Kohlberg
foi professor na Universidade de Chicago, bem como na Universidade Harvard.
Especializou-se na investigação sobre educação e argumentação moral, sendo mais
conhecido pela sua teoria dos níveis de desenvolvimento moral. Muito
influenciado pela teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, o
trabalho de Kohlberg refletiu e desenvolveu as ideias de seu predecessor, ao
mesmo tempo criando um novo campo na psicologia: “desenvolvimento moral”.
A teoria do desenvolvimento moral
é a mais conhecida de Kohlberg. Sua teoria, assim como a de Piaget, é
universalista. Não afirma a universalidade das normas, mas a das estruturas que
permitem a aplicação das normas em contextos precisos e proporcionam critérios
para o juízo moral. Acredita que através de um processo maturacional e
interativo, todos os seres humanos têm a capacidade de chegar à plena
competência moral, medida pelo paradigma da moralidade autônoma, ou, como prefere
Kohlberg, pela da moralidade pós-convencional.
Os
seis estágios de Kohlberg podem ser, generalizadamente, agrupados em três
níveis de dois estágios cada: pré-convencional, convencional, e
pós-convencional.
Seguindo
as exigências construcionistas de Piaget de um modelo de estágios, como exposto
em sua teoria do desenvolvimento cognitivo, é extremamente raro regredir em
estágios – perder o uso de capacidades de estágios mais altos. Não se pode
pular estágios, cada um fornece uma nova e necessária perspectiva, mais
abrangente e diferenciada de seu predecessores, mas integradas com eles. Os
estágios não avançam em “bloco”, podendo a pessoa estar em determinado estágio
em uma área, e em outro estágio em outra área.
Sua teoria é dinâmica, e não apenas estática. Potencialmente, todo
indivíduo é capaz de transcender os valores da cultura em que foi socializado,
ele não apenas os incorpora passivamente. Com isso, a própria cultura pode ser
modificada.
Podemos
esquematizar a teoria de Kohlberg da seguinte maneira:
Nível
1 (Pré-Convencional)
1.
Orientação “punição obediência” (Como eu posso evitar a punição?)
2.
Orientação auto-interesse (ou “hedonismo instrumental”) (O que eu ganho com
isso?)
Nível
2 (Convencional)
3.
Acordo interpessoal e conformidade (Normas sociais)
(Orientação
“bom moço”/“boa moça”)
4.
Orientação “manutenção da ordem social e da autoridade” (Moralidade “Lei e
Ordem”)
Nível
3 (Pós-Convencional)
5.
Orientação “Contrato Social”
6.
Princípios éticos universais (Consciência principiada)
Nível
pré-convencional
O
nível pré-convencional de argumentação moral é particularmente comum em
crianças, embora adultos também possam exibir esse nível de argumentação. Nesse
nível, o juízo da moralidade da ação é feito com base em suas consequências
diretas. O nível pré-convencional consiste apenas do primeiro e segundo
estágios de desenvolvimento moral, e está preocupado apenas com o próprio ser
de uma maneira egocêntrica. Alguém com uma moral pré-convencional ainda não
adotou ou internalizou as convenções da sociedade sobre o que é certo ou
errado, mas, em vez disso, foca-se grandemente em consequências externas que
certas ações possam ter.
O
estágio 1 é o do castigo e obediência. Nesse estágio, a moralidade para a
criança consiste em observar literalmente as regras, obedecer à autoridade e
evitar o castigo. Por exemplo, uma ação é vista como errada apenas porque
aquele que a cometeu foi punido. “Da última vez que fiz tal coisa, apanhei,
então não farei de novo”. Quanto pior a punição, pior é visto o ato. O ponto de
vista é egocêntrico, o ator não distingue entre seus interesses e os dos
outros, que o ponto de vista dos outros pode ser diferente do seu. Há uma
deferência para aqueles vistos como de maior poder ou prestígio.
O
estágio 2 é aquele em que a pessoa é movida apenas pelos próprios interesses. O
comportamento moral consiste em seguir regras quando forem do interesse
imediato do ator, e em reconhecer que os outros também têm seus próprios
interesses, o que pode justificar uma troca entre atores, integrando interesses
recíprocos, mas apenas até o ponto em que isso serve aos interesses do próprio
ator. O ponto de vista inclui, portanto, o de outros indivíduos, numa base
instrumental, ocorrendo uma certa descentração, embora mínima. O respeito pelos
outros não está baseado em lealdade ou respeito mútuo, mas no sentido de “uma
mão lava a outra”. A falta de perspectiva do estágio 2 também não pode ser
confundida com o estágio 5, pois aqui todas as ações têm o propósito de servir
os próprios interesses ou necessidades do próprio indivíduo.
Nível convencional
O
nível convencional de argumentação moral é típico de adolescentes e adultos.
