confrontados com a simples informação de que seria possível ‘ver através do corpo humano’ ou de que ‘aquela não é uma estrela, mas um aglomerado’, ou ainda que ‘dentro do átomo existe um pequeno mundo à parte’. Muitos homens do passado diriam que tal coisa é impossível, que não faz sentido o que estamos falando. Ainda haveria aqueles que diriam que isso jamais ocorreria, pois não existe nada além do que vemos e conhecemos.
No ponto de vista contemporâneo, acreditamos que no futuro o homem inventará artefatos com tantos recursos tecnológicos que a simples menção do que eles serão capazes de fazer provocará arrepios em várias pessoas. Podemos até desacreditar ou duvidar de tal coisa ou capacidade. Mas o futuro se encarregará de provar que estávamos equivocados.
Avancemos para algo um pouco mais complicado.
Suponhamos que exista algo em nosso planeta que ainda não vimos e não conhecemos. Imagine que, infelizmente, a despeito de toda a nossa tecnologia do presente e mesmo do futuro, que nunca seremos capazes de descobri-lo, pois não seremos capazes de ‘inventar’ a tal máquina ou tecnologia que detecte ou descubra esse algo. Mas ele existe e continua ali, mesmo sem termos meios de o descobrir ou detectar. Pode ser que muita gente diga que não, que tal coisa não existe – mas sabemos que existe, só não somos capazes de ‘vê-la’ ou ‘percebê-la’. Em outras palavras, é possível que alguma tecnologia ‘detecte’ esse ‘algo’, mas não seremos capazes de construir um artefato tecnológico para essa tarefa.
Mas podemos ir além.
Imagine uma coisa ou algo que, mesmo inventado um aparelho ou artefato tecnológico que o detecte, o nosso aparelho corporal (ou seja, nossos sentidos) não seja capaz de ‘ver’, ‘perceber’, ‘sentir’ ou mesmo ‘interpretar’ os dados que se nos apresentam. Simplesmente não chegaremos ao conhecimento direto daquilo e isso não quer em absoluto dizer que esse algo não existe. Aqui o problema não é como chegar até esse ‘algo’, mas em ter condições de ‘percebê-lo’. Mesmo se estivéssemos diante desse ‘algo’, não seríamos capazes de ‘alcançá-lo’.
Esses passos dados anteriormente procuram racionalmente e de forma simples mostrar que não se pode negar a existência de alguma coisa ou algo apenas pelo fato de que não podemos vê-la ou senti-la.
Na ciência, muitas ‘descobertas’ se deram a despeito da limitação dos meios de observação. Por meios indiretos de observação, fórmulas e teorias foram construídas e muitas afirmações se fizeram prevendo tal e tal coisa ou fenômeno. É claro que houve muitos mesmo entre os cientistas, que negaram a validade dessas teorias e depois foram confrontados com os ‘resultados’ efetivos ‘ou conseqüências’ diretas das previsões do modelo teórico.
E então, esses resultados mudaram a sua forma de pensar? Nem sempre, alguns não se deram por satisfeitos e continuaram a negar, mesmo contra as ‘comprovações’ de natureza direta ou indireta.
Seriam eles céticos? É possível continuar duvidando sempre?
O ceticismo absoluto é impossível, uma vez que ‘duvidar de tudo e não acreditar em nada’, não deixa espaço para uma experiência ou vivência racional. Em algum nível, seja elevado ou baixo, todos nós somos ‘convidados’ cotidianamente a ‘acreditar’, ‘crer’ e ‘confiar’ nas informações que recebemos em nossa interação uns com os outros, com o mundo que nos cerca e até conosco mesmo, para ‘vivermos’. O ceticismo absoluto nega a si mesmo.
Para Truzzi, o verdadeiro ceticismo filosófico é duro enquanto duvida e questiona, mas diante de argumentos lógicos e racionais abre caminho para possibilidades. Ao contrário, o pseudo-cético mostra sempre “a tendência de negar, ao invés de duvidar; utiliza padrões de rigor acima do razoável na avaliação do objeto de sua crítica; realiza julgamentos sem uma investigação completa e conclusiva; mostra tendência ao descrédito, ao invés da investigação; usa do ridículo ou de ataques pessoais para com seus oponentes; apresenta evidências insuficientes para a descrença; tenta desqualificar os proponentes de novas idéias taxando-os pejorativamente de 'pseudo-cientistas', 'promotores' ou 'praticantes de ciência patológica'; parte do pressuposto de que suas críticas não tem o ônus da prova, e que suas argumentações não precisam estar suportadas por evidências, mas a de seus opositores sim; age da mesma forma que aqueles que critica ao apresentar contra-provas não fundamentadas ou baseadas apenas em plausibilidades; sugere que evidências não convincentes são suficientes para se assumir que uma teoria é falsa e, por último, tende sempre a desqualificar 'toda e qualquer' evidência, seja ela boa ou ruim”.[1] .
Os céticos estão espalhados por todos os campos do conhecimento e é provável que os críticos do teísmo ou da teologia talvez sejam mais enfáticos em seus argumentos. Mas eles já se mostraram presentes também na ciência e na tecnologia. O físico ganhador do Nobel, Max Planck, observou em seu livro The Philosophy of Physics (1936) o seguinte: “uma importante inovação científica raramente faz seu caminho vencendo gradualmente e convertendo seus oponentes: raramente acontece que Saulo se torne Paulo. O que realmente acontece é que os seus oponentes morrem gradualmente e a geração que cresce está familiarizada com a nova idéia desde o início”. Mas os céticos tentam se prevenir. É como disse o famoso astrônomo Carl Sagan, conhecido pelo seu ceticismo: “você deve manter sua mente aberta, mas não tão aberta que o cérebro caia”.
Não se pode negar a lógica do raciocínio exposto acima. Contudo, para acreditar em algo que não se vê, seja pelas nossas limitações, seja porque ainda não chegamos até elas, ou por algum outro motivo, o caminho de fato passa pela confiança ou crença. Alguns chamariam mesmo de fé. Quando a ciência, em função de suas teorias, acredita em algo que não pode provar diretamente, os cientistas não chamam isso de fé. Para eles, as próprias teorias passam a ser os pilares desse conhecimento.
O que sabemos é que não é completamente certo negar a existência de um Ser apenas porque não o vemos ou não o sentimos.
Os céticos mais radicais poderão discordar dessa linha de raciocínio. Em seu livro A Caixa Preta de Darwin, Michael Behe conta de um cientista conhecido seu, que afirmou que ainda que visse a estátua centenária de um anjo mover os braços, não acreditaria tratar-se de um milagre.
Se abraçarmos o ceticismo com tal força, nem os fatos escancarados à nossa frente nos farão mudar de opinião.
Contudo, acho que a postura equilibrada não se encontra nem na crença cega, nem no ceticismo absoluto. O filósofo cético David Hume, tentando buscar o caminho do equilíbrio, afirmou que “não temos a opção de viver de acordo com essa percepção das coisas: a razão é escrava das paixões”. Na conclusão de seu pensamento, ele concluiu que “as escolhas que fazemos presumirão que há conexões que somos incapazes de provar”.[2]
[1] Marcello Truzzi, On Pseudo-Skepticism" Zetetic Scholar (1987) No. 12/13, 3-4
[2] MAGEE, Bryan. História da Filosofia. São Paulo: Loyola, 1999, p. 115.