segunda-feira, 10 de junho de 2013

Bolsa Família

- Vou registrar você, aumentar suas horas e aí você vai ganhar 250 reais a mais. 
- Não, doutor, se não eu perco o ‘bolsa-família’.
- Mas quanto você ganha lá?
- 70 reais.
- Mas aqui, além do salário, você vai ganhar um adicional de 250 a mais.
- Mas lá eu ganho 70 sem trabalhar, doutor. (...)
Meu amigo é engenheiro civil e me relatou ontem esse diálogo verídico que teve com um dos serventes recém chegados a obra.

Essa foi a minha postagem no facebook que rendeu muitos e muitos comentários. Por apenas ter narrado o diálogo e não emitir opiniões, reforcei minha intenção de debater o assunto. 

Posso dizer com segurança que sei do que estou falando, pois fui ‘gestor do bolsa família’, trabalhando diretamente com as pessoas no cadastro e administração municipal do programa. Não
 há dúvidas de que o programa tem seus méritos (e são muitos). A questão não é essa. Fazem quase cinco anos que saí da gestão municipal do programa e percebo, na atualidade, que é visível o afrouxamento das regras, objetivos, projetos e controle do programa – a ponto da CEF (Caixa Econômica) afirmar não saber (e dizer que não tem como descobrir) se há duplicidade nos cadastros, da não criação de (ou acordos com empresas para) cursos de requalificação para pais desempregados, de vários gestores não controlarem mais a carteira de saúde (vacinação) por falta de repasse de dados, e da não reavaliação em diversos municípios (que era obrigatória) de cada caso (de cada família) a cada dois anos. Assim, em muitíssimas prefeituras, o único controle e administração do programa consiste em verificar a presença do aluno na escola. Tudo isso somado ao próprio relatório da CGU, que aponta que pessoas que já morreram continuam recebendo, além de empresários, parentes de autoridades, sem contar as milhares de pessoas que de fato precisam e continuam na fila de espera. Triste. (ver a próxima postagem)
Dois caminhos se apresentam aos dirigentes executivos e políticos do programa. O primeiro é criar (remodelar, refazer ou mesmo implementar as propostas já existentes) condições, metas e estratégias para que as famílias e pessoas beneficiadas tenham condições de deixar o programa – que essa ação política e prática seja de fato uma porta de saída da miséria. A segunda é não fazer nada, deixar como está, e assim dar razão aos críticos mantendo as pessoas aprisionadas e reféns dessa condição, e manter o ‘paternalismo gerenciador da pobreza’, sem assumir compromissos com a sua real superação.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...