terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Polêmica da Construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte

Por Frank V. Carvalho (1)

Na maioria das vezes sou bem sucedido em me manter distante de alguns temas polêmicos. Mas, algumas vezes, fazer isto significa omissão e desrespeito à importância do tema.


Quero falar um pouco sobre a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no rio Xingu, na região de Altamira (PA).

É um projeto antigo, adiado inúmeras vezes e que agora está saindo do papel.

No entanto, grupos antagônicos se digladiam a favor e contra esta usina, que se pretende (quando pronta) ser a terceira maior do mundo (atrás apenas de Itaipu - Brasil e Três Gargantas - China).

Dos que são favoráveis, os principais argumentos são: garantia de segurança energética para o país; melhoria das condições de vida das populações próximas pelo acesso à energia elétrica e todo o conforto decorrente de sua utilização; desenvolvimento da região norte.

Dos que são contrários, os maiores argumentos são: destruição de uma grande área da floresta com o alagamento necessário para a construção da represa; deslocamento das populações ribeirinhas e índios; uso de dinheiro público para a construção de tão grande obra; utilização de apenas um terço do potencial máximo da usina em grande parte do ano.

Aos fatos

Mais de um site do governo federal fala sobre Belo Monte e destaca os aspectos positivos de sua construção. Há até um Blog do governo destinado a esclarecer a população sobre o Projeto.

Essa usina hidrelétrica é o maior projeto do setor elétrico do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Com potência instalada de 11,2 GW (mas capacidade média de 4,5 GW), Belo Monte terá sozinha a capacidade de abastecer uma região de 26 milhões de habitantes, como a região metropolitana de São Paulo.

Esses poucos dados já mostram a força do projeto e seu impacto no desenvolvimento da região norte.

No entanto, hidrelétricas causam impacto ambiental, e isso não se resume a área alagada. Interferências no microclima, fauna e flora da região se farão perceber. Resta saber avaliar se estes impactos serão tão negativos que o ganho proporcionado pela usina seja anulado.

As campanhas

Alguns políticos (entre eles, Marina Silva) se posicionaram frontalmente contra a construção de Belo Monte. Ambientalistas e ONGs também têm levantado a sua voz contra o projeto pelo grande impacto que causará no meio ambiente. A estes se uniram artistas e celebridades em campanhas de visibilidade nacional, cujo principal produto foi um vídeo lançado por atores da Rede Globo.

Por outro lado, cientistas, economistas e é claro, políticos defendem a construção da usina para que o país se mantenha no caminho do desenvolvimento. Recentemente, alunos da UNICAMP gravaram um vídeo favorável à construção de Belo Monte (aparentemente numa contraposição ao vídeo gravado pelos artistas da Rede Globo).



Duas visões, dois mundos

Dos dois lados, a desinformação proposital e a clara utilização de inocentes úteis.

No caso da campanha da Globo (ou melhor, dos artistas da emissora, projeto gota d'água), a superficialidade dos argumentos é contrabalanceada pela efetiva dramatização e apelos sensacionalistas. Frases desconexas dão lugar a outras, inexatas ou equivocadas. Há ainda um apelo semi-erótico.

No vídeo dos alunos da UNICAMP (projeto tempestade em copo d'água), não há nenhum espaço para problemas, pois Belo Monte será ‘a salvação da lavoura’. O vídeo dá a entender que outras opções energéticas são caras e economicamente inviáveis, e só faltou um apelo para não se investir nessa direção.

Duas Cavernas

Os dois grupos se auto-intitulam como bem informados. É claro que para aqueles que valorizam aspectos científicos, fica mais fácil acreditar nos estudantes. Para os que se comovem com uma boa atuação, é mais fácil acreditar nos artistas da Globo.

Para mim, dois grupos aprisionados dentro de duas diferentes cavernas.

E então?

Bem, se os ambientalistas tivessem voz e voto no passado, certamente não teríamos Itaipu e outras usinas mais e com certeza, seríamos um país com menos recursos energéticos (produção de energia elétrica). E não adianta falar de energia eólica e solar, pois é necessário muito dinheiro para se instalar a matriz produtora deste tipo de energia e isso, não tínhamos.

Por outro lado, os desenvolvimentistas atuais agem como os positivistas do século XIX, tendo como líquido e certo que o progresso traz felicidade. Nada garante isso. Mas o maior problema é o único tipo de progresso que eles enxergam: usinas, indústrias, estradas asfaltadas, cidades, fábricas, prédios, etc., etc. Esquecem-se do que vem junto com isso. Ocupam uma região e é claro, face aos desafios naturais (matas, insetos, rios, calor, etc.) querem a instalação das melhorias que trazem conforto. Esbravejam silenciosamente: - Animais, matas e índios, com licença, o progresso quer ocupar esse lugar...

