AS GUERRAS DE
RELIGIÃO E A SAINT-BARTHÉLEMY
Dr. Frank Viana Carvalho
Resumo
Embora não possamos num único artigo examinar todo o percurso das ideias
dos reformadores na França, alguns aspectos de seu desenvolvimento mostram-se
muito importantes para uma compreensão das Guerras de religião e dos escritos
revolucionários do período. E é bom salientar, como o fez Broglie que as
Guerras de Religião são um ‘capítulo’ maior dentro da “questão protestante” que
começou bem antes de 1562 (massacre de Wassy) e terminou bastante tempo depois
de 1598 (Edito de Nantes).
Abstract
Although not a single article can examine the
entire route of the ideas of the reformers in France, some aspects of its
development show great importance for an understanding of the wars of religion
and the revolutionary writings of the period. And it is worth pointing out, as
did Broglie that the Wars of Religion are a larger 'chapter' within the
"Protestant issue" that started well before 1562 (massacre of Wassy)
and ended long after 1598 (Edict of Nantes).
O Início das Guerras
de Religião
O protestantismo, desde o seu surgimento na Europa sofrerá
resistências religiosas e governamentais, e seu início na França não foge a
esta regra. [1]
Lecler (1955), examinando a propagação da Reforma Protestante na França no
século XVI, escreveu:
Do ponto de vista da liberdade religiosa, a história da França no
século da Reforma divide-se em dois períodos bem distintos. De 1520 a 1560
prevalece a regra tradicional: uma fé, uma lei, um rei. (...) Não estando ainda
os protestantes organizados em partidos políticos, as medidas tomadas contra
eles não atingem senão os indivíduos ou os pequenos grupos. (...) A partir de
1560, a minoria protestante, numerosa e politicamente organizada, começa a
reivindicar para si, no reino, a liberdade de religião, resolve-se mesmo a
exigi-la pela força. (LECLER, 1955, p. 5).
A partir da terceira década do século XVI, as idéias protestantes
encontraram na França um terreno fértil e a começar por Estrasburgo, certamente
por sua proximidade com a Alemanha de Lutero, várias cidades da França cedem
espaço para as idéias e para a conversão aos princípios da fé reformada.
Seguem-se outras em rápida sucessão – Paris, Meaux, Metz, Amiens, Lyon,
Grenoble, e em pouco tempo todo o país já recebe a influência dos seguidores de
Lutero ou Calvino. (MOURS, 1959, p. 39-41 e 49; LEONARD, 1956, p. 12-16). Mas a
repressão e a intolerância também já começavam. Em 1520 o Parlamento de Paris e
a Sorbonne manifestaram-se contra a “heresia” e a primeira fogueira é acesa em
Paris em 1523, queimando vivo o agostiniano Jean Vallière, acusado de blasfêmia
contra a Virgem Maria.
O fogo se espalha pela França, o Parlamento renova e regulamenta a
repressão, a Sorbonne torna-se mais intolerante. (LECLER, 1955, p. 11; BAILLY,
1955, p. 5). Diante disso e de outras perseguições país adentro, a atitude do
rei é bastante dúbia e pelo menos até 1534 ele age com certa moderação. Mas a
partir do “l’affaire des placards” em 1534 ele se volta contra os reformados e
a política real começa a tornar-se mais incoerente e intransigente.[2] Mas isso não diminuiu o ímpeto da
propagação das novas idéias, pelo contrário, o movimento organiza-se e cresce
continuamente. Seguindo uma tendência mais calvinista do que luterana,
sobretudo a partir da publicação da edição francesa da Instituição Cristã de
Calvino, em 1541, os protestantes franceses contarão com um “catecismo”, “a
mais influente síntese da teologia protestante do século XVI” e crescerão com
espantosa rapidez. (MOURS, 1959, p. 102-103; BURNS, 1970, p. 186).
Moderado a princípio, os últimos anos do reinado de François I
trazem uma violenta repressão aos huguenotes, nome pelo qual os protestantes
franceses tornaram-se conhecidos.[3] Em 1539 o rei faz uma aliança com
Carlos V, da Alemanha, para o restabelecimento do catolicismo na Europa e neste
mesmo ano promulga um Edito “para extirpar e expulsar do reino os adeptos e
cúmplices de Lutero que se desviaram da santa fé católica”. Em 1540 o Edito de
Fontainebleau estabelece a pena de morte para todos os heréticos, imediatamente
aplicada na Provença aos seguidores da seita dos valdenses. (CASTRO, 1960, p.
37).[4] O reinado de Henri II foi ainda mais
severo e utilizou o poder do Parlamento para aumentar a opressão sobre a
minoria protestante.