Aqueles que argumentam de uma maneira convencional julgam a moralidade das
ações comparando-as com as visões do mundo e expectativas da sociedade. A
moralidade convencional é caracterizada por uma aceitação das convenções
sociais a respeito do certo e do errado. Nesse nível um indivíduo obedece
regras e segue as normas da sociedade mesmo quando não há consequências pela
obediência ou desobediência. Aderência a regras e convenções é de algum modo
rígida, entretanto, a adequação da aplicação de uma regra ou a justiça dela é
por vezes (poucas) questionada.
O
estágio 3 é o das expectativas interpessoais mútuas, e do conformismo, em que o
ser entra na sociedade preenchendo papéis sociais (identidade dos papéis). O
correto é atender às expectativas das pessoas de referência, ser um “bom moço”,
no papel de filho, irmão ou amigo, tendo sido ensinado que há um valor inerente
a tal comportamento. O ponto de vista inclui as perspectivas dos outros e
sentimentos compartilhados, que têm precedência sobre os interesses
individuais. A argumentação do estágio 3 pode julgar a moralidade de uma ação
valorando as suas consequências em termos dos relacionamentos de uma pessoa, a
qual agora começa a incluir coisas como respeito, gratidão, e a “regra de
ouro”. Desejo de manter as regras e autoridade existe apenas manter esses
papéis sociais. As intenções das ações desempenham um papel mais significante
na argumentação neste estágio; “eles têm boas intenções...”.
O
estágio 4 é aquele em que a pessoa se move com base na obediência a autoridade
e ordem social. O correto é cumprir seu dever na sociedade, preservar a ordem
social, e manter o bem-estar da sociedade ou do grupo. O ponto de vista é o do
sistema ou do grupo social como um todo, e considera os interesses individuais
dentre desse quadro de referência mais amplo. O argumentação moral no estágio
quatro está além da necessidade de aprovação individual exibida no estágio
três; a sociedade deve aprender a transcender necessidades individuais. Um
ideal (ou ideais) central frequentemente prescreve o que é certo ou errado,
como no caso do fundacionalismo. Se uma pessoa viola uma lei, talvez todo mundo
possa – portanto, há uma obrigação e um dever em manter leis e regras. A
maioria dos membros ativos da sociedade permanecem no estágio quatro, onde a
moralidade é predominantemente ditada por uma força externa.
Nível
pós-convencional
O
nível pós-convencional, também conhecido como “nível principiado”, consiste dos
estágios cinco e seis do desenvolvimento moral. Há uma crescente percepção de
que os indivíduos são entes separados da sociedade, e de que a perspectiva do
próprio indivíduo pode tomar precedência sobre a visão da sociedade; eles podem
desobedecer regras inconsistentes com princípios universais que possam ser
justificados. Essas pessoas vivem de acordo com seus próprios princípios
abstratos sobre o certo e o errado – princípios que tipicamente incluem direitos
humanos básicos. Devido ao fato desse nível colocar a “natureza do ser antes
dos outros”, o comportamento de indivíduos pós-convencionais, especialmente
daqueles no estágio seis, podem ser confundido com o daqueles no nível
pré-convencional. As pessoas que exibem uma moralidade pós-convencional veem as
regras como necessárias e como mecanismos mutáveis – idealmente, as regras
podem ajudar a manter a ordem social geral e a proteger os direitos humanos. As
regras não são ditos absolutos que devem ser obedecidos sem questionamentos,
podendo ser desobedecidas ou modificadas com base em justificativas universais.
O
estágio 5 é o dos direitos pré-existentes e do contrato social ou utilidade. A
visão de mundo de quem está neste estágio é a de que no mundo existem pessoas
de diferentes opiniões, direitos, e valores. O correto é apoiar os direitos,
valores e contratos jurídicos de uma sociedade, mesmo quando estão em conflito
com as normas concretas do grupo. As leis são consideradas como contratos
sociais em vez de um mandamento rígido. Aquelas que não promovem o bem-estar
geral devem ser modificadas quando necessário para adequar-se ao “bem máximo
para o maior número de pessoas”. Isso é atingido através da decisão da maioria,
e do comprometimento inevitável. Muitos dos atos de um governo democrático são
baseados no estágio cinco.
O
estágio 6 é o dos princípios universais éticos. As leis e acordos sociais só
são válidos na medida em que derivam de tais princípios. Assim, quando a lei
viola esses princípios, é preciso agir de acordo com eles. Os princípios em
questão são os da igualdade dos seres humanos e o respeito por sua dignidade
como indivíduos, considerados como fins e não enquanto meios, como na filosofia
de Immanuel Kant. Existe uma capacidade de se imaginar no lugar do outro. O
ponto de vista é universalista, transcendendo grupos e sociedades particulares,
e se baseia numa ética válida para todos, da qual derivam arranjos e
instituições concretas. Os direitos escritos formalmente não são necessários,
pois os contratos sociais não são essenciais para a ação moral deôntica. O
indivíduo age porque é o correto a ser feito, não porque tal ação é
instrumental, esperada, legal, ou foi previamente acordada. Para Kohlberg,
raras pessoas atingem este estágio.
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