O Caminho a seguir

O Brasil tem hoje a legislação (em seu conjunto) mais protetora do meio ambiente de todos os países ocidentais (2). Os indígenas, embora sejam menos de 0,3% da população (isso mesmo, menos de meio por cento), detém mais de 13% das terras nacionais. As reservas legais de proteção ambiental ocupam áreas comparáveis à extensão de vários países europeus somados. Embora os ambientalistas achem pouco, devem se lembrar de que vivemos em mundo imperfeito que, não importa o que façam, continuará imperfeito. Culpa de quem? Da natureza? Não. Culpa do homem. Mas não devem parar, devem continuar lutando por mais – é a sua bandeira, seu mote, sua visão de mundo.

Entre outras coisas, há uma tristeza que compartilho com os ambientalistas. Ela não é pela legislação (e ela tem falhas), mas por sua ineficácia, pois com pouca fiscalização há consequentemente, pouca ou nenhuma punição e assim, um incentivo indireto para mais desrespeito ao meio ambiente.

Os desenvolvimentistas brasileiros já comemoram, pois sentem-se como os vencedores dessa batalha. Belo Monte ficará pronta e produzirá muita energia. Mas e depois, eles se darão por satisfeitos? Claro que não. Haja rios e florestas para a quantidade de hidrelétricas imaginadas.

Apelo aos desenvolvimentistas a olhar além de seus umbigos e planos: vocês precisam investir de fato em outras matrizes energéticas, sejam elas caras ou não. Devem financiar pesquisas com vistas a diminuir os custos da geração de energia através de outros meios que causem menos impactos e danos ao meio ambiente.

Vencedores?

Há uma teoria famosa no campo das Relações Internacionais que diz que num bom acordo todos saem ganhando e todos saem perdendo. É preciso que ambientalistas (e outras nomenclaturas e filosofias assemelhadas) e desenvolvimentistas (idem) pratiquem a alteridade: consigam pensar (ou se esforcem para) e ver o mundo da perspectiva do outro. E, se em algo o outro tem razão, que se assentem à mesa para negociar.

Pelo apoio que o governo federal dá ao projeto, Belo Monte caminha a passos largos e será uma realidade. O problema é o que vem depois no médio e no longo prazo. Parece que ninguém parou para pensar que estamos incentivando o incremento populacional e o desenvolvimento industrial numa região até então livre das mazelas do sudeste. Como será a região amazônica daqui a trinta, quarenta, cinquenta anos? Algum tecnocrata já pensou nisso?

E você? E eu?

Será que nós perguntamos de onde vem a energia que abastece nossas casas, nossos celulares, que mantém nossas ruas iluminadas? Fazemos um uso consciente dessa energia? Perguntamos o mesmo com relação aos alimentos e produtos que chegam a nossa mesa? Nosso estilo de vida condiz com nossas opiniões sobre sustentabilidade e preservação do planeta?

Tenho me perguntado sobre isso e procurado viver uma vida mais simples, com menos para que eu tenha mais. É uma filosofia de vida contrária ao modelo vigente. Menos (produtos, equipamentos, roupas, trânsito, estresse, gastos de energia elétrica...) é mais (tempo com minha família, momentos de reflexão, atividade física...). É a escolha do ser contra o ter.

Em que pese o trocadilho, Belo Monte é uma polêmica em torno da Água, mas não posso me esquecer que nossa vida é um Sopro.

Só isso.


(1) Frank Viana Carvalho, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo - FFLCH (Doutorado SW [CNPq] na Université François Rabelais, França), mestre em Filosofia (FFLCH-USP), mestre em Educação (UNASP), Especialista em Psicologia da Adolescência (Bracknell – Inglaterra) é professor titular do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – SR.
(2) Embora o Novo Código Florestal tenha falhas, ele prevê a recuperação de áreas hoje ocupadas e devastadas, além de manter as reservas e parques florestais.

Imagens:
wikipedia.org
cartacapital.com.br
riosvivos.org.br
terradedireitos.org.br

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei pontos negativos e positivos forão adotados agora as pessoas podem escolher a que decissão apontar se querem viver em um país desenvolvido no qual quem paga essa conta é a natureza ou viver num país no qual homem e natureza vivem em harmonia? Cada um pode dar á sua opnião ser contra ou á favor basta decidir mas devemos pensar se é o CERTO?

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