Poucos meses após a coroação do novo soberano, criou-se uma
instituição que iria ter um importante papel na perseguição aos protestantes, a
Câmara Ardente do Parlamento (maio de 1547). Desde sua criação até a extinção
em 1550, foram julgados mais de quinhentos casos, com aplicação de penas
cruéis. (MOURS, 1959, p. 63-64; LECLER, 1955, p. 25). As prescrições do Edito
de Fontainebleau são confirmadas em 1549 e, pelo Edito de Châteaubriant (1551),
outra vez regulamentadas e ampliadas contra os reformados, permitindo a quem os
delatasse, o confisco e posse dos bens dos ‘hereges’. (CHARTROU-CHARBONNEL,
1936, p. 185). Um fato notável desse período foi a resistência dos tribunais em
aplicar a repressão contra os concidadãos do reino. Em 1555, os juristas do
Parlamento de Paris tiveram a ousadia de opor-se ao rei. O porta-voz do
Parlamento, Pierre Séguier, lembrou ousadamente ao rei que o antigo imperador
Trajano havia se recusado a empregar tais métodos “contra os primeiros
cristãos, que eram perseguidos como o são agora os luteranos”. Mas o rei não se
intimidou e no Edito de Compiègne (1557) proibiu expressamente os juízes de
exercer clemência para com os hereges. A política intolerante do rei permanecerá
em vigor, velada, mas abertamente executada até o final de seu reino, em 1559.
A morte do rei, ferido por uma lança, foi recebida pelos
reformados como um sinal da justiça divina para libertá-los da dura perseguição
sofrida. Até mesmo Calvino escreveu sobre isso quando disse que “a tempestade
terrível da perseguição que transtornava todo o reino talvez se amaine por este
golpe da Providência”. (MADELIN, 1924, p. 81). Mas ele estava enganado e dias
piores viriam para os protestantes.
As idéias reformadas que, a princípio tinham se disseminado entre
os “pequenos”, encontraram um terreno fértil a partir da década de 1550 entre
os nobres da França. Vale destacar que os “pequenos” não eram necessariamente
os mais pobres, mas a pequena burguesia, modestos funcionários, humildes
comerciantes, operários, alguns camponeses e muitos intelectuais. (MOURS, 1959,
p. 92). A partir da década de 1550 a nobreza, já insatisfeita com sua situação
no reino e com a perda de privilégios, encontra no zelo religioso uma esperança
sincera de obter, na nova fé, lenitivo para a corrupção da Igreja e, em certo
sentido, do Estado. Neste momento, a “igreja reformada se estende rapidamente
em todo o reino e por todas as classes sociais”. (RESTELLINI &
YANNAKAKIS, 1990, p. 62-63). Não há como distinguir os chamados “huguenotes de
Estado”, “huguenotes de Religião” e “huguenotes de aventura”. Pequenos e
grandes nobres aderem ao movimento. Antoine de Bourbon, príncipe de sangue,
cujo casamento com Jeanne d’Albret lhe deu o título de rei de Navarre, foi o
primeiro dos grandes a se converter à nova fé em 1555. Seguem-se muitos: Louis
de Condé, os Montpensier, onde se destacavam os irmãos Chastillan; Odet,
cardeal-bispo de Beauvais; Gaspard de Coligny, almirante de França e François
d’Andelet, coronel de infantaria. Alguns anos depois já se contam aos milhares
os nobres que haviam abraçado a nova fé.
A partir de 1559, com a morte súbita do rei Henri II, o trono vai
ser ocupado sucessivamente por seus três filhos, François II (1559-1560),
Charles IX (1560-1574) e Henri III (1574-1589). Todos os desatinos já
existentes em potencial durante os reinados de Francisco I e seu sucessor, mas,
então, tolhidos pela força e prestígio da vontade real, vão encontrar livre
curso sob aqueles “débeis, neuróticos, inconstantes filhos de Henri com a
ítalo-florentina Catarina de Médicis”. (ERLANGER, 1960, p. 285-286).[5] Durante o curto reinado de François II[6], o governo é
entregue ao duque de Guise, líder dos católicos na luta contra os huguenotes, e
opositor declarado dos Bourbon (descendentes de Luís IX, o São Luís). Com o
objetivo de libertar o monarca da tutela dos Guise, um complô se organiza sob a
liderança de “um aventureiro, Monsieur de La Renaudie”. Mas esta conjuração
feita em Amboise foi delatada, e os conjurados, cerca de duzentos, massacrados.
Isso reforça o poder dos Guise, que “posam de salvadores do rei François II”, e
aumentam a repressão e perseguição aos huguenotes.
Em dezembro de 1560, o rei, um adolescente de 15 anos que havia
sido incapaz de resistir ao poder dos Guise, vem a falecer, dando lugar ao seu
irmão, Charles IX, ainda uma criança (10 anos). Catarina de Médicis, sua mãe,
assume a regência e, “hostil aos Guise”, tenta governar de forma independente.
