sábado, 25 de julho de 2015

Projeto "Instituto Federal no Alto Xingu"

A Equipe do Projeto em Ribeirão Preto
na Rodovia Anhanguera
Com a temática principal focada na Educação e no Intercâmbio Cultural, o Projeto de Extensão IFSP-SRQ no Xingu que visou 'Ações de Extensão em Alfabetização e Construção de Conceitos em Cidadania e Sustentabilidade' foi realizado durante dez dias em julho de 2015 (10 a 19/07/2015).


Seguindo as orientações do polo local da FUNAI e da Secretaria de Educação, o convite para a visita/expedição foi feito pelo cacique da Aldeia Afukuri (etnia kuikuro) e pelo coordenador pedagógico da escola da Aldeia.


No planalto goiano entre Caiapônia e Nova Xavantina
A equipe, liderada por um docente do Instituto Federal (Frank Carvalho), contava também com um egresso do IFSP-SRQ que é docente de Biologia da Secretaria de Educação do Mato Grosso (Daniel
Januário), um fotógrafo e cinegrafista, aluno do Centro Universitário SENAC (LeRoy Frank) e uma aluna do Curso de Gestão Ambiental do IFSP-SRQ (Susy Leme). O Projeto contou com o apoio da direção geral (Ricardo Coelho) e da coordenação de extensão (José Luís).


O local
No rio Kuluene, afluente formador do Rio Xingu
Para chegar ao local, viajamos três dias partindo de São Roque-SP até a Aldeia que fica no norte do Mato Grosso, sendo que percorremos 1684 quilômetros de carro em rodovias asfaltadas, 120 kms de caminhonete em estrada de terra e 110 kms de barco. A Aldeia fica no Parque Xingu, completamente isolada das cidades próximas.

O “Parque Indígena do Xingu” engloba, em sua porção sul, a área cultural conhecida como “Alto Xingu”, formada pelos povos Kuikuro, Kalapalo, Yawalapiti, Mehinako, Kamaiurá,  Matipu, Nahukuá, Naruvotu, Trumai,  Wauja e Aweti .

Percorremos os mesmos caminhos dos indigenistas pioneiros na região, os irmãos Villas Boas (Orlando, Cláudio e Leonardo). Eles chegaram nestas terras na década de 1940 e o primeiro contato deles com os índios Kalapalo ocorreu justamente às margens do rio Kuluene, o mesmo rio por onde nós navegamos e chegamos à Aldeia Afukuri.

Em nossa visita a Aldeia Afukuri dos Kuikuro, também conhecemos e tivemos contato com integrantes dos povos Kalapalo, Yawalapiti e Mehinako. A despeito de sua variedade linguística, esses povos caracterizam-se por uma grande similaridade no seu modo de vida e visão de mundo. 

Estão ainda articulados em uma rede de trocas especializadas e intercomunicação cultural.

Entretanto, cada um desses grupos faz questão de cultivar sua identidade étnica e, se o intercâmbio cerimonial e econômico celebra a sociedade alto-xinguana, promove também a celebração de suas diferenças.

Daniel mostra o beiju (tapioca) 
Há casamentos frequentes entre membros de diferentes etnias, o que aumenta o intercâmbio sociocultural entre esses povos.

Os contatos e atividades foram altamente positivos, permanecendo a equipe do IFSP seis dias na Aldeia. 

Dos cerca de 150 habitantes, em torno de dez por cento falam português com relativa fluência.
Assim, em diversos momentos necessitamos de tradução (karib-português ou português-karib) para compreender ou nos fazer entender.

A língua ou idioma ‘karib’ é de um tronco linguístico próprio da região, distinto do tronco tupi ou macro-jê, e é falado pelas etnias Kuikuro, Kalapalo, Ikpeng, Matipu, Nahukwá e Naruvotu (família Karíb).

Respeitando os conteúdos e formas culturais entendidas como “próprias” da cultura Kuikuro, foram apresentadas aos professores da escola da Aldeia, estratégias cooperativas de ensino e material de referência para as aulas. 

