quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A BUSCA DO SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO

A BUSCA DO SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO

Dr. Frank Viana Carvalho

Resumo
A educação moderna está marcada pela excessiva atividade no campo da inovação e experimentação educacional, mas a mesma não foi adequadamente avaliada em termos de propósito, objetivos e necessidades atuais.

Abstract
Modern education is marked by excessive activity in the field of educational innovation and experimentation, but the same has not been adequately evaluated in terms of purpose, goals and current needs.


Charles Silberman observou que a educação “tem sofrido há muito tempo por haverem excessivas respostas e poucas perguntas”[1]. Neil Postman e Charles Weingartner afirmaram que a negligência na educação é o resultado natural em uma sociedade que tradicionalmente tem se importado com o “como” ao invés do “porquê” da vida moderna.

O mundo moderno tem feito um uso progressivo e incansável da capacidade científica e tecnológica por mais de um século. Em todos os setores (indústria, comércio, transportes, comunicação, saúde, higiene, educação e defesa) o progresso no campo técnico e científico é impressionante.

No entanto, as pessoas em geral, e mesmo os cientistas e pesquisadores raramente têm se questionado a respeito desses avanços: se os mesmos foram necessários; se deveriam tê-los; se o benefício que trazem cobra um preço muito elevado.

De certa forma o mesmo tem ocorrido na educação. Falando sobre isso, Postman e Weingartner criticam o que ocorre nas escolas em sua busca por novos métodos e estratégias de forma incansável: a preocupação em criar novas técnicas para o ditado, novos métodos para ensinar aritmética para crianças de dois anos de idade, novas maneiras para manter silenciosos os corredores da escola e seguramente, novos procedimentos para medir a inteligência[2].

Os educadores têm se envolvido tanto na criação e implementação de novas metodologias que raramente têm questionado o valor e a importância de se ensinar matemática a uma criança de dois anos de idade.

No Brasil, como afirma Paulo Ghiraldelli[3], “todo ano tem um novo governo, com uma nova proposta e uma nova capacitação. Os governos irritam os professores com a mania de achar que a cada ano eles precisam ter uma nova teoria pedagógica. Os governos se envolvem nisso, mas, quando saem, não avaliam para saber se isso deu resultado na sala de aula. O sistema de avaliação não é adequado ao que se propõe como capacitação. Ele só olha para baixo, para os avaliados. Não olha para cima, para os pressupostos que geram a capacitação.”

“Por que toda esta educação? Com que propósito? Para quê?” Estas são três das mais importantes perguntas a serem encaradas.

A grande maioria dos educadores tem se preocupado mais com a ação do que com o progresso, mais com os meios do que com os fins. Eles têm sido incapazes de avaliar as principais questões sobre o propósito da educação. E a capacitação e treinamento profissional dos educadores, com ênfase na metodologia, raramente habilita-os para a solução deste problema. Alguns não têm nem mesmo uma definição clara de educação.

O que é educação? É o mesmo que escolaridade? É o completar um determinado curso acadêmico? É um conjunto de comportamentos e atitudes socialmente aceitáveis? Refere-se somente à educação escolar? É tudo o que a vida nos ensina? São nossas aprendizagens? E o que é aprendizagem? Difícil chegar a um consenso sobre a sua definição, mas os teóricos modernos afirmam que ela é “um processo que produz a capacidade de apresentar um novo comportamento ou conceito”. Logo, vemos que a aprendizagem não se limita ao processo educacional. Porém, ela está diretamente ligada ao termo “educação”. A educação vista a partir dessa perspectiva não se limita ao processo escolar ou ao currículo tradicional, ou ainda às metodologias das escolas. A educação, como a aprendizagem, é um processo que dura toda uma vida e que pode ocorrer numa infinita variedade de circunstâncias e contextos.

Acredito assim que a proposta educacional na formação dos professores deve fazer com que os futuros educadores possam, de maneira inteligente:
a) avaliar propósitos de longo alcance e fins alternativos,
b) relacionar seus objetivos aos fins almejados e
c) selecionar estratégias pedagógicas que se harmonizem com seus objetivos.

O caminho é longo e a tarefa é árdua, mas nada disso é impossível.

[1] SILBERMAN, Charles. Crisis in the Classroom. New York, p. 11.
[2] POSTMAN, Neil e WEIGARTNER, Charles, The School Book. New York, p. 295-297.
[3] Filósofo, doutor em filosofia pela USP e em filosofia da educação pela PUC-SP. Em entrevista com Sérgio Rizzo em 05/04/06 na Folha Online.


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