terça-feira, 7 de julho de 2015

João Carlos de Oliveira - João do Pulo


Eu era um jovem professor no UNASP, na estrada de Itapecerica da Serra (São Paulo, zona sul), o ano era 1989 e a cada semana tínhamos que promover uma reunião cultural com os alunos, chamada na instituição de “Capela”. Um dia, na Biblioteca do instituto li em um jornal que o João do Pulo dava palestras para diferentes públicos. Não fiquei nem um minuto a mais assentado ali – saí e fui direto pegar um telefone para ligar para um dos mais famosos atletas brasileiros de então. Liguei e, de seu gabinete (Assembléia), ele mesmo atendeu o telefone e, sem delongas, aceitou o convite para compartilhar no IAE um pouco da sua rica experiência.
Quando ele chegou, andava devagar e eu, sem conseguir esconder o entusiasmo pela sua presença, fui logo fazendo um monte de perguntas. Ele, calmamente, respondia a todas. Finalmente o conduzi a frente do auditório, onde ele narrou sua epopeia como recordista mundial do salto triplo. Ele não tocou no assunto do acidente e, é claro, minhas perguntas não foram nenhuma vez nessa direção. Abrimos aos alunos o espaço para as perguntas e logo vieram aquelas perguntas típicas de alunos da quinta série (sexto ano): - Porque você não salta mais?
Bem, ele foi evasivo e educado. Disse que já tinha se aposentado como atleta. A entrevista terminou e nossa conversa se prolongou um pouco mais. Senti ali, naquele pouco tempo que permanecemos juntos, uma pessoa humilde, um pouco triste, mas acima de tudo, um ser humano incrível, lutador e determinado. Nos despedimos e guardei aquele dia em minha memória e coração.
Não sei o porquê, mas meus contatos e admiração sempre foram direcionados a atletas que a mídia não dá muita atenção (pelo menos não quando eles mais precisam). Além do João, conheci pessoalmente o Rubens Barrichelo e o Alexandre Sloboda (vôlei).
Porque toquei nesse assunto? Quando publiquei o posto, faziam 13 anos que o João tinha falecido. Agora fazem 16 anos.
Hoje, a juventude (a maioria) não faz nem ideia de quem era o João do Pulo. Mas aqueles que acompanhavam o esporte nos anos setenta e oitenta (século passado) sabem. Quem era João do Pulo?
João Carlos de Oliveira nasceu no interior de São Paulo em 1954. Em 1973, com 21 anos,  quebrou o recorde mundial júnior de salto triplo no Campeonato Sul-Americano de Atletismo com a marca de 14,75 m. Em 1975, dois anos depois, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México conquistou a medalha de ouro no salto em distância com a marca de 8,19 m e em 15 de outubro, também a medalha de ouro no salto triplo, com a incrível marca de 17,89 m, quebrando o recorde mundial desta modalidade em 45 cm, e que pertencia ao soviético Viktor Saneyev. Na Olimpíada de Montreal em 1976 ficou com a medalha de bronze com a marca de 16,90 m. Em 1979, nos Jogos Pan-americanos de Porto Rico, tornou-se bicampeão tanto do salto triplo como do salto em distância.
Em 1980, nas Olimpíadas de Moscou ele era o favorito para vencer o salto triplo. Mas, estranhamente, os fiscais anularam várias de suas tentativas (o que causou muitas especulações) e ele ficou novamente com a medalha de bronze.
Ainda no auge, com apenas 29 anos, teve sua carreira atlética brutalmente interrompida em 22 de dezembro de 1981, quando sofreu um acidente automobilístico. Sua perna direita teve que ser amputada e foi forçado a aposentar o sonho das medalhas.
Após recuperar-se, concluiu o curso de Educação Física e foi eleito deputado em São Paulo pelo PFL duas vezes. Seguiu sua vida longe dos ginásios e pistas de atletismo, mas a depressão o visitou com força. Solitário, empobrecido e esquecido pela mídia, João morreu em 1999 devido a uma cirrose hepática e infecção generalizada.
Em minha memória e coração ficarão para sempre a lembrança de um vitorioso!

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