No rio Kuluene, Susy e sua máquina fotográfica
Foram dadas algumas orientações sobre o descarte e destinação dos resíduos sólidos (lixo) que estão chegando dos núcleos urbanos fruto das trocas, das viagens, do comércio das cidades próximas.

Os líderes da Aldeia reuniram-se mais de uma vez com a equipe para dialogar e apresentar algumas questões relativas às necessidades da escola local. 

Vários costumes e tradições da etnia kuikuro foram compartilhados com a equipe do instituto, valorizando a expressão e a comunicação entre as culturas. Nesta época (meio do ano) eles realizam jogos e uma grande festa Kuarup - onde é feita uma homenagem a uma ou mais pessoas falecidas. Fomos convidados pelo cacique para permanecer nas festividades do final de julho e de uma festa no ano que vem.

Nos dias do projeto, a equipe pescou junto com eles no rio, comeu beiju e
Um dos encontros com o Cacique e os líderes locais
peixe (base da alimentação da aldeia), assistiu os preparativos e treinamentos das lutas, e participou de atividades próprias dos kuikuro. Além dos livros com estratégias didáticas cooperativas para os professores, a equipe deu uma caixa com livros, revistas e materiais didáticos para os alunos da pequena escola. A receptividade foi muito grande por parte dos aldeões.

Da parte da equipe do IFSP-SRQ, houve grande incentivo a valorização da identidade étnica. Há muita diversidade presente em cada etnia e em cada aldeia. É importante ressaltar que alguns costumes das cidades próximas já chegaram às aldeias, relativos ao vestuário e à tecnologia.

Estratégias para atividades didáticas no ensino e aprendizado da língua portuguesa e do tratamento dos resíduos sólidos são
Em frente a "Oca dos Homens", uma foto no dia da despedida
necessidades numa tribo que, embora isolada geograficamente, tem permanente contato com a cultura e população dos municípios matogrossenses vizinhos.
A presença de pássaros e outros animais é normal na Aldeia

Foi a própria comunidade indígena que solicitou uma escola para o aprendizado da língua portuguesa e valorização dos costumes, história e tradições locais. Embora eles não tenham a figura de um alfabetizador especializado na escola ou na aldeia, os cinco professores da escola têm feito a alfabetização em língua portuguesa prosseguir. O professor Daniel Januário é o único não pertencente à etnia kuikuro.

Na volta, a alegria de uma missão bem realizada, o desejo de ajudar uma Aldeia que tem muitas necessidades em sua pequena escola de uma única sala (que precisa urgentemente ser ampliada) e quase 3800 kms de muita aventura.

Na estrada, próximos a Barra do Garças - MT

Susy registrou em fotos várias plantas e flores 

Uma índia 'lava' e 'coa' a mandioca brava para extrair o polvilho

Polvilho secando no sol antes de ser socado no pilão
Nos dias que passamos lá, um pequeno avião
levou medicamentos à Aldeia

O cacique Matu mostra como é que se toca a flauta Kuikuro 

Primeira Reunião com os Líderes na tarde do Domingo, dia 11

Susy mostra o interior da Oca do Professor
A pequenina escola da Aldeia

O ancião (Api - avô) conta da Cosmogonia, 
do Demiurgo e da Origem 
de todas as coisas na Cultura Kuikuro

Uma visão geral da Aldeia


Treinamento para os jogos (luta própria dos povos do Xingu)

Observe que os meninos também se preparam para ser campeões
'Vestidos' para a Cerimônia fúnebre

Daniel mostra como se utiliza o 'cachimbo'  kuikuro

Em meio a uma Cerimônia

Jaluikê pintou seus cabelos com Urucum

Todos participaram da Cerimônia

O segundo cacique pinta o corpo de outro índio 

O professor Daniel também teve seu corpo pintado

O cacique mostra como o cocar pode ser posicionado

Uma índia pinta o cinegrafista LeRoy com Jenipapo 
Nossa equipe com a família do cacique Arifutuá

LeRoy mostra o fruto da pesca na qual participou
Caminho de volta subindo o rio Kuluene

