terça-feira, 30 de agosto de 2011

Giordano Bruno - Martir da Ciência e da Filosofia

Giordano Bruno foi um livre pensador italiano que, após iniciar-se na vida sacerdotal, começou a combater várias doutrinas da Igreja onde enfrentou abertamente os credos e dogmas da igreja Católica. Afastou-se da Itália e residiu por curtos períodos em várias cidades europeias (na Itália, Suiça, França, Inglaterra, Morávia, Boêmia, Alemanha. Adotou e defendeu o modelo copernicano com grande entusiasmo. A princípio, por praticamente não haver defensores de Copérnico, a Igreja não tinha uma posição oficial sobre o heliocentrismo. Mas as ideias de Copérnico não eram bem aceitas – nem mesmo em Oxford, onde Giordano Bruno deu palestras sobre o assunto.


Mas Bruno era insistente. Os mestres da escolástica (baseando-se em Aristóteles) diziam que, se a terra se movesse, as folhas e galhos mortos voariam sempre no mesmo sentido; as nuvens ficariam para trás, objetos soltos do alto de uma torre se afastariam do pé da torre. Bruno, no Banquete das Cinzas, refuta esses argumentos dizendo que a terra e tudo que nela se encontra formam um sistema. Seria como os objetos de um navio que se movem com ele. Assim, do mesmo modo, as nuvens, as aves, nossas residências e nós mesmos somos levados com a terra. Sustentou que a Bíblia devia ser seguida pelos seus ensinamentos morais e não por suas implicações astronômicas. Ele também criticou fortemente os costumes da sociedade inglesa e o pedantismo dos doutores de Oxford.

Na obra De la causa, Principio e Uno (1584) ele mostra a sua concepção de Universo. Matéria e Forma estão intimamente unidas (constituem o "Uno") – uma concepção monística do mundo – com a presença do poder transcendental permeando todas as coisas. Logo, Bruno é animista. Todas as coisas que existem estariam reduzidas a uma única essência material, estas providas de animação espiritual.

Para ele, Deus criou um Universo segundo sua própria essência. Dessa forma, o universo é infinito e ilimitado e contém, além do nosso, um sistema de mundos infinitos que surgem e declinam movidos pela força divina universal. Como Deus é infinito seria contraditório que a uma causa infinita não correspondesse um mesmo efeito infinito. Acreditava também que existiriam vários mundos habitados.

As teorias copernicanas encaixavam-se em seu modelo de mundo. Na verdade, após conhecer as ideias de Copérnico é que formulou suas ideias de Universo. Como possuía uma memória lógica e ordenada, impressionava a muitos com seus talentos (o papa Paulo III, o rei francês Henrique III e os professores de Oxford demonstraram grande admiração por sua capacidade e quiseram aprender com ele como ampliar os limites da memória). Tornou-se, por força das circunstâncias um professor de mnemônica.

Nos vários lugares onde morou, Bruno enfrentou resistências por defender o modelo copernicano, batendo de frente com as ideias escolásticas ancoradas em Aristóteles. Somente em Praga (Boêmia – atual República Tcheca) teve um ambiente tranquilo e favorável à sua defesa das ideias copernicanas (foi lá que Tycho Brae e Yohannes Kepler aprimoraram o modelo de Copérnico). Mas via na Alemanha melhores possibilidades de divulgar seu pensamento. Lá escreveu aquela que considerava sua maior obra: De imaginum signorum et idearum compositione (Sobre a Associação de imagens, os signos e as idéias) sobre as técnicas de aprendizagem mnemônica.

Em 1592, saudoso da Itália, atendeu aos vários apelos para ensinar Mnemônica a um aluno, João Mocenigo, em Veneza (a mais liberal das cidades italianas). Entretanto, o convite se revelou uma armadilha: Mocenigo traiu a confiança de Bruno prendendo-o no sótão de sua casa e denunciando-o aos inquisitores. Primeiro em Veneza e depois em Roma, seu julgamento se arrastou por mais de sete anos. Mesmo torturado e oprimido, Giordano Bruno manteve-se na defesa de suas principais ideias.

Em sua defesa, enfatizou a filosofia (disse que seu trabalho não era teológico) e buscou convencer seus inquisidores da legitimidade das suas ideias filosóficas e da possibilidade de conciliá-las com a revelação religiosa. Também alegou que a acusação tomara peças isoladas do contexto de seu trabalho e que não sabia o que deveria refazer.

Os inquisidores, liderados pelo cardeal Belarmino (originalmente Roberto Francesco Romolo Bellarmino - teólogo – mais tarde veio a ser canonizado São Roberto Belarmino) o pressionaram para uma retratação formal. Em 20 de janeiro de 1600, o Papa Clemente VIII ordenou sua condenação à morte como um impenitente e herege pertinaz (persistente). Quando a sentença de morte na fogueira foi lida em 08 de fevereiro, ele dirigiu-se aos juízes dizendo: Maiori forsan cum timore sententiam in me fertis quam ego accipiam.(1) 

Assim, em 17 de fevereiro de 1600, morria o primeiro mártir da ciência e do livre pensamento filosófico.

Fontes: Cobra, Rubem Q. - Giordano Bruno. Página de Filosofia Moderna, Geocities, Internet, 1997.

(1) "Vocês [meus juízes], pronunciam esta sentença contra mim com maior medo que o meu em recebê-la."

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...