Uma Assembléia dos Estados é convocada e os representantes reunidos em Orléans
deparam-se com a difícil situação financeira da coroa. Opositores “reclamam o
confisco dos bens do clero para pagar as dívidas do Estado”, outros pedem “a
liberdade de culto aos protestantes”. Catarina aumenta os impostos e, para
restabelecer o equilíbrio, tenta impor medidas conciliatórias que permitam aos
protestantes exercer sua fé sob certas condições, mas só consegue o fim das
perseguições oficiais. (GAUSSEN, 1998, p. 6; CHARTROU-CHARBONNEL, 1936, p.
189). Nessa época, segundo Émile Leonard (1955), praticamente “um quarto do
país já havia passado para a reforma”. (p. 29). Mas as perseguições não
oficiais não param e neste período (dezembro de 1560 a janeiro de 1562) mais de
três mil protestantes são mortos.[7] O Colóquio de Poissy, ocorrido entre
setembro e outubro de 1561 foi uma das tentativas de Catarina de Médicis para
apaziguar os lados beligerantes. O chanceler liberal Michel de L’Hôspital, cuja
esposa era uma huguenote, abriu o encontro convidando as duas partes ao diálogo
e ao entendimento. Numa reação imediata, o arcebispo de Lyon, Cardeal Tournon,
levantou-se para protestar contra a própria natureza da Assembléia, mas por
fim, permitiu-se que representantes de ambas as partes discursassem: Théodore
de Bèze pelos reformados e o teólogo jesuíta espanhol Diego Lainez, pelos
católicos. Divergências teológicas impediram o acordo e deixaram os cerca de
cinqüenta bispos presentes aborrecidos com a realeza, que os colocara em pé de
igualdade com os protestantes.
Os huguenotes, percebendo as intenções diplomáticas de Catarina,
conseguem uma vitória: é promulgado em janeiro de 1562 o Edito de
Saint-Germain, que autoriza o culto dos reformados ao redor das cidades. Mal
tiveram tempo para comemorar: em 1º de março de 1562, os huguenotes de
Champagne achavam-se reunidos em Wassy na celebração de um culto, quando,
surpreendidos pelo duque de Guise e sua tropa, foram massacrados. Situa-se ali,
historicamente, a primeira guerra de religião, embora outros incidentes menores
já houvessem ocorrido anteriormente. (BROGLIE, 2000, p. 101; MIREPOIX, 1950, p.
55). Os huguenotes, que desde 1560 já haviam se organizado politicamente em um
partido, armam-se para se opor aos ataques dos Guise, mas quando se enfrentam
em dezembro na cidade de Dreux, são novamente derrotados.
Este período marcará a influência de Catarina de Médicis na
tentativa de, com arranjos e combinações, dar fim à luta “fratricida”. (DUBY,
1958, p. 340). Em março de 1563 ela consegue a promulgação do Edito de
pacificação de Amboise, que sendo mais restritivo aos protestantes, agrada aos
seus opositores. O Edito só permite o culto dos reformados em ambientes
fechados. Esse interlúdio, de muita intolerância e de poucos e inexpressivos
confrontos só dura quatro anos. Entre setembro e novembro de 1567, após
provocações de ambos os lados, ocorrem combates em Meaux e Saint-Denis. Em
março de 1568 virá o Edito de paz de Longjumeau, marcando o fim da segunda guerra
de religião, mas em agosto começará a terceira e mais longa das guerras desse
período conturbado. Ocorrem combates em Poitiers, Tours, Jarnac e Moncontour,
onde Louis de Condé morre no campo de batalha. Gaspard de Coligny está agora
sozinho na liderança militar e política dos huguenotes e faz valer seu papel:
vence batalhas em Languedoc, retoma o vale do Rhône e estabelece em
Charité-sur-Loire. Seus comandados retomam Tours e Poitiers. Enfrentamentos
continuam a ocorrer em diversas partes do país e a paz só virá em agosto de
1570, com o Edito de Saint-Germain, que concede aos protestantes cidades onde
teriam segurança e liberdade de culto (La Rochelle, Cognac, Charité-sur-Loire e
Montauban). (BERTIÈRE, 1994, p. 459-463; CHARTROU-CHARBONNEL, 1936, p. 192).
Com as vitórias e a crescente influência de Coligny, vem outro ganho em favor
dos protestantes: ele é feito almirante e torna-se conselheiro do rei, que se
inclina em direção aos huguenotes.
O Massacre da Noite
da Saint-Barthélemy
Na noite de 23 para 24 de agosto de 1572, os sinos da catedral de
Saint Germain-l’Auxerrois fizeram o prenúncio do dia da Saint-Barthélemy, por
ironia um mártir. Com o toque dos sinos, ouvem-se também os terríveis gritos
dos que eram assassinados. Começava o massacre da noite da Saint-Barthélemy em
que, entre três e dez mil huguenotes morreram na capital francesa. Outros
milhares morreriam no restante do país.
Poucos dias antes era calmo o ambiente na capital Paris. Havia
sido celebrado no dia 18 de agosto um matrimônio real que deveria encerrar duas
décadas de lutas religiosas entre católicos e protestantes. Os noivos eram
Henri, rei de Navarre e chefe da dinastia dos huguenotes, e Marguerite de
Valois, princesa da França, filha do falecido Henri II e de Catarina de Médicis.
