CAPÍTULO
XIII
BRASIL
- NORDESTE
"Você
pode enganar algumas pessoas durante todo o tempo ou todas as pessoas durante
algum tempo. Mas nunca conseguira enganar todas as pessoas durante todo o
tempo". W. Churchill
Entramos
no Maranhão já anoitecendo. Escolhemos manter o traçado da BR 316 e seguir pelo
centro do estado. Em Santa Inês ficamos na dúvida se seguíamos para São Luiz ou
continuávamos na rota da 316. Como o mapa que tínhamos nas mãos era
insuficiente em informações, tocamos para Bacabal, centro-norte do estado.
O Maranhão, como pudemos sentir,
constitui uma área de transição entre a Amazônia úmida e enflorestada e o
sertão de clima semi-árido e vegetação pobre.
O que nos causou muitos
aborrecimentos naquele estado foram os quebra-molas. Seguindo na nossa média, a
cem por hora, de noite, só sentíamos o solavanco na direção e o pulo do carro.
Depois vinha a placa avisando do "2º" quebra-molas. Aconteceu tantas
vezes que quase fizemos um abaixo-assinado pedindo que eles "por
favor" colocassem placas avisando dos primeiros quebra-molas.
Mas é bem provável que, cansados
como estávamos, não tenhamos visto algumas placas. Na altura de Bacabal,
tivemos que comprar gasolina da mão de particulares, pois nos postos não havia.
Passamos por Terezina, capital do
Piauí, por volta da meia noite e pegamos a BR 343 até Piripiri. Pensávamos que
íamos encontrar um Piauí castigado pelas secas, mas nos enganamos. É claro que
não é mata amazônica, mas viajamos por cerrados aparentemente aproveitáveis. A
partir de Piripiri, no entanto, ao seguirmos a BR 222, entramos na região do
polígono das secas.
Entramos no Ceará e quando amanheceu
estávamos chegando a Fortaleza. Como fizemos com a maioria das cidades que
conhecemos, demos uma rodada no centro da cidade antes de ir ao lugar de nosso
interesse. Compramos um platinado novo e fomos conhecer a praia. O mar estava tão
convidativo e a praia era tão bonita que quase tiramos a roupa para dar um
mergulho. Tivemos que nos despedir sem fazê-lo, pois ansiávamos avançar.
Telefonamos dali para os parentes pois já há alguns dias estávamos sem contato.
Fomos para o Rio Grande do norte.
Tentando cortar caminho, de acordo com o nosso mapa, fomos parar numa
cidadezinha chamada Tangará e chegamos mais cedo a Paraíba. Passamos no
subúrbio de João Pessoa e seguimos para Recife. Ao nos aproximarmos mais do
litoral vimos o aumento da vegetação e algumas plantações, sobretudo de
cana-de-açúcar, mas a Mata Atlântica, que cobria no passado uma extensa faixa
de terra próxima do litoral, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, com
largura média de 200 quilômetros, foi intensamente explorada e desmatada desde
o período colonial, especialmente nesta região.
No nordeste do Brasil essa mata
praticamente já desapareceu, restando apenas o nome Zona da Mata nordestina
onde ela existiu. E no sul do país também, cerca de 90% do Estado do Espírito
Santo eram ocupados pela Mata Atlântica; hoje resta apenas um resíduo de 2%; no
Rio de Janeiro restam apenas 13%. Os estados de São Paulo, Paraná e Santa
Catarina tinham em média 85% de suas terras cobertas por essa floresta
tropical. Atualmente, têm de 3% a 6%. A quase totalidade da floresta
desapareceu, destruída pelo homem. Tarde da noite passamos por Recife e
continuamos na BR 101 para Alagoas. Entramos em Maceió para sacar dinheiro no
caixa eletrônico e na saída da cidade dormimos até amanhecer o 41º dia da
viagem.
Se alguns lugares marcam pela
beleza, progresso ou conservação, outros marcam pela feiura, atraso e descaso.
Quando pegamos novamente a BR 101 saindo de Maceió, passamos pelo pior trecho
de estradas de toda a nossa viagem. Completamente esburacado, estragado, mal
sinalizado e mal conservado está aquele trecho que vai de Maceió até a
fronteira com o estado de Sergipe. Não se pode chamar de estrada. Ao lado da
pista, homens, mulheres e crianças fazem de conta que estão tapando buracos
tentando ganhar alguns trocados. Os caminhoneiros fogem deste trecho, com medo
de estragar o veículo ou serem assaltados ( por causa da baixa velocidade ).
Tentando seguir um pouco rápido, uma
roda nossa entortou e o pneu murchou. Enquanto parávamos para trocar vimos o
cavalinho de um caminhão passar naquele trecho a incrível velocidade de uns
noventa por hora. Minutos depois um carro da polícia correndo atrás a uns
setenta por hora. Roubaram mais um caminhão.
Entramos em Sergipe e como num
piscar de olhos a estrada ficou boa de novo. Cruzamos o "velho Chico"
e avançamos para Aracaju. Almoçamos nas proximidades da capital do estado e
-Bahia, ai vamos nós!
Senti a falta do mapa da América do
Sul, no qual vínhamos nos traçando uma linha sobre o nosso trajeto. Dei bronca
no Márcio e no Binho pelo sumiço da
preciosidade.
Fomos pela 101 e contornamos o
recôncavo baiano. Vimos as plantações de fumo e um pouco antes algumas bombas
antigas de extração de petróleo. No conjunto, todo o litoral do nordeste onde
passamos é recheado de grandes e pequenas cidades. A influência cultural mais
forte é a dos negros e nestas cidades do litoral vivem também inúmeras pessoas
que abandonaram o sertão.
A noite chegou e com ela uma
estranha neblina que nos fez lembrar do deserto do Atacama. O ruim é que no sul
da Bahia há trechos que não tem faixas demarcando as pistas. Mas com cuidado e
seguindo alguns caminhoneiros mais experientes continuamos avançando.
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