quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Paulo Freire - Um Gigante na História da Educação

PAULO FREIRE

Paulo Regulus Neves Freire (1921-1997) foi um dos maiores, senão o maior educador brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência política. Autor de “Pedagogia do Oprimido”, um método de alfabetização dialético, se diferenciou do "vanguardismo" dos intelectuais de esquerda tradicionais e sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático.

É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica. É reconhecidíssimo em vários países como um grande educador e o estudo de suas propostas está currículo de grandes Universidades. Autor de mais de 40 livros, traduzidos em 28 idiomas. A sua prática didática fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante; o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado.

O Lado Triste e Difícil

Perseguido pela ditadura militar, teve de deixar seu posto em Brasília, onde coordenava o Programa Nacional de Alfabetização lançado pelo governo João Goulart. O educador passa 70 dias preso e parte para o exílio. No Chile, depois de uma rápida passagem pela Bolívia, escreve o seu “Pedagogia do Oprimido”. Paulo Freire começa a ser conhecido e traduzido em vários países. Mora nos Estados Unidos (deu aulas em Harvard) e, em 1970, transfere-se para a Suíça. Em 1968 foi consultor da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e, desde 1970, consultor especial do setor de educação do Conselho Mundial de Igrejas. Em 1979 volta ao Brasil. É convidado a lecionar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica paulista (PUC-SP). Em 1989, toma posse como secretário Municipal de Educação de São Paulo, na gestão da prefeita Luiza Erundina (PT). Deixou o cargo em 27 de maio de 1991. No período foi criticado por colegas, professores e membros do PT.

O Lado Positivo e de Sucesso

Cidadão honorário de diversas cidades brasileiras. Condecorado 24 vezes com medalhas, comendas e prêmios de vários países. Doutor honoris causa em 28 universidades. Convidado oficial de 54 países dos cinco continentes. Homenageado com uma estátua em Estocolmo, capital da Suécia. Paulo Freire é o educador brasileiro mais conhecido, respeitado e festejado em todo o mundo.

Pedagogia do Oprimido

Nesse livro, Paulo Freire expõe de maneira sistemática a essência de seu pensamento pedagógico. Para ele o processo educativo nunca seria politicamente neutro, mas sim uma ação cultural que resultaria numa relação de domínio ou de liberdade entre os seres humanos. Certo de que o Brasil era dividido em classes com interesses vitais antagônicos, Freire identificava aqui a existência de uma educação voltada para a dominação. Nela, a seu ver, o processo educativo seria rígido, autoritário e avesso ao diálogo com os alunos. Produziria professores empenhados em ter alunos dóceis e passivos e em dar aulas formais e distantes da realidade dos estudantes.

O que essa pedagogia da dominação tentaria impingir, escrevia Freire, seriam os interesses dos latifundiários e industriais, a burguesia, no jargão da Sociologia. Do outro lado, estariam os dominados: operários, camponeses, assalariados. A eles, a pedagogia da libertação poderia dar conhecimentos e suscitar reflexões que lhes possibilitassem tomar consciência de serem explorados e de que poderiam mudar tal situação. Necessariamente essa pedagogia teria de ser flexível, participativa e incentivar ao máximo o diálogo entre mestres e alunos. A tal proposta, Paulo Freire adicionava uma espécie de método de trabalho que alcançou sucesso internacional.

Reconhecido e aplicado nos cinco continentes, o "método Paulo Freire" é uma proposta em que pedagogia e política estão entranhadas. Junto com o ensino das letras, sílabas e palavras, dizia Freire, os alunos deveriam ser incentivados a entender seu papel na sociedade. Por mais humilde que fosse, todo ser humano seria um "fazedor de cultura", quer dizer, teria um repertório cultural rico como o de qualquer outra pessoa de formação mais acabada.

Na Prática

O processo de alfabetização propriamente dito deveria ser iniciado com palavras conhecidas pelos alunos. Seriam as "palavras geradoras". O exemplo clássico é tirado do esforço de alfabetização feito com os operários que construíam Brasília, nos anos 60. Escrevia-se uma palavra geradora conhecida por eles:

TIJOLO - Em seguida, a mesma palavra era grafada com suas sílabas separadas: TI-JO-LO. No passo seguinte, eram apresentadas as "famílias fonêmicas" das três sílabas: TA - TE - TI - TO – TU; JA - JE - JI - JO – JU; LA - LE - LI - LO – LU. A sala era, então, convidada a formar palavras com as novas sílabas. O método continuava com a apresentação das vogais e de palavras com um grau maior de dificuldade, por exemplo, as com dígrafos - lh, nh, ss, rr... - como TELHADO ou MASSA.
Paulo Freire na volta ao Brasil em 1980

Suas teses básicas sustentam que o pedagogo deve cuidar de libertar o homem das alienações a que a consciência dominadora o submete. Em tal contexto entende-se o conceito de conscientização. O primeiro passo nessa direção é a alfabetização, entendida como aproximação crítica da realidade por meio da linguagem, "ato criador capaz de gerar outros atos criadores". As palavras usadas no método Freire são ditadas pela realidade do alfabetizando, como, por exemplo, enxada para o lavrador ou torno para o operário. A educação preconizada por Freire é, ao contrário da idéia de "educação para a domesticação", uma educação "para a libertação", ato de conhecimento e meio de transformação da realidade.