Bem nesse local, na outra margem do Xingu (Kuluene),
os irmãos Villas Boas
tiveram seu primeiro encontro com os Kalapalo

Referências:
Equipe do Projeto: Frank Viana Carvalho (Professor do IFSP e Líder da Expedição); Daniel Januário da Silva (Professor da Escola da Aldeia - interlocutor e intermediador cultural da Expedição); LeRoy Frank Lozano Carvalho (fotógrafo e cinegrafista da Expedição); Susy Leme (Responsável pelas Orientações sobre os Resíduos Sólidos e Assistente de audiovisual na Expedição) 
Fotos: LeRoy Carvalho, Daniel Januário e Susy Leme.
Texto: Frank Carvalho
Observações: As fotos da Cerimônia fúnebre foram tiradas pelo professor Daniel dois meses antes da visita da equipe do IFSP-SRQ
Dados: Site pib.socioambiental.org

terça-feira, 7 de julho de 2015

Leitura e Escrita - Habilidades e Competências

Dr. Frank Viana Carvalho

Apresento a vocês uma proposta de análise das habilidades de leitura e escrita das crianças que estão cursando as séries inciais. Esta proposta avança progressivamente e abrange habilidades e competências do primeiro ao quinto ano (ciclo de 09 anos).

Análise das Habilidades e Competências na Leitura e na Escrita

Nome: ___________________ Série: ______ Idade: ______


Língua Portuguesa – Séries Iniciais

Docente, por favor, anote nas colunas correspondentes as habilidades/competências demonstradas pelo aluno avaliado. A fim de se produzir um diagnóstico correto, é necessário que se leve em consideração a real aprendizagem do aluno e não eventuais acertos ou erros em tópicos específicos. Após a análise, por favor, assine esse documento e encaminhe-o ao à pessoa responsável para o início do trabalho de Auxílio ao Estudante.
Em cada item, a resposta deverá ser apenas “Sim” ou “Não”, pois somente assim será possível fazer um diagnóstico preciso.

Habilidades e Competências progressivas no domínio da Leitura e da Escrita

1. Compreende (sabe) que a escrita alfabética representa os ‘sons’ da fala
2. Diferencia a escrita alfabética de outras formas gráficas
3. Escreve o próprio nome
4. Conhece o alfabeto (sabe os nomes das letras – MAIÚSCULAS)
5. Conhece o alfabeto (sabe os nomes das letras – minúsculas)
6. Sabe as relações entre os grafemas e fonemas equivalentes (o som representado por cada letra)
7. Escreve palavras ditadas
8. Ao escrever, mantém a orientação (esquerda para a direita) e o alinhamento (horizontal)
9. Em testes, apresenta-se na hipótese pré-silábica
10. Em testes, apresenta-se na hipótese silábica (sem valor sonoro)
11. Em testes, apresenta-se na hipótese silábica (com valor sonoro)
12. Em testes, apresenta-se na hipótese silábico-alfabética
13. Em testes, apresenta-se na hipótese alfabética
14. Separa as palavras ao escrever (segmentação)
15. Escreve pequenos textos de memória (parlendas, advinhações, etc.)
16. Reescreve um texto a partir do original
17. Localiza no texto (próprio) palavras escritas (que ele já conhece de memória)
18. Localiza no texto (trazido pelo professor) palavras escritas (aleatoriamente)
19. Localiza e marca no texto informações solicitadas
20. Produz sozinho pequenos textos (produção de texto)
21. Utiliza os sinais básicos de pontuação (vírgula [se necessário] e ponto [ao final da frase])
22. Utiliza os sinais intermediários de pontuação (interrogação, exclamação, travessão)
23. Utiliza os sinais avançados de pontuação (ponto e vírgula, dois pontos)
24. Lê textos simples pronunciando todas as palavras (todas as letras em maiúsculas)
25. Lê textos simples pronunciando todas as palavras (letras em maiúsculas e minúsculas)
26. Lê textos não conhecidos de antemão
27. Lê e compreende (interpreta) textos simples
28. Lê e compreende (interpreta) textos desconhecidos, mas adequados à série
29. Separa as sílabas (quando a necessidade da produção escrita se apresenta ou se solicitado)
30. Utiliza regras de ordenação e paragrafação (abre parágrafo, primeira letra maiúscula)
31. Identifica diferentes gêneros de escrita (carta, receita, rótulos, histórias, poesia)
32. Escreve utilizando letra cursiva
33. Percebe o próprio erro ao reler sua escrita
34. Identifica o sujeito da frase (sintaxe)
35. Identifica o predicado da frase (sintaxe)
36. Identifica artigo e substantivo (morfologia)
37. Identifica pronome, verbo e preposição (morfologia)
38. Produz textos com adequada concordância verbal
39. Produz textos com adequada concordância nominal
40. Utiliza as regras de acentuação gráfica