Marguerite era irmã do então rei, Charles IX. Milhares de huguenotes de todo o
país, a fina flor da nobreza francesa, foram convidados a participar das festas
desse casamento. Na verdade, uma armadilha sangrenta, como se veria mais tarde.
O casamento foi realizado por determinação da poderosa rainha-mãe Catarina de
Médicis, conhecida por sua sagacidade e sede de poder. Mas as razões do
massacre podem ser melhor explicadas.
O quadro já conturbado das disputas políticas e religiosas ganhou
um complicador adicional quando Coligny convence o rei a reverter sua política
externa tradicional e apoiar a resistência dos protestantes holandeses contra
os espanhóis. Se fosse concretizado esse plano, a França e a Espanha poderiam
entrar em guerra. Catarina concluiu então que Coligny precisava ser eliminado,
a fim de cortar toda a sua influência sobre o rei. Sabendo que o seu filho não
concordaria com uma execução legal, ela optou pelo assassinato do almirante. O
plano era fazer parecer que Coligny fora morto pelos Guise – assim, a ira dos
protestantes se voltaria contra os Guise, e duas ameaças à sua influência sobre
o rei (Coligny e a família Guise) estariam afastadas.
Alguns dias depois da cerimônia de casamento, o almirante Gaspard
de Coligny sofreu o atentado em rua aberta tendo apenas ferimentos leves. O
problema é que o assassino errou o tiro e com isso, frustrou o plano de
Catarina. Ainda assim, os huguenotes pressentiram uma conspiração. Estava em
perigo a frágil trégua obtida através do casamento. Carlos IX ficou estarrecido
ao saber do atentado a Coligny, seu conselheiro e confidente. O rei então falou
de “caçar implacavelmente os autores do atentado”, o que deixou Catarina em
grandes dificuldades. Ela rapidamente modificou seu plano e junto aos líderes
católicos espalhou o boato de que os huguenotes estavam planejando uma rebelião
para vingar-se do atentado. Neste momento o rei Charles IX, a princípio
inseguro, pressionado pela mãe e pelo temor da rebelião dos protestantes,
finalmente cedeu e ordenou a execução de Gaspard de Coligny. (MIQUEL, 1976, p.
170-171; CHEVALLIER, 1954, p. 258). Na impetuosidade da decisão solicitou um
trabalho completo: nenhum huguenote que pudesse acusá-lo posteriormente do
crime deveria permanecer vivo. Listas de nomes foram providenciadas para
facilitar um massacre metódico. Os desprevenidos huguenotes foram mortos ainda
em suas camas, a começar por Coligny, cujo corpo foi lançado pela janela do seu
apartamento e depois, mutilado.
Teve então início o massacre que, segundo alguns historiadores,
dizimou entre dez e cem mil huguenotes em toda a França. (ESTEBE, 1968, p. 19[8]; BURNS, 1994,
p. 207[9]). Henri de
Navarre, o líder dos protestantes, foi poupado na Saint-Barthélemy,
especialmente por ser genro da rainha mãe e ter ficado escondido nos aposentos
palacianos. O ódio misturado com o zelo religioso era tão grande que “o papa
Gregório XIII fez cantar um Te Deum à Santa Maria e dirigiu uma cerimônia de
ação de graças a São Luís, santo francês, em Roma, nos dias 5 e 8 de setembro
de 1572, para agradecer a Deus de haver permitido” o massacre da Saint-Barthélemy.
E “numa bula do dia 11 de setembro do mesmo ano ordenou um jubileu para obter a
mesma graça da destruição dos huguenotes e o desaparecimento da heresia na
França”. (AMBELAIN, 1981, p. 273).
O início da quarta guerra de religião foi marcado pelo episódio da
Saint-Barthélemy. O rei Charles IX, após autorizar a trágica morte de Coligny,
volta-se totalmente contra os reformados e ordena o cerco à cidade de La
Rochelle em fevereiro de 1573. Durante este tempo, os protestantes, “privados
de seus chefes, mas inflamados por seus pastores”, retomam as armas e
defendem-se como podem. Estabelecem em Millau, no sul da França, uma
constituição federativa, civil e militar, onde uma espécie de república oferece
segurança aos huguenotes e garantias aos católicos moderados. Em julho, após
seis meses de cerco a La Rochelle, sem que o rei conseguisse a rendição da
cidade, é feito um Edito de paz em Boulogne, que marca o fim da quarta guerra.
Essa paz deixa os católicos descontentes e é insatisfatória para os
protestantes por suas condições: livre exercício de culto em apenas três
cidades de segurança (La Rochelle, Nîmes e Montauban) e no restante do país
(exceto em Paris) poderiam ter reuniões religiosas em suas casas com no máximo
dez pessoas. O rei Charles IX, tido como fraco por ambos os lados, tenta a paz
pelo Edito de La Rochele em 25 de junho de 1573. Pouco tempo depois, no ano
seguinte, o rei Charles IX vem a falecer (31 de maio de 1574).
