CAPÍTULO VIII
PERU
"Quando a
gente quer bem a uma pessoa, a presença
dela conforta. Só a presença, não é necessário mais nada". Graciliano
Ramos
Cheguei à terra da minha esposa e ao
país, que pelo menos na teoria significava a metade da nossa viagem.
Apresentamo-nos aos funcionários, os
quais nos orientaram sobre o local onde deveríamos estacionar o carro e os
procedimentos que deveríamos tomar. Perguntamos quanto tempo levaria para que o
carro fosse liberado e disseram-nos que seria em torno de duas horas.
Entregamos os documentos e pedimos informação sobre um local para almoço.
Naquele posto fronteiriço no meio do deserto, só havia um restaurante, o qual
servia apenas aos funcionários do governo peruano. Explicando direitinho sobre
a nossa fome conseguimos a oportunidade de comer ali.
Felizes pelo bom andamento da nossa
viagem, tomamos a liberdade de ligar o televisor do refeitório e assistir um
pouco aos programas peruanos. Batendo "papo", aguardávamos calmamente
nosso almoço.
Aproxima-se, então da nossa mesa um
sr. de estatura mediana, bem vestido e pergunta-nos o que fazíamos ali.
Gentilmente ele se ofereceu para conduzir as tramitações de fronteira e dar os
vistos para entrarmos no Peru. Disse-nos que ele era o chefe de Polícia de
fronteira e de fato ele era. Pegou os nossos passaportes e retornou para a mesa
dele. Surpresos com a boa vontade daquele senhor, comemos o prato do dia: carne
de carneiro com talharim.
Saímos do refeitório e fomos buscar
os nossos vistos. Entrei na sala do Sr. Julio Salas e ele pediu explicações
para os quatro carimbos do dia 06/07/93 no passaporte. Expliquei que saindo da
Argentina entramos no extremo sul do Chile (Punta Arenas) e retornamos no mesmo
dia. Pediu também para que eu explicasse por que não havia em nosso passaporte
o carimbo de saída do Brasil. Disse a ele que do Brasil para o Uruguai pode-se
usar o passaporte ou a carteira de identidade - daí o fato de não termos o
carimbo de saída do Brasil no passaporte. Não satisfeito com a explicação ele
disse-nos que estávamos completamente irregulares: estacionamos o carro em
local proibido e que entramos no lado peruano da fronteira para almoçar, sem o
visto. Comecei a perceber que a suposta "ajuda" que ele ofereceu era
encrenca certa para nós.
Durante quarenta minutos
expliquei-lhe que as autoridades Uruguaias, Argentinas e Chilenas viram toda a
nossa documentação e não encontraram nenhuma irregularidade; que estacionamos o
carro naquele local orientados por funcionários do posto fronteiriço e que
almoçamos no restaurante autorizados pelos funcionários da Aduana. De nada
adiantava argumentar, pois ele, após cada explicação mandava-nos dar meia volta
e retornar em nossa viagem. Ao final, ele disse que eu sabia qual era a
solução. Senti no ar o cheiro de suborno e propina. Apelei-lhe falando sobre os
objetivos da nossa viagem. Em vão. Ele disse que jamais entraríamos no Peru e
que eu sabia qual era a solução. Cansado e irritado, perguntei:
- Quanto?
Ele prontamente respondeu:
- Duzentos dólares!
Fiquei chateadíssimo e enquanto eu
entregava as preciosas verdinhas, falei:
- Meu sogro é uma pessoa influente
em Lima. Ele é o presidente da Associação das Igrejas Adventistas da região
central do Peru. Minha esposa está passando férias em Lima e vou me encontrar
com eles em alguns dias.
Ele ficou pensativo enquanto
carimbava e assinava os vistos.Saindo dali encontrei o Márcio e o Binho, um
tanto aflitos à minha espera.
- Sujeira! Falei baixinho.
- O quê ?!?
- Não dá pra contar agora, mas já
falo.
Cercados por funcionários de todos
os lados recebemos os papéis e seguimos para Tacna a primeira cidade no sul do
Peru. Em outro carro ia o funcionário da Aduana que liberaria o veículo em
Tacna para que pudéssemos adentrar o país. Lá pelas cinco da tarde o carro foi
liberado. O funcionário da fronteira veio e me falou:
- Tome aqui (entregando-me cem
dólares). O chefe disse que você não deve contar a ninguém o que aconteceu,
especialmente ao seu sogro!
