CAPÍTULO
V
EXTREMO
SUL
"As
nossas atitudes marcam nossas vidas da mesma forma que nossas vidas marcam
nossas atitudes" George Elyot
Seguimos então para Punta Arenas,
pois a informação que conseguimos em Rio Gallegos nos dizia que seria
praticamente impossível avançar os 700 km que ainda nos separavam de Ushuaia,
no extremo sul. Ao chegarmos na fronteira Argentina/Chile fomos informados de
que só poderíamos seguir até Ushuaia se tivéssemos correntes e tração nas
quatro rodas. A estrada estava congelada e não havia tratores retirando a neve.
Entretanto, poderíamos seguir até Punta Arenas. Nosso carro só tinha tração
traseira.
Com correntes nas rodas traseiras
avançamos naquela estrada de terra congelada. Ao chegarmos no Estreito de
Magalhães, paramos para tirar fotos e filmar um pouco os limites da América do
Sul Continental. Ali lembrei do aventureiro Fernão de Magalhães. Destemido,
arrojado e impetuoso, ele partiu da Europa disposto a realizar a primeira
circunavegação global. Isto em 1520. Com cinco navios e 277 homens ele saiu
para realizar a maior façanha marítima até então. Se conseguisse, ele provaria
o que a maioria dos estudiosos já sabia: que a terra era redonda e era possível
contorná-la através da navegação. Aportou no sul da Argentina e passou no
estreito que leva o seu nome. Dali avistou as grandes fogueiras que os índios
faziam na ilha próxima para se aquecerem em meio ao frio intenso. Chamou-a de
terra do fogo e o nome ficou. Infelizmente enfrentou diversos problemas em sua
viagem, especialmente a partir do pacífico. Parte da tripulação se amotinou,
vários morreram de escorbuto e alguns em ataques de índios (quando eles
aportaram em alguma ilha). Em uma das ilhas da atual Polinésia Francesa, o
próprio Fernão de Magalhães morreu, vítima de um conflito com os indígenas.
Aproximadamente três anos depois do início da aventura, um navio completou a
viagem chegando à Espanha com 18 homens. O que relataram dava para escrever
muitos livros.
E ali estávamos nós, avistando o
estreito e a oito ou dez quilômetros, a ilha da Terra do Fogo.
Saímos dali a cem por hora avançamos
pela estrada de terra, preocupados com duas coisas: queríamos ir e voltar
naquele mesmo dia a Punta Arenas, e nossa gasolina estava na reserva. Fomos
informados de que talvez houvesse um posto de gasolina por aquelas paragens.
Após avançarmos uns cem dos 240
quilometros até Punta Arenas, chegamos finalmente a um posto de gasolina. Na
verdade eram apenas duas bombas e uma guarita. Elas só possuiam indicador de
litros e estavam bem enferrujadas. Mas funcionavam.
Ao aproximarmo-nos de Punta Arenas
passamos a rodar em um trecho asfaltado. Mas uns poucos quilômetros adiante,
mais gelo e neve na estrada. Colocando e tirando e colocando de novo as
correntes, finalmente chegamos a Punta Arenas.
O visual era, para nós, de uma
cidade suíça. Coberta de gelo, aquela cidade lá no fim do continente tem também
os seus encantos.
Paramos o carro ali, na esquina da
rua Mapuche com avenida Manuel Bulnes. A temperatura devia estar na casa dos
dez negativos. Havia uma camada de neve de uns trinta centímetros pôr toda
parte. O sol havia acabado de se por e os estudantes saíam de suas aulas.
Ali nossa viagem tomaria rumo norte
até o Mar do Caribe, cerca de doze mil quilômetros acima . Mas nada tirava o
nosso ânimo. Apenas um pensamento passava em nossa mente: Conseguimos!
Atingimos a cidade mais setentrional da parte continental da América.
Depois de entrevistarmos algumas
estudantes, que, a despeito da temperatura usavam saias curtas, partimos de
novo. Agora somente rumo norte.
O frio era muito intenso e começamos
a sonhar com as terras tropicais que atingiríamos em cerca de duas ou três
semanas. De acordo com os nossos cálculos só teríamos três horas para
percorrermos uns cento e oitenta quilômetros, pois o posto fronteiriço fecharia
às 22:30 hs. Teríamos pela frente pistas congeladas, asfaltos e terra antes da
fronteira.
Andando no limite, chegamos à
fronteira, e deixamos em nossos passaportes quatro vistos em um só dia.
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