O país entra em efervescência: panfletos e escritos huguenotes que
antes da Saint-Barthélemy atacavam os Guise, agora atingem também o rei e sua
mãe. O desencontro entre o pensamento religioso da realeza na população, e a
idéia política da realeza entre os dirigentes do poder provocou a perda do
prestígio da monarquia francesa entre todas as camadas da população. (BERTIÈRE,
1994, p. 208). A corte enfrenta tremendas dificuldades financeiras e o país
está dividido: a Saint-Barthélemy nada trouxera de bom ao reino. Há
descontentes de todos os lados e Henri de Navarre, finalmente, mas com
dificuldades, consegue sair do país em direção à Suíça. Em 30 de maio de 1574,
o rei Charles IX falece e Catarina de Médicis mais uma vez assume o reino.
Henri III, informado da morte de seu irmão deixa a Polônia, onde estivera para
assumir o poder pelos laços de união com sua esposa polonesa.
Neste ínterim Catarina de Médicis propõe aos protestantes que
entreguem as cidades que estavam sob seu poder, deponham as armas e em troca
receberiam o direito de liberdade de consciência e de poder batizar seus filhos
no culto protestante. Mas ambos os lados não querem a paz e os protestantes no
decurso da guerra conseguem retomar mais algumas cidades (Riez, Digne,
Saintonge e Languedoc) e ainda recebem apoio e tropas da Alemanha. Henri III,
irmão do falecido rei Charles IX, assume em seu lugar. Sente-se no ar que algo
irá mudar, mas tudo continua como antes e em agosto de 1574 inicia-se a quinta
guerra de religião com combates generalizados.
As reivindicações são muitas de todos os lados: os católicos,
liderados por Henri de Guise, não querem nenhuma concessão aos protestantes; os
huguenotes querem a liberação de prisioneiros, liberdade de culto e uma reunião
dos Estados Gerais. Após quase quatro anos de incessante turbulência, o rei,
sentindo grandes dificuldades de lidar com a situação, além de ceder, demonstra
simpatia à causa huguenote e assina o Tratado d’Etigny, chamado de “Paix de
Monsieur” ou Edito de Beaulieu em maio de 1576. É o fim da quinta guerra de
religião, com aquele que seria, até o momento, o acordo mais favorável aos
protestantes: “liberdade de culto em todo o país (exceto em Paris), várias
cidades de segurança (onde teriam liberdade de culto), liberação dos
prisioneiros, metade das cadeiras no parlamento e a promessa de reunir os
Estados Gerais”. Além disso, os líderes huguenotes são premiados: Alençon
recebe o título de duque D’Anjou, Henri de Navarre recebe o governo da Guiana e
Henri de Condé, o governo da Picardia. (BERTIÈRE, 1994, p. 464-465; CHARTROU-CHARBONNEL,
1936, p. 193-196).
Inconformados, os católicos se organizam em uma Liga e, sob a
liderança dos Guise, fazem de tudo para recomeçar os combates e impedir que os
líderes huguenotes desfrutem de seus novos postos.[10] Apoiados “pelos prelados do rei, pelo
rei da Espanha e pelo papa”, querem muito: devolver aos nobres católicos todos
os seus privilégios, restituir o trono aos carolíngios (diga-se ‘aos Guise’) e
restabelecer a ortodoxia católica em todo o reino. A guerra era uma questão de
tempo. Os protestantes também se organizam: sob a liderança de Henri de
Navarre, ‘chefe dos protestantes’, unem-se ao rei da Suécia, aos príncipes
alemães e a Elisabeth, da Inglaterra. Mas nesse meio tempo, pacifistas como La
Noue, herdeiro político e religioso de Coligny, fazem de tudo para que haja paz
e tolerância e, por algum tempo, conseguem neutralizar os ânimos exaltados de
lado a lado.
Tão reivindicados pelos huguenotes, os Estados Gerais se reúnem em
dezembro de 1576 em Blois, onde os representantes católicos, em maior número,
reivindicam o restabelecimento da unidade religiosa. A Assembléia termina sem
alterações no Tratado d’Etigny e os conflitos recomeçam, marcados por pequenos
e grandes confrontos em diversas cidades. Tinha início a sexta guerra de
religião. O rei resiste, mas, pressionado pela Liga, acaba por assinar em
setembro de 1577 o Tratado de Bergerac e o Edito de Poitiers, mais restritivos
aos huguenotes do que os anteriores, diminuindo os lugares de segurança e
impedindo o proselitismo protestante. A guerra termina e, embora o clima de
tensão permaneça no ar por quase três anos, esse período é marcado pela
tolerância e pela ação de La Noue e dos politiques, católicos moderados que
incentivam a convivência pacífica das duas ‘religiões’ beligerantes. Em abril
de 1580 ocorrerá a penúltima guerra, com novos enfrentamentos dos Guise e dos
protestantes na região do Poitou. Mas apenas seis meses depois, em novembro,
virá o Edito de Paz de Fleix, marcando o final da sétima guerra de religião.