Recebi calado a devolução de parte
da propina que aquele corrupto pegara. Obviamente contei tudo para o Márcio e o
Binho, que ficaram revoltadíssimos.
Tentando esquecer os aborrecimentos,
fomos jantar no centro de Tacna. Alguns brasileiros que nos viram pararam o
carro para perguntar sobre o Brasil. O sorriso e o entusiasmo deles mostrou-nos
o quão agradável é encontrar gente da nossa terra quando estamos no
estrangeiro.
Comemos sanduíches enquanto pedimos
informações para pegarmos a estrada em direção ao norte. As pessoas,
entretanto, diziam-nos que não fizéssemos aquilo. Que não seguíssemos à noite,
pois os terroristas do Sendero Luminoso nos pegariam na estrada. Quando
entramos no carro uma senhora ainda nos fez um último apelo.
Ignorando as advertências, entramos
na estrada por volta das nove da noite. Afastando-nos rapidamente de Tacna,
ficamos felizes pelo bom trecho inicial da viagem. Mas em pouco tempo começamos
a rodar numa estrada esburacada e mal sinalizada. A escuridão associada à
neblina e as muitas curvas da estrada dificultava em muito o avanço num ritmo
normal. O sono apertava, mas sabíamos que não podíamos parar naquela estrada
perigosa.
Depois de passarmos por Arequipa,
onde um erro de trajeto nos custou uns cinqüenta quilômetros, pegamos o pior
trecho de estradas do Peru. Não sei se podemos chamar aquilo de estrada. O
asfalto era coisa do passado e as placas só existiam em nossos sonhos. Fazendo
uma diferença marcante do deserto de norte do Chile, este deserto peruano é
cheio de montanhas e despenhadeiros. O Binho pegou a direção. As subidas e
descidas, juntamente com as muitas curvas, impediam que ele dormisse, mas
dificultavam a viagem. Era raríssimo cruzarmos com outros veículos e as poucas
cidades pelas quais passamos pareciam uma vila de uma rua só. A neblina do
deserto entrou novamente em cena e por mais de uma vez o Binho passou por
dificuldades. A falta de sinalização em curvas acentuadíssimas quase nos deixou
em vários despenhadeiros e penhascos. Lá pelas duas da madrugada o Márcio
assumiu a direção e seguiu a uns setenta por hora numa reta de subida.
Subitamente surgiu uma curva, ele "juntou" no freio e virou. O carro
fez um balanço esquisito e olhei para fora do carro: lá embaixo um
despenhadeiro profundo nos aguardava com seu jeito escancarado. O coração
disparou na ordem inversamente proporcional à velocidade que imprimimos a
partir dali.
Angustiado, eu olhava aflito o
relógio e o tempo parecia não passar. Peguei o carro e tentei recuperar um
pouco o avanço normal. Seguindo na estrada, surge a minha frente um monte de
areia na pista. O opala subiu meio atravessado, mas conseguiu sair do outro
lado. Eram as dunas de areia do deserto, que cobriam a pista em um ou outro
trecho. Embora leve algum tempo para que o vento carregue a areia para cima da
pista, esta cena das dunas é comum, mostrando quão esquecida e maltratada está
esta estrada.
Numa curva perigosíssima vimos um
caminhão tombado. Semi novo, parecia que aquele caminhão já estava ali há
semanas. Um pouco mais à frente encontramos várias bolas de minério de ferro
espalhadas pela pista. Paramos o carro e pegamos algumas do tamanho de uma bola
de tênis.
A interminável noite começava a
chegar ao fim e nos aproximamos de Nazca, a famosa cidade arqueológica das
linhas misteriosas.
Antes, porém, ainda passamos por
várias dunas e outros dois caminhões tombados.
