segunda-feira, 31 de maio de 2010

O fenômeno da Educação à Distância

O Fenômeno EAD
Sob os olhares generosos e complacentes da mídia e com a devida aprovação dos órgãos públicos, a novidade e ‘fenômeno’ EAD (Educação à distância) deixou a sua marca na área do ensino superior em diversas regiões do Brasil. Agindo de maneira sistemática e agressiva, firmando convênios com instituições educacionais, prefeituras e secretarias de educação dos municípios, a EAD vem conseguiu em poucos anos uma façanha em cadeia múltipla: oferecer cursos superiores a preço de supletivo, em valores até 70% inferiores aos praticados pelas Faculdades presenciais.
Além disso conseguiu incrementar, incentivar e aguçar direta e indiretamente a tão nefasta ‘guerra de preços’ entre as instituições de ensino superior. Mas foi além, conseguiu diminuir consideravelmente a procura pelos cursos superiores presenciais, o que, conseqüentemente está levando vários ao fechamento e à demissão de seu quadro de mestres e doutores.
Como um subproduto da globalização, o fenômeno da educação superior EAD ocorre no Brasil à semelhança da atuação das gigantescas multinacionais: a partir de sua base ‘distante’, lançando seus tentáculos e estabelecendo pólos onde oferece seus produtos (no caso, o ensino superior) a preços altamente competitivos. Para atuar à distância nestas regiões, recebeu, é claro, a autorização das autoridades competentes. Como seu modelo de atuação é diferente, nessas novas regiões não sofreu nem de longe a intensa fiscalização da qual é alvo os que estão ali estabelecidos (obviamente, há exceções).
Com um custo operacional reduzido, operando a partir de um protótipo único (aulas pré-gravadas ou televisionadas), realizadas por uma pequena equipe (‘poucos’ professores - quando comparados com a quantidade de alunos que conseguem atingir), numa ‘produção’ em massa (não importa quantas regiões atinja, a ‘aula’ é a mesma para todos) oferecida em quantidade supostamente suficiente (uma ‘aula’ por semana, duas, quando muito), a EAD venceu.

Assim, conseguiu oferecer ‘produtos’ ditos de ‘qualidade’ com selo de garantia (aulas realizadas por doutores) por valores significativamente menores que os da região atendida. Conseguiu aos poucos a submissão (cessão do espaço ou convênios) ou mesmo a eliminação (fechamento) de seus concorrentes. Os lucros desta empreitada são fantásticos, haja vista a proliferação da modalidade.
E a mídia rapidamente divulgou os aspectos ‘positivos’ do modelo, esquecendo propositalmente os ‘detalhes’ não desejáveis da história.
É lamentável o que ocorreu de forma tão descabida nesse modelo. Vários idealistas da educação, que se estabeleceram enfrentando a dura burocracia do MEC e suas comissões para abrir cursos e atender a população de áreas onde as ‘grandes’ instituições não tiveram interesse, foram completamente ‘desconsiderados’ pelo MEC e pela ‘onda’ EAD. Um burocrata do MEC disse que ‘esperava que a EAD atuasse somente aonde não havia cursos presenciais’. Difícil acreditar nessa ingenuidade. Ele parece que não queria ver o óbvio: centenas e até milhares de professores que investiram anos de estudo e pesquisa atrás de um título de mestrado ou doutorado, estão agora simplesmente desempregados.

Equilíbrio

É claro que há ilhas de excelência e que há espaço para a educação EAD, mas não no modelo que foi implantado em nosso país. A culpa é da nossa cultura? Do nosso ‘jeitinho’? Não sabemos. Mas a análise positiva da qualidade do ensino da EAD que é divulgada pelos órgãos de comunicação prende-se apenas a dados estatísticos que enfatizam algumas comparações pontuais. Para eles, todos os alunos da EAD são 'autodidatas' (a psicologia precisa rever este termo). Essas estatísticas se esquecem dos alunos que vão às aulas uma vez por semana assistir aulas pré-gravadas, que fazem (ou ‘negociam’) trabalhos e que, quando têm dúvidas, interagem via internet, recebendo respostas padronizadas.

Em defesa da EAD, os ideólogos de plantão buscam enfatizar as falhas da educação presencial. Exaltam tanto o modelo, que se vêem em dificuldade para explicar porque os cursos de graduação em medicina, engenharia e enfermagem não aceitam este modelo de formação para seus educandos.

Engraçado, podemos ter um professor que vai alfabetizar nossas crianças, formado à distância, mas um enfermeiro não.
Podemos ter um professor que vai ensinar português aos nossos jovens, formado à distância, mas um engenheiro não.
Podemos também ter um administrador de empresas e um assistente social formados à distância, mas um médico não.

Mas o tempo operou a favor da EAD e, em breve teremos psicólogos, advogados e médicos que assistiram aulas uma vez por semana (ou menos). Não é preciso bola de cristal para se antever o futuro.

E o governo? E o ministério da Educação? E os burocratas que ‘criaram’ o modelo de EAD no Brasil? E os órgãos de classe? O que fazem nesta hora? Pelo visto estão todos quietinhos à espera de que ninguém fale nada sobre o assunto e que o ‘mercado’ (é assim que muitos vêem a educação) se ‘auto-regule’ com a quebra das instituições pequenas.

Também estão assistindo os ‘grandes’ do setor se engalfinhando em busca da fórmula da educação à R$ 1,99.

Intrigante

Uma vez, um amigo falou e eu considerei como totalmente verdadeiro que, na maioria dos casos, as pessoas que freqüentam a igreja não estão interessadas na verdade e sim em segurança.
Querem saber o que vai acontecer, querem que Deus as proteja, querem ter certeza da salvação e garantir um lugar no céu - e pintam esse céu como um lugar bastante previsível. O papel da religião, para esses, é propiciar-lhes essa sensação de segurança: conhecendo as profecias, 'sabendo' o que vai acontecer, 'estando' do lado certo, e por fim, 'indo' para o céu e vivendo eternamente vestido de branco, tocando harpa e exclamando "aleluia" diversas vezes...

No diálogo ficou a pergunta:
E o papel da religião para aqueles que buscam a verdade e tão somente a verdade?

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