Professor (assinatura): ___________________________


Local e Data: _________________, ____/____/_______


Importante: Este material só poderá ser utilizado com menção da fonte.

Fonte do Texto: Este material foi desenvolvido pelos pedagogos Frank Viana Carvalho, Delly Danitza Lozano Carvalho e Gláucia Picirilo Ricardo.
Fonte da Imagem: http://www.osaprendizes.file.wordpress.com/

Alfabetização no Brasil - Retrospectiva

Frank Viana Carvalho, D. Filosofia

Uma retrospectiva histórica da Alfabetização em Língua Portuguesa no Brasil

O processo de alfabetização em língua portuguesa seguiu caminhos peculiares ao longo da história brasileira. Não temos relatos mais detalhados desse período, a não ser dos primeiros a trabalhar oficialmente com a alfabetização em nossas terras, os jesuítas.

1549 - 1880

Eles eram padres da Igreja Católica que faziam parte da Companhia de Jesus, criada logo após a Reforma Protestante (século XVI) como uma forma de barrar o avanço do protestantismo na Europa e no mundo. Esta ordem religiosa foi fundada em 1534 por Inácio de Loyola justamente no contexto da Contra-Reforma Católica. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549, com a expedição de Tomé de Souza.

Dentre seus objetivos, havia o de construir e desenvolver escolas católicas em diversas regiões do mundo e isso incluía o Brasil.

Nas escolas jesuítas funcionavam alguns princípios que se mantiveram por mais de duzentos anos: unificação do método de ensino por todos os professores, ênfase na concentração e na atenção silenciosa dos alunos e um processo de ensino ligado à repetição e memorização dos conteúdos apresentados. Todos estes princípios se sobressaem na “Ratio Studiorum” (Ordem dos Estudos), síntese da experiência pedagógica dos jesuítas, composta de normas e estratégias, que visavam à formação integral do homem, de acordo com a fé e a cultura católica daquele tempo.

Estes princípios irão se manter por muito tempo, mesmo após a expulsão dos jesuítas do Brasil em 1760, inculcados na maneira docente de se relacionar e ensinar conteúdos aos alunos. Ao que tudo indica, os alunos que se tornaram professores após se formarem nas escolas jesuíticas (ou jesuítas) mantiveram a forma e o espírito da atuação de seus predecessores. A alfabetização (desde a chegada dos jesuítas, no início do período do Brasil colônia, até perto do final do segundo império) seguirá de perto este modelo, onde a máxima medieval parecerá ser a única realidade: la letra com sangre entra.

1880 – 1940

No final da década de 1880, o professor da Escola Normal de São Paulo, Antonio da Silva Jardim, divulga no Brasil uma novidade pedagógica que estava fazendo sucesso em Portugal: a Cartilha Maternal, da autoria do poeta português João de Deus (a primeira edição foi em 1876[1]). E qual era a razão do sucesso dessa cartilha? Seu ‘método’ revolucionário de alfabetização.

A Cartilha Maternal (A Arte da Leitura) apresentava pela primeira vez em língua portuguesa uma proposta de ensino através do método analítico, pois partia da ‘palavra’ (palavração), ao contrário dos métodos sintéticos anteriormente utilizados, que partiam das letras (soletração) e das sílabas (silabação).