Na região de Nazca surgiu outra vez
o asfalto e vimos que ali a reforma da estrada já chegou. Após reabastecermos
atravessamos o centro de Nazca em direção ao sítio arqueológico. Ao lado da
estrada vimos as primeiras linhas feitas no deserto pelos povos primitivos da
América pré-colombiana. Uma placa ao lado da pista diz que se algum veículo
andar por cima das linhas abandonando a estrada principal, a pena prevista é de
cinco anos de cadeia mais uma pesada multa. Um pouco mais à frente encontramos
um mirante de cerca de 35 metros de altura. Foi construído justamente com o
objetivo de se observar as linhas misteriosas de Nazca.
Subimos no mirante, o Márcio e eu. O
Binho roncava no carro . Dali do mirante pudemos ver desenhado no chão do
deserto a gigantesca figura de uma mão e a figura estranha de um pássaro. As
linhas das figuras têm aproxidamente três metros de largura e algumas têm até
oitocentos metros de diâmetro. Estas linhas foram objeto de estudo e pesquisa
de vários arqueólogos, cientistas e esotéricos. Sua origem é atribuida a
civilizações pré-incaicas. Os esotéricos ligam a origem delas com a presença no
passado, de seres extraterrestres. O livro "Eram os Deuses
Astronautas" sustenta esta versão. Mas, hipóteses à parte, é interessante
observar o que pessoas que viveram a cerca de dois mil anos atrás tiveram a
criatividade de fazer. Antes de entrar de novo no carro compramos umas
lembrancinhas no sopé do mirante: pedras com os desenhos das figuras de Nazca.
Quando o Binho acordou, quilômetros adiante, ele quase nos fez voltar com o
carro. Não sei se ele conseguiu nos perdoar o fato de não o termos acordado.
Chegando em Ica estávamos quase
desidratados. Sedentos, tomamos nem sei quantos refrigerantes. A partir de Ica,
vimos muitas áreas irrigadas ao lado da pista com plantações de milho e outros
cereais e frutas. A área irrigada no Peru é maior do que no Brasil. É claro que
eles lutam contra o deserto e contra a falta quase absoluta de chuvas na região
costeira. Mas é um bom exemplo para o
nosso nordeste.
Do ponto de vista estético e para
padrões daqui, o Sul do Peru é feio: montanhas peladas, sem nenhuma vegetação;
a monotonia do deserto, cidades pequenas e quase sem recursos e estradas bem
mal conservadas. Mas à medida que nos aproximávamos de Lima, percebemos que
este quadro foi mudando. A estrada ficou melhor. Estava sendo reformada no
trecho entre Lima e Nazca e havia os campos irrigados e cultivados ao lado da
pista.
Finalmente pegamos uma
"freeway" na chegada a Lima. Estrada larga, com canteiro central e a
sensação de se estar chegando a uma grande cidade. De fato, a grande Lima, a
maior cidade do mundo em um deserto, tem cerca de quatro milhões e meio de
habitantes. Para o Márcio e o Binho tudo era surpresa nesta chegada. Mas para
mim não, pois eu já havia estado ali em duas outras ocasiões: quando fiquei
noivo com minha esposa em 1987 e mais tarde quando fui visitar meus sogros,
já com a primeira netinha em 1990. A despeito desta experiência, eu era o mais
nervoso e ansioso. Pudera. Era a ansiedade de encontrar minha esposa e meus filhos que
estavam passando férias lá.
Avistamos a avenida Angamos e eu já
me senti em casa. Em poucos minutos seguindo por ela, chegamos à Avenida
Comandante Espinar, no bairro de Miraflores, onde moram os pais da minha
esposa. Colocamos o carro na garagem do edifício e subimos. Quando a minha
esposa abriu a porta tivemos uma cena digna de filme de romance. Um abraço
gostoso que durou uma eternidade. Logo vi minha filha e o caçula de três meses.
Enquanto o Márcio e o Binho inciavam
o merecido repouso para a reposição das noites de sono perdidas, dei uma
passada rápida na escola onde minha sogra é vice-diretora e fui buscá-la. Que
surpresa ela teve. Mais tarde foi a vez do meu sogro.
Mas o tempo passou rápido em Lima e
os nossos cinco dias ali foram cheios de atividades. Na quarta feira, dia 14 de
julho, 18º dia da viagem, só rodamos quatro quilômetros - um recorde, se não
contarmos os dia em que o carro ficou parado. Neste dia contamos um pouco
sobre a nossa viagem para os
funcionários e administradores da União Incaica da Igreja Adventista do Peru.