A Liga, insatisfeita com o rei Henri III, por suas concessões
‘generosas’ aos protestantes, indigna-se ainda mais após o falecimento de
François D’Alençon Anjou, irmão mais novo do rei.[11] Essa morte abriu caminho para que o
Henri de Navarre se tornasse o próximo na linha sucessória, tanto por seu
casamento com Marguerite de Valois, como por sua ascendência real, por ser o
mais velho descendente direto do último filho do rei Luís IX (‘São’ Luís). Essa
possibilidade assusta os partidários da Liga e entusiasma os protestantes, o
que traz mais elementos de instabilidade ao reino.[12]
Mesmo após sofrer um atentado, o rei confirma Henri de Navarre
como seu sucessor, declarando-o ‘delfim da França’. Inconformada, em março de
1585, a Liga protesta com violência em Péronne, ameaçando não só os huguenotes,
mas também o rei. Esse incidente marca o início da oitava e última guerra de
religião. O rei sente o reino ameaçado e julga que, para não perder o trono,
terá de fazer concessões: é assinado o tratado de Nemours entre o rei e a Liga
revogando todos os Editos que autorizavam o culto reformado e proibindo o
protestantismo na França. (CHARTROU-CHARBONNEL, 1936, p. 197).
Os combates se acirram com vitórias de ambos os lados: em outubro
de 1587, Henri de Navarre vence as tropas reais conduzidas pela Liga em
Coutras; em novembro, Henri de Guise vence os cavalheiros huguenotes nas
proximidades de Paris. Panfletos são distribuídos a mando dos Guise numa forte
crítica ao rei. Em maio de 1588, a Liga tenta tomar Paris e o rei, temendo a
morte, foge da cidade. Acuado pela Liga e receoso da pressão exercida por
Filipe II, rei da Espanha, ele é forçado a aceitar o Edito de União, o qual
assina em julho, restabelecendo a hegemonia católica no reino.
As coisas pareciam ficar cada vez piores e mais complicadas para o
rei e para os huguenotes, mas um acontecimento externo traria uma mudança
importante aos eventos internos. O rei da Espanha, que ameaçava invadir a
França ou outros países que mostrassem uma política de tolerância aos
protestantes, resolveu mostrar a força da “invencível armada” numa invasão ao
reino bretão. Isso porque Maria Stuart, que havia restabelecido à força o
catolicismo na Escócia, aprisionada e mantida cativa por dezenove anos, fora
decapitada por ordem de Elisabeth Iª, rainha da Inglaterra. O rei espanhol
Filipe II, com 130 navios, 10.000 marinheiros e 19.000 soldados tinha a vitória
como certa. Mas tempestades e a forte resistência dos marinheiros e soldados
ingleses reduziram a “invencível armada” a 63 navios, que voltaram humilhados
para a Espanha. (GAUSSEN, 1998, p. 7).
Sentindo-se livre de pressões externas, o rei Henri III cria
coragem e resolve enfrentar os Guise: em dezembro de 1588, convoca uma reunião
dos Estados Gerais e nela manda prender os principais líderes da Liga, entre
eles, o duque Henri de Guise e seu irmão, o cardeal de Guise, ordenando em
seguida a morte de ambos. Em abril de 1589 faz um acordo com Henri de Navarre
e, por suas atitudes, acaba sendo excomungado pelo papa. Nesse momento, Jean
Boucher, que neste mesmo ano publicaria De justa Henrici Tertii abdicatione,
“convence a Faculdade de Teologia de Paris a intervir junto ao papa para
declarar Henri III deposto”, decisão esta que foi ratificada pelo Parlamento.
Os ódios católicos se voltam definitivamente contra o rei.
A Liga então prepara seu plano para a deposição e efetivo
afastamento de Henri III: uque publicaria creve um tratado para incentivar a
deposiçanceza dos catpelo papa. morte do cardeal externo faria pedindo o
prosuum ‘fanático’ católico matará o rei, o que abrirá espaço para a imediata
elevação do tio católico de Henri de Navarre, o cardeal de Bourbon. O plano
parece perfeito, pois a morte do último Valois (Henri III) abriria espaço para
que um descendente real legítimo, no caso um Bourbon, pudesse ser rei.