Cabe ressaltar aqui que os métodos sintéticos partem das unidades menores, as letras ou as sílabas em direção às palavras, depois às frases e finalmente ao texto (das partes para o todo). Já os métodos analíticos partem das unidades maiores - o texto, as frases ou a palavra - em direção às sílabas e letras (do todo para as partes).

A obra de João de Deus estabelecia outros princípios de ensino:
1) O alfabeto era ensinado por partes:
a) primeiro as vogais;
b) depois os encontros vocálicos básicos.
2) O ensino das regras tinha duas premissas:
a) complicação crescente;
b) generalidade decrescente.

Visando dar a sua contribuição a esse assunto, o brasileiro Thomaz Paulo do Bom Sucesso Galhardo[2] apresentou em 1880 a Cartilha da Infância. Nesta, ele focaliza a proposta para o ensino da leitura e escrita de acordo com o método da silabação. Para ele, havia três métodos para a alfabetização: um ‘antiguíssimo’, a soletração, um moderno, a silabação e um moderníssimo, a palavração. Para ele, a realidade brasileira não permitia ainda a utilização da palavração. Seu trabalho foi bem aceito e sua cartilha chegou à 233ª edição em 1992.

Na mesma época, uma nova geração de normalistas formadas pela Escola Normal de São Paulo começou a defender os métodos analíticos em detrimento da soletração e da silabação. Temos então a partir dessa época, de acordo com Mortatti[3], o início do embate entre os métodos sintéticos e analíticos.

Primeiro Momento – 1876 a 1890

Os professores formados pelas Escolas que receberam a influência da Cartilha Maternal defendiam o método analítico da palavração e se consideravam modernos em contraposição aos que defendiam a soletração ou a silabação (esta defendida por Galhardo). Era o embate da Palavração versus Soletração e Silabação.

Segundo Momento – 1890 a 1920

Como o professor Galhardo e outros haviam colocado o método silábico como um caminho moderno, os alfabetizadores se dividiram. Houve uma disputa ainda mais acirrada entre os que defendiam o novo método da palavração e o grupo que defendia o método sintético da silabação. Praticamente não havia defensores da soletração neste momento. Os defensores do método analítico se estranhavam: havia os que se consideravam ‘modernos’ e os que se consideravam ‘mais modernos’. Essa disputa ‘interna’ acontecia em razão da escolha do tipo de ‘todo’ do qual se deveria partir na alfabetização: “a palavração, a sentenciação ou a historieta”[4].

Terceiro Momento – 1920 – 1940

Neste momento surgem aqueles que defendiam caminhos mistos (método analítico-sintético ou sintético-analítico) disputando espaço com os defensores do método analítico. Nesse tempo ocorre também, em função de variados fatores, uma relativização da importância dos métodos. Este ‘esfriamento’ da disputa parecia fazer sentido na época, pois julgavam haver coisas mais importantes em jogo no momento da alfabetização, do que necessariamente o método.

Quarto Momento – 1980 – 2001

Com as propostas construtivistas trazidas por Emília Ferreiro, os partidários de sua ‘revolução conceitual’ se posicionam frontalmente contra os defensores dos métodos tradicionais. Estes últimos não se defenderam no campo teórico, mas sua atuação silenciosa foi (e é) forte, sobretudo na utilização dos métodos mistos. A ‘onda’ construtivista percorreu o país e tornou-se uma ‘modernidade’ ser ‘construtivista. Até mesmo os PCNs (1996-1998) refletiram a forte influência do modelo. No entanto, dificuldades na aplicação da proposta fizeram e fazem com que muitos docentes ‘construtivistas’ utilizem às escondidas métodos sintéticos para alfabetizar seus alunos.