Almoçamos com eles e nos deram camisetas. A Associação Peruana Central desta
mesma instituição nos presenteou uma lavagem completa no carro, polimento
e um tanque de gasolina. Ótimo!
Na quinta-feira visitamos a Universidade Union Incaica. Divulgamos
ali a nossa campanha ecológica e conhecemos um pouco da história desta
Universidade. Almoçamos no refeitório geral, junto com os alunos. É bom lembrar
que todos esses lugares que visitamos, estávamos acompanhados quase sempre, do
meu sogro, da minha esposa e dos meus filhos e às vezes da minha sogra.
Na saída da Universidade entramos na
fábrica de alimentos que eles mantêm naquela localidade. Fomos agraciados com
vários produtos e completamos o espaço vazio do porta-malas.
À tarde visitamos o "museu do
oro" (museu do ouro). De um acervo riquíssimo, este é um dos melhores
museus da América Latina. Conta toda a história da conquista espanhola e conta
também da trajetória do povo Inca. Além do acervo de armas, de jóias, de prata
e de ouro, o museu tem também algumas múmias dos Incas. valeu a pena.
À noite tivemos um jantar com comida
típica peruana: Antecuchos (churrasco de coração de boi), com choclos (tipo de
milho de sementes bem grandes) e um molho bem picante à base de rocoto (uma
pimenta extremamente picante). Como bebida tomamos Inca Cola. Naquela noite nos
divertimos a beça. O Binho contou até uma anedota super engraçada para o nosso
contexto:
- Um brasileiro chegou ao Paraguai e
logo descobriu que o Português e o Castelhano não são idiomas muito diferentes.
Pelo contrário, são até muito parecidos. E vendo que palavras como
"força" se diz "fuerza", "conta" se diz
"cuenta" e "bom", "bueno", ele resolveu ir
traduzindo diretamente para o castelhano o que ele queria falar. Chegou numa
lanchonete e foi logo dizendo para o balconista:
- Me dá uma "Cueca cuela"
con um perro caliente! ... (Coca cola com um cachorro quente)
Rimos tanto que quase passamos mal.
Mas foi bom, pois o ambiente ficou bem descontraído.
Na sexta bem cedo, o Binho, meu
sogro e o Márcio levaram o carro à oficina para regular as válvulas e tirar um
pequeno vazamento de óleo. Quando voltaram, fomos à feira permanente de
artesanato chamada "Feira do Índio". Eram tantos os artigos de
artesanato que queríamos comprar que , economizando ao máximo, ainda gastamos U$
40,00 dólares. Saindo dali passamos em uma grande emissora de TV e demos uma
entrevista contando sobre o "Projeto América do Sul".
No Sábado bem cedo demos outra
entrevista e visitamos três igrejas adventistas. Após o almoço fomos visitar a
catedral de São Francisco. Vimos as catacumbas com vários túneis interligados
por sob a cidade. Saímos dali e fomos visitar um dos lugares por que mais
ansiávamos: o Museu da Santa Inquisição. Este museu é o único na categoria dele
no mundo que permanece aberto. Ele mostra o triste lado da história da igreja
católica, onde ninguém podia contestar ou pensar de maneira diferente. Ali
estão vários instrumentos de tortura. Tudo isso passava pela nossa cabeça
enquanto caminhávamos aqueles quarteirões no centro de Lima, rumo ao museu.
Chegamos à porta do museu e para
nossa infelicidade ele já estava fechado. Meu sogro pediu-nos que aguardássemos
do outro lado da rua e ele foi conversar com um policial que estava na porta do
museu. Ele explicou ao policial que havíamos vindo de longe e que nossa visita
a Lima estaria incompleta se não pudéssemos entrar no museu. Mas o policial
argumentou que o horário de visitas já havia acabado e que ele mesmo nunca
havia entrado no museu.
- É uma boa oportunidade para que
você também conheça! Insistiu o meu sogro.
- Espere um momento! - Disse o
policial, enquanto enfiava a mão no bolso e pegava um pente. Com um jeitinho
próprio daqui, ele mexeu na fechadura e... pronto. A porta abriu. Entramos
rapidamente como quem não sabia de nada. Ali na ante-sala ficamos pensando: E
se a polícia entrar aqui e pensar que viemos tirar alguma coisa? e se ...? Mas
tínhamos um tremendo álibi: O policial junto conosco.