Desconsidera-se a indicação de Henri de Navarre como delfim feita pelo próprio
rei, mas mantém-se a legalidade constitucional. O plano é executado: no
primeiro dia de agosto de 1589, Jacques Clément assassina Henri III e em
seguida a Liga e o Parlamento declaram o cardeal como ‘rei’.[13] Entretanto, poucos meses depois, para
desespero da Liga, o cardeal, que efetivamente nunca chegou a assumir a coroa,
vem a falecer abrindo novamente o caminho para Henri de Navarre. (JANET, 1971,
p. 203; LEONARD, 1956, p. 132; RESTELLINI & YANNAKAKIS, 1990, p. 63).[14]
Mas Navarre terá de enfrentar duras batalhas políticas, religiosas
e militares ao longo de quatro anos para confirmar o seu acesso ao trono
francês. Somente em março de 1594 ele será aceito triunfalmente em Paris – esse
episódio marcará o fim da oitava guerra de religião. Para assumir o reino,
consegue “a preço de ouro, a submissão dos chefes da Liga” e se “converte” ao
catolicismo. Essa ‘conversão’ ocorre justamente numa Assembléia dos Estados
Gerais em 1593, na qual ele pronuncia a frase que entrou para a história:
“Paris bem vale uma missa”. Embora católico, permanece irmão espiritual dos
huguenotes e concede-lhes a igualdade de direitos políticos através do Edito da
Tolerância de Nantes, em 1598.[15] Não era um decreto perfeito, tanto no
entender dos católicos, como no dos protestantes. O Edito de Nantes fez da
Igreja Católica a igreja oficial, com seus antigos direitos, propriedades e
rendimentos. Aos huguenotes, quase um quinto da população, foram conferidos
direitos religiosos de culto em muitas áreas, exceto num raio de trinta
quilômetros ao redor de Paris; direitos civis (tribunais próprios, elegibilidade
para cargos públicos e direitos políticos); e duzentos vilas e cidades
fortificadas. O rei Henri IV foi informado que o papa ficou “inconsolável” com
o Edito, por conceder ‘liberdade de consciência a todos – a pior coisa do
mundo’. O Edito expressava a convicção, muito moderna para a maioria, de que a
aceitação da diversidade religiosa era necessária para a preservação da paz.
O que fora um consolo e compensação tardia para os huguenotes,
parecia trazer aos sensatos várias lições, das quais três se sobressaiam: uma
advertência quanto ao mal da intolerância e o desrespeito aos direitos da
pessoa humana; o perigo de associações ilegítimas entre a igreja e o estado; e
a inspiração que vem tanto do heroísmo dos oprimidos por causa de sua fé, como
da coragem dos politiques que, mesmo correndo riscos, colocaram-se ao lado da
tolerância e da unidade nacional.
A despeito dessas lições, um tanto evidentes, a intolerância
ganhará terreno novamente e cerca de um século mais tarde o decreto será
revogado. Em 1685 o Edito de Nantes será revogado por Luís XIV, o que
ocasionará um grande êxodo de quase trezentos mil huguenotes para outros países
da Europa e para os Estados Unidos. Os poucos que permaneceram na França
ficaram conhecidos com ‘A Igreja no Deserto’.
Notas de Texto:
[1] Emmanuel de Broglie (2000) utiliza
adequadamente a expressão “questão protestante” para o caso francês. Ao longo
de toda a história do movimento protestante na França, as perseguições e
dificuldades praticamente nunca deixaram de existir. Vale lembrar que o Edito
de Nantes que marcou o fim das Guerras de Religião foi revogado em fins do
século XVII e mais de 250.000 (duzentos e cinqüenta mil) huguenotes tiveram de deixar
a França. Na verdade, as perseguições continuaram até o fim da revolução
francesa, já no final do século XVIII, quando os protestantes tiveram
finalmente a igualdade de direitos com relação ao restante da população
francesa.
[2] L’affaire des placards – Na noite de 18 de
outubro de 1534, cartazes da autoria de Antoine Marcout (pastor de Neuchatel,
Suíça) que falavam contra a missa católica foram afixados em várias cidades
francesas. Um desses cartazes foi afixado na porta do quarto do rei François I,
em Amboise. Em resposta a essa ‘provocação’, o rei declara abertamente sua fé
na Igreja católica e inicia uma grande perseguição aos protestantes na França.
(RESTELLINI & YANNAKAKIS, 1990, p. 62-63).
[3] Segundo Josèph Chartrou-Charbonnel (1936),
o termo ‘huguenote’ será inicialmente utilizado na França por volta de 1551 na
região de Tours e sua origem parece ter vindo da Alemanha onde eidgenos (ligado
por juramento), na pronúncia genebrina torna-se eiguenot, surgindo daí a
expressão que designa o grupo calvinista francês. (p. 186). Dominique Gaussen
(1998) afirma que o termo vem de eidgenossen, que seriam os confederados sob as
ordens de Genebra. (p. 6).
[4] A seita data do século XII, fundada por
Pedro Valdo em 1170. Em 1530 seus remanescentes aderem à Reforma. As
perseguições iniciadas em 1540 chegam ao máximo em 1545, quando uma expedição
militar enviada contra eles dizima a população de várias aldeias e vilas.
Calcula-se em cerca de 5.000 o número total de vítimas.