Quinto Momento[5] – 2002 - 2006

Fruto de pesquisas quantitativas sobre o rendimento dos alunos brasileiros em avaliações internacionais e da adoção de métodos oficiais de alfabetização em países ricos (Estados Unidos, Bélgica, Inglaterra e França, entre outros), começou a surgir ainda no final dos anos noventa (séc. XX) fortes críticas ao modelo construtivista de alfabetização em vigor no Brasil. Boa parte desses críticos entrou em defesa do método fônico[6], alegando ser este um caminho mais eficiente e eficaz para a realidade brasileira. Contudo, vários teóricos construtivistas reagiram energicamente, atacando seus oponentes e alegando que o construtivismo não é um método e que realidades externas não devem servir de parâmetro para o Brasil.

Sexto Momento – 2006

Fruto de reflexões e análises sobre as críticas, o MEC começou a publicar a partir de 2003 materiais nos quais se vê, seja nas entrelinhas, seja abertamente, uma clara ‘permissão’ para a convivência ‘pacífica’ de diferentes tendências metodológicas no processo de alfabetização. Se considerarmos que o "método" Paulo Freire, nosso mais famosos educador, é um "método" silábico, embora, é claro, de ampla conscientização social e política e por esse caminho muitos aprenderam, porque negar as vantagens advindas de modelos como esse? O governo federal estabeleceu através de projetos, portarias e leis com uma meta: todas as crianças devem ser alfabetizadas até os oito anos.
Na proposta do governo, chamada de "Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa", são apresentados "quatro princípios centrais serão considerados ao longo do desenvolvimento do trabalho pedagógico":
1. o Sistema de Escrita Alfabética é complexo e exige um ensino sistemático e problematizador; (ao colocar lado a lado as duas questões - sistematização [muito presente em "métodos sintéticos"] e problematização [presente nos métodos analíticos - caso do construtivismo], o MEC já antecipa a convivência de diferentes caminhos pelo bem da alfabetização das crianças)
2. o desenvolvimento das capacidades de leitura e de produção de textos ocorre durante todo o processo de escolarização, mas deve ser iniciado logo no início da Educação Básica, garantindo acesso precoce a gêneros discursivos de circulação social e a situações de interação em que as crianças se reconheçam como protagonistas de suas próprias histórias; (o "dever" de iniciar a alfabetização em idade mais tenra sugere 'caminhos' e 'alternativas' através dos quais as crianças tenham acesso à alfabetização)
3. conhecimentos oriundos das diferentes áreas podem e devem ser apropriados pelas crianças, de modo que elas possam ouvir, falar, ler, escrever sobre temas diversos e agir na sociedade; ('diferentes áreas' é mais uma vez a visão de ampliação de perspectivas)
4. a ludicidade e o cuidado com as crianças são condições básicas nos processos de ensino e de aprendizagem.
O documento continua: 
"Dentro dessa visão, a alfabetização é, sem dúvida, uma das prioridades nacionais no contexto atual, pois o professor alfabetizador tem a função de auxiliar na formação para o bom exercício da cidadania. Para exercer sua função de forma plena é preciso ter clareza do que ensina e como ensina." E, para enfatizar que o Ministério da Educação não é contra os chamados "métodos", mas deseja que os professores transcendam a visão limitadora dos caminhos "sintéticos", completa:
"Para isso, não basta ser um reprodutor de métodos que objetivem apenas o domínio de um código linguístico. É preciso ter clareza sobre qual concepção de alfabetização está subjacente à sua prática. e isso criou um novo desafio para as escolas."[7]

Felizmente, como a maioria dos docentes faz na atualidade uso de caminhos mais ecléticos, a discussão e os debates diminuíram de intensidade, e parece que estamos encontrando o rumo. Entretanto, o problema da alfabetização insuficiente esbarra no despreparo de muitos profissionais da educação e a questão continua ainda a rondar o país em 2015...