“O homem deve ser o sujeito da sua própria educação. Não pode ser objeto dela... Por outro lado a busca deve ser algo e deve traduzir-se em ser mais: é uma busca permanente de “si mesmo”... Sem dúvida ninguém pode buscar na exclusividade, individualmente. Esta busca solitária poderia traduzir-se em um ter mais, que é uma forma de ser menos. Esta busca deve ser feita com outros seres que também procuram ser mais e em comunhão com outras consciências, caso contrário se faria de umas consciências objetos de outras. Seria coisificar as consciências.” Paulo Freire

Fontes:
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 5ª Edição, Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1982, p. 28.
Site da Nova Escola (Abril)
Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra (3 ed. 1994).
Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d'água. (6 ed. 1995).
www.abec.ch/Portugues/.../biografias/Biografia_de_Paulo_Freire.pdf

2 comentários:

Roberto Corrêa de Andrade disse...

"As técnicas que ele inventou foram aplicadas no Brasil, no Chile, na Guiné-Bissau, em Porto Rico e outros lugares. Não produziram nenhuma redução das taxas de analfabetismo em parte alguma.

Produziram, no entanto, um florescimento espetacular de louvores em todos os partidos e movimentos comunistas do mundo. O homem foi celebrado como gênio, santo e profeta.

Isso foi no começo. A passagem das décadas trouxe, a despeito de todos os amortecedores publicitários, corporativos e partidários, o choque de realidade. Eis algumas das conclusões a que chegaram, por experiência, os colaboradores e admiradores do sr. Freire:

“Não há originalidade no que ele diz, é a mesma conversa de sempre. Sua alternativa à perspectiva global é retórica bolorenta. Ele é um teórico político e ideológico, não um educador.” (John Egerton, “Searching for Freire”, Saturday Review of Education, Abril de 1973.)

“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)

“[No livro de Freire] não chegamos nem perto dos tais oprimidos. Quem são eles? A definição de Freire parece ser ‘qualquer um que não seja um opressor’. Vagueza, redundâncias, tautologias, repetições sem fim provocam o tédio, não a ação.” (Rozanne Knudson, Resenha da Pedagogy of the Oppressed; Library Journal, Abril, 1971.)

“A ‘conscientização’ é um projeto de indivíduos de classe alta dirigido à população de classe baixa. Somada a essa arrogância vem a irritação recorrente com ‘aquelas pessoas’ que teimosamente recusam a salvação tão benevolentemente oferecida: ‘Como podem ser tão cegas?’” (Peter L. Berger, Pyramids of Sacrifice, Basic Books, 1974.)

“Alguns vêem a ‘conscientização’ quase como uma nova religião e Paulo Freire como o seu sumo sacerdote. Outros a vêem como puro vazio e Paulo Freire como o principal saco de vento.” (David Millwood, “Conscientization and What It's All About”, New Internationalist, Junho de 1974.)

“A Pedagogia do Oprimido não ajuda a entender nem as revoluções nem a educação em geral.” (Wayne J. Urban, “Comments on Paulo Freire”, comunicação apresentada à American Educational Studies Association em Chicago, 23 de Fevereiro de 1972.)

“Sua aparente inabilidade de dar um passo atrás e deixar o estudante vivenciar a intuição crítica nos seus próprios termos reduziu Freire ao papel de um guru ideológico flutuando acima da prática.” (Rolland G. Paulston, “Ways of Seeing Education and Social Change in Latin America”, Latin American Research Review. Vol. 27, No. 3, 1992.)

“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)

Outros julgamentos do mesmo teor encontram-se na página de John Ohliger, um dos muitos devotos desiludidos (http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I).

Não há ali uma única crítica assinada por direitista ou por pessoa alheia às práticas de Freire. Só julgamentos de quem concedeu anos de vida a seguir os ensinamentos da criatura, e viu com seus própios olhos que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia."

mANOdOCEU disse...

↑ Vejo um leitor da veja de longe quando reproduzem esse discurso contra o Nome mais pesquisado do mundo em educação.

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