Eu era um jovem professor no UNASP, na estrada de Itapecerica
da Serra (São Paulo, zona sul), o ano era 1989 e a cada semana tínhamos que
promover uma reunião cultural com os alunos, chamada na instituição de “Capela”.
Um dia, na Biblioteca do instituto li em um jornal que o João do Pulo dava
palestras para diferentes públicos. Não fiquei nem um minuto a mais assentado
ali – saí e fui direto pegar um telefone para ligar para um dos mais famosos
atletas brasileiros de então. Liguei e, de seu gabinete (Assembléia), ele mesmo
atendeu o telefone e, sem delongas, aceitou o convite para compartilhar no IAE
um pouco da sua rica experiência.
Quando ele chegou, andava devagar e eu, sem conseguir
esconder o entusiasmo pela sua presença, fui logo o enchendo de perguntas. Ele,
calmamente, respondia a todas. Finalmente o conduzi a frente do auditório, onde
ele narrou sua epopeia como recordista mundial do salto triplo. Ele não tocou
no assunto do acidente e, é claro, minhas perguntas não foram nenhuma vez nessa
direção. Abrimos o espaço para as perguntas e logo vieram aquelas perguntas
típicas de alunos da quinta série: - Porque você não salta mais?
Bem, ele foi evasivo e educado. Disse que já tinha se
aposentado como atleta. A entrevista terminou e nossa conversa se prolongou um
pouco mais. Senti ali, naquele pouco tempo que permanecemos juntos, uma pessoa
humilde, um pouco triste, mas acima de tudo, um ser humano incrível, lutador e determinado.
Nos despedimos e guardei aquele dia em minha memória e coração.
Não sei o porquê, mas meus contatos e admiração sempre foram
direcionados a atletas que a mídia não dá muita atenção (pelo menos não quando
eles mais precisam). Além do João, conheci pessoalmente o Rubens Barrichelo e o
Alexandre Sloboda (vôlei).
Porque toquei nesse assunto? É porque hoje fazem 13 anos que o João faleceu.
Hoje, a juventude (a maioria) não faz nem
ideia de quem era o João do Pulo. Mas aqueles que acompanhavam o esporte nos
anos setenta e oitenta (século passado) sabem. Quem era João do Pulo?
João Carlos de Oliveira nasceu no interior de São Paulo em
1954. Em 1973, com 21 anos, quebrou o
recorde mundial júnior de salto triplo no Campeonato Sul-Americano de Atletismo
com a marca de 14,75 m. Em 1975, dois anos depois, nos Jogos Pan-Americanos da
Cidade do México conquistou a medalha de ouro no salto em distância com a marca
de 8,19 m e em 15 de outubro, também a medalha de ouro no salto triplo, com a
incrível marca de 17,89 m, quebrando o recorde mundial desta modalidade em 45
cm, e que pertencia ao soviético Viktor Saneyev. Na Olimpíada de Montreal em
1976 ficou com a medalha de bronze com a marca de 16,90 m. Em 1979, nos Jogos Pan-americanos
de Porto Rico, tornou-se bicampeão tanto do salto triplo como do salto em
distância.
Em 1980, nas Olimpíadas de Moscou ele era o favorito para
vencer o salto triplo. Mas, estranhamente, os fiscais anularam várias de suas
tentativas (que causou muitas especulações) e ele ficou novamente com a medalha
de bronze.
Ainda no auge, com apenas 29 anos, teve sua carreira atlética
brutalmente interrompida em 22 de dezembro de 1981, quando sofreu um acidente
automobilístico. Sua perna direita teve que ser amputada e foi forçado a
aposentar o sonho das medalhas.
Após recuperar-se, concluiu o curso de Educação Física e foi
eleito deputado em São Paulo pelo PFL duas vezes. Seguiu sua vida longe dos
ginásios e pistas de atletismo, mas a depressão o visitou com força. Solitário,
empobrecido e esquecido pela mídia, João morreu em 1999 devido a uma cirrose
hepática e infecção generalizada.
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