Referências
[1] A Cartilha de João de Deus se difundiu de tal forma em Portugal, que em pouco mais de seis meses de edição já havia mais de duzentas escolas utilizando a Cartilha e em 1888 o governo de Portugal tornou-a método oficial em todo o país. (Mortatti, p. 59).
[2] Thomaz Galhardo (1855-1904) foi aluno da primeira turma da Escola Normal de São Paulo. Dedicou-se ao ensino público onde fez brilhante carreira, ocupando os mais altos e honrosos cargos no magistério paulista. Além de Cartilha da infância, escreveu dois livros de leitura, publicados pela Livraria Francisco Alves (RJ) e vários livros didáticos que foram usados desde o século XIX até o fim do século XX. Um de seus livros, Monografia da letra A, foi citado por Rui Barbosa em sua crítica à redação do Código Civil. Além de professor, foi promotor público.
[3] MORTATTI, Maria do Rosário Largo. Os sentidos da Alfabetização. São Paulo: Editora da Unesp, 2000.
[4] Mortatti, p. 26.
[5] , Maria do Rosário Mortatti para a sua análise no quarto momento, até porque o livro dela foi editado em 1999. A partir daqui, apresentamos exclusivamente o nosso ponto de vista sobre o assunto.
[6] Os livros didáticos dos autores que preconizam o método fônico tentam ‘contextualizar’ o processo de alfabetização, lançando mão de pequenos textos.

[7] http://pacto.mec.gov.br/component/content/article?id=53:entendento-o-pacto.

João Carlos de Oliveira - João do Pulo


Eu era um jovem professor no UNASP, na estrada de Itapecerica da Serra (São Paulo, zona sul), o ano era 1989 e a cada semana tínhamos que promover uma reunião cultural com os alunos, chamada na instituição de “Capela”. Um dia, na Biblioteca do instituto li em um jornal que o João do Pulo dava palestras para diferentes públicos. Não fiquei nem um minuto a mais assentado ali – saí e fui direto pegar um telefone para ligar para um dos mais famosos atletas brasileiros de então. Liguei e, de seu gabinete (Assembléia), ele mesmo atendeu o telefone e, sem delongas, aceitou o convite para compartilhar no IAE um pouco da sua rica experiência.
Quando ele chegou, andava devagar e eu, sem conseguir esconder o entusiasmo pela sua presença, fui logo fazendo um monte de perguntas. Ele, calmamente, respondia a todas. Finalmente o conduzi a frente do auditório, onde ele narrou sua epopeia como recordista mundial do salto triplo. Ele não tocou no assunto do acidente e, é claro, minhas perguntas não foram nenhuma vez nessa direção. Abrimos aos alunos o espaço para as perguntas e logo vieram aquelas perguntas típicas de alunos da quinta série (sexto ano): - Porque você não salta mais?
Bem, ele foi evasivo e educado. Disse que já tinha se aposentado como atleta. A entrevista terminou e nossa conversa se prolongou um pouco mais. Senti ali, naquele pouco tempo que permanecemos juntos, uma pessoa humilde, um pouco triste, mas acima de tudo, um ser humano incrível, lutador e determinado. Nos despedimos e guardei aquele dia em minha memória e coração.
Não sei o porquê, mas meus contatos e admiração sempre foram direcionados a atletas que a mídia não dá muita atenção (pelo menos não quando eles mais precisam). Além do João, conheci pessoalmente o Rubens Barrichelo e o Alexandre Sloboda (vôlei).
Porque toquei nesse assunto? Quando publiquei o posto, faziam 13 anos que o João tinha falecido. Agora fazem 16 anos.
Hoje, a juventude (a maioria) não faz nem ideia de quem era o João do Pulo. Mas aqueles que acompanhavam o esporte nos anos setenta e oitenta (século passado) sabem. Quem era João do Pulo?
João Carlos de Oliveira nasceu no interior de São Paulo em 1954. Em 1973, com 21 anos,  quebrou o recorde mundial júnior de salto triplo no Campeonato Sul-Americano de Atletismo com a marca de 14,75 m. Em 1975, dois anos depois, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México conquistou a medalha de ouro no salto em distância com a marca de 8,19 m e em 15 de outubro, também a medalha de ouro no salto triplo, com a incrível marca de 17,89 m, quebrando o recorde mundial desta modalidade em 45 cm, e que pertencia ao soviético Viktor Saneyev. Na Olimpíada de Montreal em 1976 ficou com a medalha de bronze com a marca de 16,90 m. Em 1979, nos Jogos Pan-americanos de Porto Rico, tornou-se bicampeão tanto do salto triplo como do salto em distância.
Em 1980, nas Olimpíadas de Moscou ele era o favorito para vencer o salto triplo. Mas, estranhamente, os fiscais anularam várias de suas tentativas (o que causou muitas especulações) e ele ficou novamente com a medalha de bronze.
Ainda no auge, com apenas 29 anos, teve sua carreira atlética brutalmente interrompida em 22 de dezembro de 1981, quando sofreu um acidente automobilístico. Sua perna direita teve que ser amputada e foi forçado a aposentar o sonho das medalhas.
Após recuperar-se, concluiu o curso de Educação Física e foi eleito deputado em São Paulo pelo PFL duas vezes. Seguiu sua vida longe dos ginásios e pistas de atletismo, mas a depressão o visitou com força. Solitário, empobrecido e esquecido pela mídia, João morreu em 1999 devido a uma cirrose hepática e infecção generalizada.
Em minha memória e coração ficarão para sempre a lembrança de um vitorioso!

