Quando Anderson (Enderson), diante das duas pílulas, toma a
decisão de tomar a pílula azul, ele decreta o fim da existência do sr. Anderson,
ou algo ainda melhor, o seu renascimento. Ali, Neo (do grego ‘novo’) nasce para
uma nova realidade, a realidade do conhecimento da realidade, a realidade do
esclarecimento. Naquele momento, Neo nasce para “a verdadeira realidade”.
Teremos no filme, lado a lado, Teologia e Filosofia, com uma
boa dose de antropologia e psicologia social.
O determinismo (uma negação do livre arbítrio) parece uma
constante na Matrix, mas Neo está ali para provar que nossas escolhas
determinam, em especial, nosso futuro e cotidianamente, nosso grau de liberdade.
Bem, vamos às explicações. Zion é a única cidade humana
livre. Zion é a palavra em inglês para Sião, biblicamente, a cidade prometida,
a cidade livre de todo o mal.
Morpheus é o deus grego do sono, mas no filme é ele quem
tenta despertar Anderson e levá-lo a uma nova forma de lidar com o conhecimento
e com sua capacidade de escolha (a raiz do livre arbítrio).
A medida que o filme avança, a grande descoberta de Neo não
é a ‘realidade’ da Matrix, mas a descoberta de si mesmo, indo ao encontro do maior
dos ensinamentos do filósofo Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”.
Em que pese a questão da Inteligência Artificial, o que move
o filme é a filosofia que ele encarna. Platão já falava que vivemos em uma
caverna, enganados e iludidos acerca da realidade e do conhecimento. É preciso
sair da caverna. Neo sai (com sofrimento) e, à semelhança da Alegoria da Caverna
(do filósofo Platão), ele volta para ajudar a libertar outros. Na verdade, ao perceber
que a Matrix não é real, Neo não pode mais voltar atrás, simplesmente não há
como.
Descartes
afirma que a realidade última do conhecimento está em nossa mente, em nossa
razão. Penso, logo existo. Mas que tipo de existência?
Logo, fica claro que as pessoas vivem uma grande ilusão e,
trocando em miúdos, uma grande ilusão criada por outros, que tudo controlam
através da cultura vazia de instituições mantenedoras do status quo, promotoras do ‘ter’ e do ‘parecer ser’ sobre o ser, da
existência sobre a essência, da loucura coletiva, do viver sem pensar, sem
refletir – em síntese, é isso que muitos vivem e buscam.
As máquinas descobriram que para os seres humanos aceitarem
essa realidade virtual eles precisam, nem que fosse de forma inconsciente ou subliminar,
poder escolher não participar disso.
O (ou a) Oráculo é justamente um programa criado para entender e ajudar os seres humanos que não aceitassem a realidade da grande Matrix. É como se a máquina tivesse um programa para ajudar a resolver os problemas da máquina ou de seus componentes.
No filme, a Inteligência Artificial tem as suas lições filosóficas. Se não há meios ‘humanos’ de vencer as máquinas, resta manter a esperança, embora muitos já tenham escolhido ceder, dando lugar à ilusão e a irracionalidade.
O (ou a) Oráculo é justamente um programa criado para entender e ajudar os seres humanos que não aceitassem a realidade da grande Matrix. É como se a máquina tivesse um programa para ajudar a resolver os problemas da máquina ou de seus componentes.
No filme, a Inteligência Artificial tem as suas lições filosóficas. Se não há meios ‘humanos’ de vencer as máquinas, resta manter a esperança, embora muitos já tenham escolhido ceder, dando lugar à ilusão e a irracionalidade.
Morpheus simboliza, sobretudo, a vitória da crença, da fé. A
cada demonstração de que Neo pode ser o ‘escolhido’, Morpheus aumenta sua
crença e reforça sua fé. Ele abre mão até de seu grande amor (Niobi), e até
mesmo de sua vida, para garantir a vida do ‘eleito’, do ‘escolhido’.
