Por Pâmela Danitza Lozano Carvalho
Nós sabemos que o sistema político do nosso país perdeu toda a sua credibilidade perante a população. A corrupção vem acompanhando a nossa história há muito tempo, e há quem diga que ela começou junto com o Brasil. O fato é que a corrupção já invadiu nossa cultura, fazendo parte do comportamento, não apenas dos governantes, mas também da população. Nossas reivindicações são muitas: saúde, transporte, educação, segurança e assim vai. Todas essas reivindicações, nós sabemos, não são atendidas satisfatoriamente - na gigantesca maioria das vezes, devido ao despreparo, à corrupção e ao descaso de nossos governantes.
Mas pedir por tudo, acaba resultando em não estar pedindo por nada. E mais, é preciso lembrar que, quando saímos às ruas com a bandeira do Brasil, estamos carregando o símbolo de nossa nação, e com ele, muita responsabilidade. Assim, é preciso ficar atento ao ardor com que tentamos defender nossa nação para que não venhamos a cair nos braços da extrema direita, pois momentos como esse, da revolta do povo pela ineficiência e ineficácia do serviço público, já aconteceram antes em nossa história, e logo depois um poder de extrema direita (ditadura) assumiu o poder. Não queremos que isso aconteça de novo. Há quem diga que a ditadura foi boa para o nosso país, melhor até que a democracia, entendendo que o direito de impor unilateralmente ordens que coordenam todo um país das dimensões do Brasil tem por vantagem agilidade de políticas rápidas e de uma aparente ordem imediata. Mas nós não podemos vender a nossa liberdade de expressão, nossa liberdade de ir e vir, apenas porque não estamos dispostos a lutar por um país melhor do que um ditatorial. Por outro lado os ditames da extrema esquerda nos levariam a um total colapso do sistema atual, inviável sobretudo para àqueles que mais precisam de mudanças.
É necessário que nos unamos, pois o povo percebeu a força que tem. Alguns amigos meus condenaram os manifestantes por gritarem: “O povo acordou!” – porque muita gente já protestava antes da massa sair às ruas. Por vezes a academia tende a ser muito sectarista, fechando-se, colocando a crítica acima da praticidade, o que numa hora como essa é grave. Acaba por se afastar daqueles cuja os direitos defende por excesso de politização. Mas vou discordar desses amigos agora, porque esses que protestavam antes, infelizmente, não eram e muitas vezes também não representavam a vontade da maioria. Muitas vezes não eram sequer uma grande minoria. E assim nossos direitos foram sendo deixados de lado. Entendo pela expressão ‘a maioria da população brasileira’, aqueles que não são politizados, mas que agora, ineditamente, dão legitimidade às nossas queixas.
E mais, vejo que em meio às manifestações, as bandeiras de partidos políticos estão sendo discriminadas. É importante analisar essa questão com muito cuidado e não apenas por um único ângulo.
A liberdade dos partidos representa historicamente a liberdade do povo. Significa a liberdade de se expressar, de reivindicar uma forma de pensar política. Por outro lado, é igualmente importante lembrar que, com a política totalmente desacreditada, os partidos políticos acabam inevitavelmente sendo símbolo, diante da grande massa, dessa política corrupta, pois esses partidos também fazem parte da política do Brasil. Além disso, o envolvimento de partidos políticos em manifestações pode acarretar em um desejo de liderança a partir desses partidos, e por isso os manifestantes os acusam de oportunistas. Por isso, acredito sim, que as manifestações devam ser apartidárias, mas de forma alguma antipartidárias. Um governo sem partido consiste num regime totalitarista, ditatorial.
Este é o momento de lutarmos pelos direitos que envolvem todos nós. As causas das minorias são muito importantes e legítimas também, mas não podemos ser egoístas e deixar de lado a grande oportunidade que este momento da história nos oferece – conquistar uma pauta que mude o eixo sob o qual se conduz a política no Brasil. Assim, a nova geração que está sendo formada hoje verá o poder das manifestações, o poder que a democracia oferece quando devidamente usada. Sabemos que uma significativa parte dos recursos que deveriam ir para nossa saúde, para nossa educação, para nosso transporte, segurança e tantos outros itens, são descaradamente desviados, roubados de nós, que pagamos um dos impostos mais altos do mundo, sem receber devidamente os serviços que tanto necessitamos em troca. Então como mudar essas questões sem antes mudar o curso da política que se faz no Brasil? De onde viriam os recursos se aqueles que desviam os recursos não mudarem e não pararem de nos roubar?
Acredito que a primeira coisa a reivindicar são medidas específicas para tornar a política mais transparente e de fato representativa.
Proponho uma pauta com apenas quatro itens, sendo que dois deles se tratam de leis não devidamente aplicadas pelo governo, e o terceiro, apesar de diretamente conectado ao combate à corrupção, é referente à nossa educação, informação para que estejamos garantidos no presente e no futuro. Digo “apenas” porque sabemos que são poucos em comparação a tudo que temos a questionar nesse governo, mas se apenas uma pauta por vez já está sendo difícil, imagine mais de uma.