O que penso

Somos todos iguais e diferentes. Iguais enquanto seres humanos com nossos talentos e habilidades, virtudes e defeitos, forças e fraquezas. Diferentes em nossa personalidade, aptidão intelectual e caráter. Diferentes no reconhecimento das oportunidades e especialmente na capacidade de nos valermos delas. Mas estas diferenças não nos diminuem nem nos aumentam – elas devem nos aproximar, nos fazer olhar o próximo com compreensão e solidariedade.

Estou certo que o valor das pessoas não está nos seus talentos, na sua inteligência, forças, riquezas, poder, posição ou condição física. Mas com certeza na sua capacidade de ajudar os outros e a si mesmo a crescer como ser humano e entregar-se a causas nobres, de lutar por elas e de viver com entusiasmo. O valor de um homem também está diretamente ligado aos valores que ele humildemente abraça, buscando andar de acordo com os caminhos da virtude e do bem, aceitando que a vida é muito mais do que vemos, mais do que sabemos e mais do que sentimos.


Minha Filosofia

Non est oppositio inter scientiam et fidem. (Não existe oposição entre a Ciência e a Fé). São complementares e necessárias.

Minha Missão

Divulgar artigos, pesquisas, ideias, notícias e debates de qualidade, promovendo a cultura, o conhecimento, possibilitando a formação pessoal e o aperfeiçoamento profissional – sempre com liberdade de pensamento.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Contei meus dias...

Uma busca...
Contei meus dias e descobri que terei
menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicentemente,
mas percebendo que faltam poucas, ele rói até o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabeleçam prazos fixos
para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana
com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos,
normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de
“confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram
pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:
“as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Sem muitas jabuticabas na bacia,
quero viver ao lado de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita para a “última hora”;
não foge de sua mortalidade,
defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus.

Caminhar perto delas nunca será perda de tempo... (Ricardo Gondim)




Quo Vadis? Para onde vais?

“Quo vadis?” (Para onde vais?).
No Evangelho de João, Simão Pedro pergunta ao mestre:
“Quo vadis?”
E a resposta o deixa triste:
“Quo ego vado non potes me modo sequi!” (Para onde vou, não podes seguir-me agora!)
Trinta anos depois, indo pregar o evangelho em Roma, Pedro tem uma visão do mestre e lhe pergunta de novo ‘Quo vadis?’ e ouve a resposta: ‘Venio Roman iterum crucifigi’ (Venho a Roma para ser novamente crucificado!).
Pedro então se dirige a Roma, onde preso e condenado à crucifixão, considera ser demasiada honra morrer como o mestre. Pede então para ser crucificado de cabeça para baixo.
 A história é contada no filme ganhador do Oscar "Quo Vadis".

Sonhos

"Cada sonho que você deixa para trás, é um pedaço do seu futuro que deixa de existir". Steve Jobs

Nunca desista

Nunca desista de um sonho por causa do tempo que levará para concretizá-lo. O tempo passará de todo jeito.

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