O Oráculo condiciona as profecias às escolhas individuais, justamente
porque essa é a essência do cumprimento das profecias (elas são fruto das ações
humanas). É como quando Jonas profetiza a destruição de Nínive, e face ao
arrependimento de seus moradores, seu destino é mudado e a profecia não se
cumpre. Enfatizando o poder da escolha, Morpheus explica a Neo o que a Oráculo
disse, quando falou a ele: "... exatamente o que você necessitava ouvir,
isto é tudo." Mais adiante, Morpheus completa: "Neo, em breve você
vai perceber como eu, que há uma diferença entre conhecer o caminho, e seguir
este caminho".
A nave se chama Nabucodonozor por dois motivos. Ele foi um pioneiro, o
primeiro rei do primeiro reino universal (Babilônia) profetizado por Daniel e,
ao mesmo tempo, foi o rei que ‘acordou’ de sua ilusão, e voltou-se para a
realidade. Um pioneiro. A nave é a portadora daqueles que ‘acordaram’ da sua
ilusão.
Há várias trindades nas diversas religiões e culturas. A começar pela principal, a trindade do
cristianismo, temos na história das religiões várias trindades (hinduísmo:
Brama, Vixnu e Xiva; grega - Zeus, Hades e Poseidon e a egípcia – Osíris, Ísis
e Seth).
Morpheus, Trinity e Neo formam a trindade do filme, onde o
próprio nome de um deles carrega esse sentido (Trinity - trindade). A volta de
Neo à vida é a vitória da mente sobre o corpo, do espírito sobre a matéria, da
vontade sobre a razão. E é claro, é um símbolo teológico da ressureição.
Mesmo considerando as questões teológicas (que envolvem
necessariamente religiões), filosóficas (que viajam desde a filosofia antiga,
passam pela medieval, moderna e chegam a filosofia de nossos dias),
tecnológicas (realidade virtual, lutas, efeitos especiais, Inteligência
artificial), filmes de ficção científica (The Terminator, Metrópolis), HQ e Animes
(Os Invisíveis, Akira, Serial Experiments Lain, Ghost in the Shell), o que fica
mesmo é a questão essencial da vida: livre arbítrio, escolhas, decisões e consequências
de nossos atos.
Bem, isso tudo é sobre o primeiro filme da série, o mais significativo dos três. Os dois seguintes são bons, mas o exagero na busca de efeitos especiais e as muitas lutas para agradar a uma parte do público que ‘amou’ o filme, esvaziaram o que Matrix tinha de melhor – levar as pessoas à reflexão sobre a realidade.
Bem, isso tudo é sobre o primeiro filme da série, o mais significativo dos três. Os dois seguintes são bons, mas o exagero na busca de efeitos especiais e as muitas lutas para agradar a uma parte do público que ‘amou’ o filme, esvaziaram o que Matrix tinha de melhor – levar as pessoas à reflexão sobre a realidade.
5 comentários:
Olha, uma aula de filosofia e até teologia. Papo cabeça pra muitos. Eu como curto filosofia adorei o site e as explicações. Realmente Matrix foi um divisor de águas na História do Cinema. Lembrei de Lost que bebeu dessa fonte, apesar de que a indústria do entretenimento acha esses filmes inteligentes demais. É justamente esse o legado de Matrix!
Abraços,
Lenilson Moutinho
Mogi das Cruzes
Ótima explicação
Só uma correcção. Sei k este post é antigo. Mas na minha análise e depois de assistir muitas vezes a triologia e comparar com muitas interpretações a minha opinião e k zion tbm é virtual tal como matrix. Sao dois sistemas k tem uma interface para interagir. Neo foi mais um programa criado pr uma razao k ainda n sei explicar bem
FOI criado para eliminar o vírus Smith e manter a paz no sistema,pois ele (neo)acreditava que era humano realmente devido a uma falha intencional em sua programação. Zion realmente era virtual. Ou seja, as máquinas sempre estiveram no controle, apenas usaram o programa Neo para eliminar uma provável ameaça(smith) e continuar controlando os humanos com a ilusão e esperança de liberdade. Assim os humanos acabavam acreditando que estavam livres quando na verdade continuavam aprisionados e alimentando as máquinas....máquinas espertinhas
Muito bom ! Será que estamos em uma Matrix? Vai saber. Eu e quem nao duvido rs
Edson Valente - Belem-Pa 2018
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