A BUSCA DO SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO
Dr. Frank
Viana Carvalho
Resumo
A educação moderna está marcada pela
excessiva atividade no campo da inovação e experimentação educacional, mas a
mesma não foi adequadamente avaliada em termos de propósito, objetivos e
necessidades atuais.
Abstract
Modern
education is marked by excessive activity in the field of educational
innovation and experimentation, but the same has not been adequately evaluated
in terms of purpose, goals and current needs.
Charles Silberman observou que a educação
“tem sofrido há muito tempo por haverem excessivas respostas e poucas
perguntas”[1]. Neil Postman e Charles Weingartner afirmaram que a
negligência na educação é o resultado natural em uma sociedade que
tradicionalmente tem se importado com o “como” ao invés do “porquê” da vida
moderna.
O mundo moderno tem feito um uso
progressivo e incansável da capacidade científica e tecnológica por mais de um
século. Em todos os setores (indústria, comércio, transportes, comunicação,
saúde, higiene, educação e defesa) o progresso no campo técnico e científico é
impressionante.
No entanto, as pessoas em geral, e mesmo
os cientistas e pesquisadores raramente têm se questionado a respeito desses
avanços: se os mesmos foram necessários; se deveriam tê-los; se o benefício que
trazem cobra um preço muito elevado.
De certa forma o mesmo tem ocorrido na
educação. Falando sobre isso, Postman e Weingartner criticam o que ocorre nas
escolas em sua busca por novos métodos e estratégias de forma incansável: a
preocupação em criar novas técnicas para o ditado, novos métodos para ensinar
aritmética para crianças de dois anos de idade, novas maneiras para manter
silenciosos os corredores da escola e seguramente, novos procedimentos para
medir a inteligência[2].
Os educadores têm se envolvido tanto na
criação e implementação de novas metodologias que raramente têm questionado o
valor e a importância de se ensinar matemática a uma criança de dois anos de
idade.
No Brasil, como afirma Paulo Ghiraldelli[3], “todo ano tem um novo governo, com uma nova proposta e uma
nova capacitação. Os governos irritam os professores com a mania de achar que a
cada ano eles precisam ter uma nova teoria pedagógica. Os governos se envolvem
nisso, mas, quando saem, não avaliam para saber se isso deu resultado na sala
de aula. O sistema de avaliação não é adequado ao que se propõe como
capacitação. Ele só olha para baixo, para os avaliados. Não olha para cima,
para os pressupostos que geram a capacitação.”
“Por que toda esta educação? Com que
propósito? Para quê?” Estas são três das mais importantes perguntas a serem
encaradas.
A grande maioria dos educadores tem se
preocupado mais com a ação do que com o progresso, mais com os meios do que com
os fins. Eles têm sido incapazes de avaliar as principais questões sobre o
propósito da educação. E a capacitação e treinamento profissional dos
educadores, com ênfase na metodologia, raramente habilita-os para a solução
deste problema. Alguns não têm nem mesmo uma definição clara de educação.
O que é educação? É o mesmo que
escolaridade? É o completar um determinado curso acadêmico? É um conjunto de
comportamentos e atitudes socialmente aceitáveis? Refere-se somente à educação
escolar? É tudo o que a vida nos ensina? São nossas aprendizagens? E o que é
aprendizagem? Difícil chegar a um consenso sobre a sua definição, mas os
teóricos modernos afirmam que ela é “um processo que produz a capacidade de
apresentar um novo comportamento ou conceito”. Logo, vemos que a aprendizagem
não se limita ao processo educacional. Porém, ela está diretamente ligada ao
termo “educação”. A educação vista a partir dessa perspectiva não se limita ao
processo escolar ou ao currículo tradicional, ou ainda às metodologias das
escolas. A educação, como a aprendizagem, é um processo que dura toda uma vida
e que pode ocorrer numa infinita variedade de circunstâncias e contextos.
Acredito assim que a proposta educacional
na formação dos professores deve fazer com que os futuros educadores possam, de
maneira inteligente:
a) avaliar propósitos de longo alcance e
fins alternativos,
b) relacionar seus objetivos aos fins
almejados e
c) selecionar estratégias pedagógicas que
se harmonizem com seus objetivos.
O caminho é longo e a tarefa é árdua, mas
nada disso é impossível.
[3] Filósofo, doutor em filosofia pela USP e em filosofia da
educação pela PUC-SP. Em entrevista com Sérgio Rizzo em 05/04/06 na Folha
Online.
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