[5] Catarina de Médicis, esposa de Henri II,
era filha do florentino Lourenço de Médicis e sobrinha do papa Clemente VII.
[6] François II (embora jovem) casou-se com
Maria Stuart, filha de Jacques V, rei da Escócia e de Marie de Lorraine, irmã
do duque de Guise. Após a morte de seu esposo, Maria Stuart terá reativado o
seu direito ao trono escocês.
[7] Émile Leonard (1955), baseando-se em
D’Aubigné, historiador da época, chama este período de “primeira Saint-Barthélemy”,
no qual “3.000 vítimas foram apunhaladas, esquartejadas, lançadas de
precipícios, estranguladas, espancadas até a morte, queimadas, enterradas
vivas, afogadas, sufocadas, e deixadas a morrer de fome”. (p. 30).
[8] Janine Estebe (1968) apresenta numa
pesquisa detalhada os seguintes dados: em 1661, Pèrefixe, preceptor de Luís
XIV, na sua obra Vie de Henry IV dá o número de 100.000 mortos. Por outro lado,
em 1758, o abade de Caveirac, na sua Dissertation sur la journée de la
Saint-Barthélemy, afirma que o número total foi de 1.000 mortos. Entre esses
dois números extremos há vários outros: Ainda no século XVI, Sully indicou
60.000 mortos; Michelet e o historiador oficial de Thou apontam 30.000; em
1630, o historiador italiano Davila indicou como sendo 10.000 os mortos no
massacre; Bossuet, no século VXII afirmou que foram 6.000. Em síntese, por tudo
o que se lê, tendo em consideração ao fato de que famílias inteiras foram
mortas, corpos foram enterrados, jogados nos rios e até queimados; e os
vitoriosos no sentido material e físico foram os do partido católico apoiados
pelo rei, o número correto deve ser significativamente maior do que os historiadores
católicos tentam demonstrar e certamente menor do que os cálculos feitos com
influência protestante. (p. 18- 19).
[9] De acordo com as várias fontes de
diferentes cidades onde houve registros do massacre, é praticamente seguro
afirmar que devem ter morrido pelo menos cerca de 30.000 protestantes. J. H.
Burns (1994) não chega a um número decisivo. (p. 207).
[10] A Liga católica será alvo de diversos
estudos específicos que tentam desvendar suas reais motivações. Vale mencionar
as recentes obras de Élie Barnavi, Le Parti de Dieu. Etude Social et Politique
de La Ligue Parisienne. Louvain, Nauwlaerts, 1990; de Robert Descimon, Qui
etaient les Seize? Mythes et relités de la Ligue Parisienne, Paris,
Klincksieck, 1983 e de Jean-Marie Constant, La Ligue, Paris, Fayard, 1996.
[11] Bastava a Henri III ter um filho para
impedir a ascenção de Henri de Navarre, mas ele não tinha nenhum herdeiro do
sexo masculino.
[12] Neste ano, o papa Sixto cedeu às obsessões
dos Guise (diga-se Liga) e Editou uma bula excomungando Henri de Bourbon e o
príncipe de Condé. Hotman foi encarregado de responder a esta intromissão e
escreveu Brutum Fulmen que aparece sem nome de autor em 1585.
[13] Os historiadores reconhecem o fato, mas
não incluem o cardeal de Bourbon como um dos reis da história da França.
[14] Após a morte do cardeal de Bourbon, rei
por alguns meses, a Liga “encoraja a idéia de uma monarquia verdadeiramente
eletiva, para finalmente descobrir que suas tentativas de escolher um dirigente
católico estavam sobrecarregadas pelas rivalidades de seus próprios chefes
aristocráticos”. (JANET, 1971, p. 200).
[15] Hugues Daussy (2002) admira-se do pouco
questionamento feito pelos historiadores de como os protestantes, em tão menor
número, puderam resistir por tanto tempo à maioria católica e ao tão grande
poder da Liga: “Não seria interessante perguntar por qual milagre os reformados
puderam resistir a este desencadeamento da violência católica, tão
freqüentemente destacado pelos historiadores – como eles puderam conseguir
fazer face à determinação e ao poderio militar de uma Liga sustentada pelos
espanhóis? Enfim, por qual força eles puderam lutar e se defender com um
sucesso tal que finalmente conseguiram arrancar a concessão de um Edito
legalizando uma existência que havia sido negada por quarenta anos (...)?” Ele
mesmo responde ao dizer que os historiadores exaltam excessivamente a figura de
Henri IV, distorcendo a verdadeira história. Para ele “crer que o futuro rei
Henri IV tenha podido sozinho assegurar a defesa dos interesses reformados de
1576 a 1589 seria deformar a realidade”. (p. 19). Ele completa: “se a França
esteve entregue por quarenta anos às guerras civis ou guerras de religião, é
porque existia, em face de uma grande maioria de católicos, uma importante
minoria de protestantes”. (p.17).
Referências Bibliográficas:
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