Vejo que algumas pessoas colocaram suas pautas, algumas delas verdadeiramente excelentes. No entanto, sabemos que não é possível, na atual conjuntura dos fatos, nos darmos ao luxo de propormos uma pauta com muitos itens. Os assuntos de que tratamos são dos mais polêmicos e as opiniões as mais diversas, como estamos observando.
Através desses itens poderemos buscar a mudança do eixo sob o qual se dá a política interna do Brasil: políticos corruptos. Ao tirarmos esse peso morto das costas, as demais reivindicações virão e dessa vez com a confiança de uma gestão adequada e de informação devida sobre política.
A PAUTA:
Resolução 1 – Todos aqueles que estiverem em exercício de cargo público, e já tiverem sido condenados pela instância máxima da justiça em causa que impeça o exercício dos cargos em questão, sejam imediatamente destituídos de seus cargos.
Resolução 2 – Todos aqueles que estiverem em exercício de cargo público e simultaneamente estiverem respondendo a processo que possa impedi-los de exercer seu cargo devem ser imediatamente afastados de seus cargos.
Resolução 3 – Regularização completa e imediata do portal da transparência:
3.1 – Utilização das redes televisivas para ensinar a todos os públicos como navegar no portal da transparência.
3.2 – Criação de uma disciplina extra nos últimos seis meses a um ano de colégio que seria responsável por:
3.2 – I. Ensinar sobre a política do país: o que representa cada um dos cargos políticos de nosso país (isso diz respeito a todos, porém apenas quem busca tem direito a essa informação), apresentação das principais correntes políticas da atualidade (quais são suas reivindicações, o que elas propõem e em que partidos encontramos sua representatividade dessas ações políticas – (assim poderemos saber como votar e o que e como exigir aquilo que votamos na hora da eleição). Esse curso seria apartidário.
3.2 – II. Proporcionar meios de permitir que o recente cidadão possa entrar no mercado de trabalho: propiciar um estudo de cada área de trabalho no país. Podendo assim se fazer a análise de que áreas haverão mais e menos profissionais se formando em x anos somando-se a aqueles que já estão no exercício do oficio. Isso permitirá ao aluno, dentro de seu campo de interesses, escolher uma profissão que não lhe vá faltar oportunidades. O Brasil diminuiria seu alto déficit de mão de obra qualificada, o próprio governo poderia utilizar desse estudo para fazer investimentos em determinados setores de educação.
3.2 – III. Ensinar sobre cidadania, direitos humanos e direitos civis.
3.2 – IV. O curso deverá ser avaliado através de provas nacionais sobre os ensinos aplicados.
Resolução 4 – Exclusão imediata da PEC 37 e da PEC 33.
Mas como revolucionar o país sem violência? Alguns dizem que isso não é possível, que não se pode fazer uma reforma tão grande como a de tentar combater a natureza corrupta da política no Brasil sem violência, e que todas as revoluções até hoje foram MUITO violentas. No entanto, esse não é o pensamento da grande massa, da população brasileira. Na maior parte das vezes vamos escutar esse discurso vindo de pessoas politizadas. É importante lembrar o contexto histórico e social do país. O Brasil é um país essencialmente pacífico, especialmente se compararmos com esses outros países que sofreram revoluções. Além disso, o povo (e quando me refiro ao povo, quero dizer a grande maioria dos brasileiros, ou seja, pessoas não politizadas, pertencentes à classe média ou classe de baixa renda) vê a violência dos jovens manifestantes e daqueles que a mídia chama de marginais como atos de vandalismo e não legitimam essa ação. Ora, não se pode fazer uma revolução sem o povo e portanto as manifestações devem ser um reflexo daquilo que o povo legitima. Se as manifestações começarem a cansar ou amedrontar a população, o movimento se enfraquecerá e essa oportunidade desvanecerá.
Se o que eles querem é paz, devemos dar a paz a eles. Mas paz física, paz apenas no sentido de não destruir nada FISICAMENTE. Toquemos na parte que mais dói: o bolso! Imagine se a cidade de São Paulo (cito apenas como exemplo) for paralisada em função das manifestações em alguns pontos críticos da metrópole, ao invés de que seja apenas em horas específicas? Imagine (apenas como um exercício de imaginação) bloquear algumas ruas ou avenidas e não sair de lá – até mesmo acampar, até que as exigências sejam satisfeitas? Os primeiros a sofrerem seriam os detentores do dinheiro. E vou explicar o porquê. Os trabalhadores não poderiam pagar, pois estariam sendo impedidos de chegar aos seus trabalhos. A população não sofreria, pois não haveria violência, mas uma resistência pacífica. Porém, os detentores do capital veriam do dia para noite a fonte de sua renda ser paralisada. A pressão viria de todos os lados sobre o governo, tanto no plano internacional quanto no plano interno, afinal, sem força de trabalho o país não anda e essa força somos nós.
Por isso é importante contrabalancear a pauta com reivindicações de direita e de esquerda, para não cairmos no populismo, nacionalismo e ufanismo, não nos debandarmos para a direita ou a esquerda radical.