ALEXANDER LURIA
Alexander
Romanovich Luria (1902 - 1977) foi um famoso neuropsicólogo russo, especialista
em psicologia do desenvolvimento. Foi um dos fundadores de psicologia
cultural-histórica onde se inclui o estudo das noções de causalidade e
pensamento lógico-conceitual da atividade teórica enquanto função do sistema
nervoso central. Filho de pais judeus, estudou no Curso de Ciências Sociais da
Universidade Estadual de Kazan (graduado em 1921) e graças ao seu interesse em
psicologia e à sua erudição, em 1924, foi convidado a participar do Instituto
de Psicologia de Moscou. Estudou no Instituto médico de Kharkov e no Instituto
Médico de Moscou graduando-se em medicina em 1937, onde depois foi professor
(1944). Obteve seu doutorado em Pedagogia
(1937) e Ciências Médicas (1943).
No
início dos anos trinta Luria foi para a escola médica. Durante a guerra, Luria
continuou seu trabalho no Instituto de Psicologia de Moscou. Durante um
determinado período, ele ficou afastado do Instituto de Psicologia,
principalmente como resultado da intensificação do anti-semitismo e optou por
pesquisar crianças mentalmente retardadas no Instituto de Defectologia durante
os anos cinqüenta. Ocasionalmente, a partir de 1945, Luria trabalhou na
Universidade Estadual de Moscou, o que foi essencial para fundação da Faculdade
de Psicologia na Universidade Estadual de Moscou onde ele depois chefiou os
Departamentos de Psicopatologia e Neuropsicologia. Enquanto um estudante em
Kazan, ele estabeleceu a Associação Psicanalítica Kazan e trocou cartas com Sigmund Freud (1856-1939).
Em
1923, com seu trabalho sobre tempos de reação associados a processos de
pensamento, conquistou uma colocação no Instituto de Psicologia de Moscou. Lá,
ele desenvolveu o “método motor combinado", que ajudava diagnosticar
processos específicos de pensamento, criando o primeiro dispositivo efetivo
detector de mentira. Esta pesquisa foi publicada no EUA em 1932 e em russo
apenas em 2002.
Em
1924, Luria conheceu Lev Vygotsky (1896-1934)
que grandemente o influenciaria. Junto com Alexei Nikolaievich Leontiev (1904-1979), estes três psicólogos lançaram um projeto
de desenvolver uma psicologia radicalmente nova. Esta aproximação inter -
relacionou “análises “culturais” e ”históricas", à "psicologia
instrumental" usualmente conhecida, em nossos dias, como psicologia
cultural-histórica. Essa psicologia
enfatiza o papel mediador da cultura, particularmente da linguagem, no
desenvolvimento de funções mentais superiores na ontogênese e filogênese.
Nos
anos trinta Luria deu continuidade ao seu trabalho com as expedições para
pesquisas de neuropsicologia e cultura na Ásia Central. Sob supervisão de
Vygotsky, Luria investigou várias mudanças psicológicas (inclusive percepção,
resolução de problemas, e memória) que se sucederam como resultado de
reeducação e desenvolvimento cultural que aquelas minorias (as aldeias nômades
do Uzbekistão e da Khirgizia) se submeteram nas intervenções do governo
revolucionário. O que tem sido considerado como uma importante contribuição ao
estudo da linguagem verbal.
Posteriormente
ele estudou gêmeos idênticos e fraternos nos grandes internatos escolares para
determinar a interação da multiplicidade de fatores genético e culturais que
interferem no desenvolvimento humano. No início de seus estudos
neuropsicológicos no final dos anos trinta como também ao longo da vida
acadêmica pós-guerra dele ele concentrou-se no estudo da afasia, focalizando a
relação entre linguagem, pensamento e funções corticais, especialmente o
desenvolvimento da compensação de funções corticais na reabilitação da afasia.
Durante
Segunda Guerra Mundial Luria liderou uma equipe de pesquisa no Hospital do
Exército para desenvolver métodos de reabilitação de deficiências orgânicas
psicológicas em pacientes com lesões no cérebro. Morreu, em Moscou aos 75 anos,
alguns anos depois de publicar os estudos de casos realizados nesse período,
praticamente dando início à Neuropsicologia que conhecemos hoje.
Neuropsicologia
Foi
pelo seu trabalho no Hospital do Exército que se originaram suas principais
contribuições à Neuropsicologia. Destacam-se dois entre os estudos de caso
realizados, um apresenta S.V. Shereshevskii,
jornalista russo com uma memória aparentemente ilimitada (1968), em parte
devido à sua acentuada sinestesia. Este caso foi apresentado em um livro The Mind of a Mnemonist (A Mente de um
Memorioso). O outro livro de Luria relativamente bem conhecido é The Man with a
Shattered World (O Homem com um Mundo Despedaçado), uma penetrante relato de Zasetsky, um homem que sofreu uma lesão
cerebral traumática (1972). Estes estudos de caso ilustram os principais
métodos de Luria de combinar as medidas clássicas de anamnese e diagnóstico com
registro detalhado (psicométrico) da função alterada e sua progressiva
reabilitação.
As contribuições suas e de Vigostski à
localização das funções cerebrais modificando as noções de centros da
ação reflexa a partir dos analisadores corticais fixos propostos por Pavlov
(1849-1929) como centros da ação reflexa para um sistema de localização
funcional dinâmica e mutável. A neuroplasticidade das funções nervosas está
entre as suas principais contribuições à neurociência moderna. Seus estudos com Vigotski referem-se à
instalação, perda e recuperação de funções ao nível do sistema nervoso central
considerando tanto as variáveis que interferem na filogênese – ou história
evolutiva da espécie como a partir das formações sociais
histórico-culturalmente definidas além da ontogênese ou historia individual.
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