À medida que passávamos de uma sala
a outra a ansiedade e a tensão aumentavam. Placas diziam: "Proibido
fotografar e filmar". E de mansinho, enquanto avançávamos para as salas
principais, pegamos a filmadora e a máquina fotográfica e fizemos algumas
imagens de arquivo. Incrível a capacidade humana de inventar instrumentos de
tortura. Ao centro, uma cama onde o
infeliz era amarrado pelos pés e mãos e uma roda puxava as cordas até arrancar
fora algum dos membros. A um lado, um tronco onde os pés ficavam descobertos e
um braseiro logo abaixo. Os pés eram untados com gordura e "assados"
com a pessoa viva. Aliás, todas as torturas levavam a vítima a um estado de
exaustão e sofrimento físico máximo, mas não à morte direta. E o objetivo das
torturas, além da punição, era a abjuração ou a mudança de posição em relação a
uma crença ou comportamento. Havia ainda outros instrumentos de tortura, mas
nem vale a pena mencionar, pois seria deprimente. Tudo fez com que saíssemos
dali pensativos e calados.
Chegamos à casa da minha sogra e
ligamos o TV. Estava passando a nossa reportagem. Mais uma vez sentimos que
nossos objetivos estavam sendo alcançados. Minha esposa arrumou a minha mala e
acondicionamos tudo no carro para a nossa partida no dia seguinte. O Márcio e o
Binho foram para a Clínica médica Adventista de Miraflores. Foi lá que eles
dormiram e tomaram o desjejum todos aqueles dias.
No domingo bem cedo pegamos o
caminho da estrada. Meu sogro, minha sogra, minha esposa e meus filhos
seguiram-nos e avançamos rumo norte. Pelos nossos cálculos havíamos passado em
Lima um dia a mais do que o planejado. Tudo bem, teríamos tempo para recuperar.
A partir de Lima começamos a atravessar o deserto de Sechura. Paramos para
almoçar em Chimbote na casa da família Crisólogo Saavedra. São grandes amigos do
meu sogro. Nos deram um banquete com pratos típicos:
Sudado de chita (guisado de chita -
um peixe de escamas e muitas espinhas) cebiche (peixe cru curtido no limão)
Estofado de Pollo (Frango cozido com legumes) e Ensalada temperada com rocoto.
Quando fomos entrar no carro, percebemos que alguns adesivos dos patrocinadores
foram arrancados por alguns meninos da cidade.
Seguimos satisfeitíssimos para
Trujillo e depois Chiclayo. Resolvemos não jantar (depois daquele super almoço,
ninguém estava com fome). Perto da hora do pôr-do-sol, o Márcio conduzia,
quando o carro que seguia a nossa frente parou de repente e sem nenhum motivo
aparente. Num gesto de reflexo, o Márcio desviou para a direita e depois para a
esquerda, pois havia uma ponte logo em seguida.
- Uau! essa foi por pouco! - Gritei.
O Binho acordou assustado e perguntou o que estávamos fazendo.
- Nada! - Disse o Márcio.
- É, junto com vocês eu tô feito! -
Disse o Binho, e completou:
- Feito trouxa! E voltou a dormir.
Mas não por muito tempo. A cem por
hora subimos uma pequena elevação na estrada do deserto. Quando descemos cerca
de cem metros, dois caminhões vinham juntos em sentido contrário. O
caminhoneiro que estava ultrapassando nem fez sinal de diminuir a velocidade e
nos dar espaço. Continuou avançando em nossa direção, naquela estrada estreita.
- Desvia Márcio, o cara não vai
sair! Dei o aviso! O Márcio puxou para a direita sobre a areia do deserto e
escapamos por um triz. O Binho acorda de novo e reclama:
- Vocês não sabem dirigir? Toda hora
vocês me acordam! Demos gargalhadas e explicamos que quase íamos todos dormir
pra sempre. A noite chegou e passamos por Piura, Sultana e Talara. Quando
estava amanhecendo chegamos a Tumbes e Zarumilla, na fronteira com o Equador.
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