quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma Aventura de Carro pelos caminhos da América do Sul

CAPÍTULO III


URUGUAI


"Tudo que vale a pena ser sonhado, merece ser feito".


            Aqui no Brasil se fala muito de Europa e Estados Unidos. Da América Latina se fala pouco ou quase nada. América do Sul, então, parece que só existe nos livros, quando muito. [Esta observação foi feita por mim em 1993, ano em que escrevi o livro e o Mercosul ainda engatinhava]

            A América do Sul, tão perto, e ao mesmo tempo, tão longe, é um continente desconhecido pela maioria dos brasileiros, exceto para os que vivem próximos à fronteira. Culpa de quem? Não sabemos. Partimos então em nossa viagem para conhecer  esta América, experimentar seus sabores, ouvir seu povo, falar sua língua, sentir sua dor, ver suas belezas e crescer no conhecimento do ser humano que vive neste canto do mundo.

            Em 1492, no mês de outubro, um genovês aportou numa ilha da América Central chamada Guanaani. Cristóvão Colombo tinha acabado de descobrir a América. Após ter passado mais de dois meses atravessando o oceano com apenas três caravelas, ele estava feliz por sentir terra firme debaixo de seus pés. Pensava que havia chegado a uma ilha afastada da costa da Índia, e por isso chamou os nativos de índios.

            Infelizmente Colombo não teve os méritos da sua descoberta reconhecidos no seu tempo. Morreu pobre e esquecido na Espanha.

            Aquele novo mundo, recém-descoberto, recebeu o nome de América, graças a Américo Vespúcio. Ele escreveu num livro publicado no começo do século XVI: "- Descobri um Novo Mundo. Aonde quer que tenho ido, tenho conservado anotações cuidadosas. Tenho traçado mapas e cartas para prová-lo." Os estudiosos da época logo disseram: O Novo Mundo deve ser chamado Américo Vespúcio. Em homenagem ao seu grande descobridor. Pobre Colombo.

            A antiga província Cisplatina é hoje um país próspero, com baixas taxas de inflação, desemprego e analfabetismo, bem como um bom padrão de vida para a população.

            Rivera, a nossa porta de entrada, é uma cidade ligada a Santana do Livramento. Comercialmente e afetivamente. Em Santana pode-se ler numa placa:

SANTANA DO LIVRAMENTO

E

RIVERA:

 160 MIL AMIGOS.

            A nossa passagem pela fronteira foi simples e rápida: não mais que dez minutos e nós, bem como o carro, já podíamos transitar em território uruguaio. Que bom se todas as fronteiras fossem como aquela.

            Ainda em Santana do Livramento, aproveitando o fato de que podíamos atravessar livremente a fronteira, enchemos o tanque de gasolina, compramos luvas bem grossas e um chapéu com proteção para as orelhas. Trocamos uma parte do nosso dinheiro pelos estáveis pesos uruguaios.

            Seguimos para o Sul em uma boa rodovia. Ao lado, grandes planícies e muitos rebanhos de ovelhas. O movimento de carros era reduzido, que quando paramos para filmar e fotografar, deitei no meio da pista por alguns instantes. Seguimos por Tacuarembó e Durazno. As cidades do interior do País são pequenas e a população se concentra em Montevidéu.

            Chegamos ao IAU4, onde pernoitamos e tivemos a grata oportunidade de divulgar a nossa campanha ecológica. Seguimos para Las Piedras, uma cidadezinha na periferia de Montevidéu, àprocura da bisavó do Rubem. Encontramos a Sra. Risoleta com seus 93 anos de idade junto a uma lareira. Ao seu lado a jovem Gabriela, que prontamente se ofereceu para nos mostrar Montevidéu.

            No dia seguinte seguimos do IAU para Las Piedras, a fim de pegarmos a Gabriela e irmos para Montevidéu. Guiando a máquina, atrás de  potentes óculos escuros, um jovem alto, magro e loiro: Rubem. No velocímetro apenas 90 Km/h. Mas a polícia uruguaia não pensou duas vezes. Seguiu-nos e mandou-nos encostar. Mostramos todos os documentos e quase esvaziamos o porta-malas.

            - Listo. Puede seguir! (Pronto. Pode seguir!) , disse o policial, com ar meio desconfiado.

            Seguimos e caímos na gargalhada.

            - Binho, por favor, não use estes óculos perto da polícia! Disparei para o Rubem.

            - É uma chave de cadeia, disse ele, rindo.

            Mais algumas horas e estávamos em Montevidéu. O nosso guia turístico, a Gabriela, conseguiu localizar então uma casa onde reparavam cabos de velocímetro (o nosso havia se rompido cerca de uns cem quilômetros antes). Feito o conserto, seguimos para bater fotos e filmar a cidade.

            Visitamos o Palácio do Governo, o Mausoléu de Artigas (herói nacional) e o Mirante no centro da cidade (cerca de 90 Metros de altura).

            Avistamos o estádio Centenário. O futebol aqui também é uma paixão nacional. A seleção já foi duas vezes campeã mundial. O bicampeonato foi na final da copa de 50: 2 x 1 em cima do Brasil, em pleno Maracanã. Que amarga lembrança. Os times de futebol daqui também são fortes. O Penarol e o Nacional já ganharam a Taça Libertadores das Américas 8 vezes. Os clubes brasileiros conseguiram apenas 7 vezes esse título. Bem, esqueçamos um pouco o futebol.

            Em nossa viagem, estávamos decididos a comer os pratos típicos de cada país. No Uruguai foi a primeira experiência internacional. Comemos em um restaurante do porto: o La Carabella. O prato: pollo arrollado (frango enrolado). E enrolada também foi a conta: U$ 25,00 dólares.

            Enquanto almoçávamos, o Márcio contava a história:

            - O Brasil e a Argentina brigaram pelo Uruguai. Aí, a Inglaterra se cansou da briga dos compadres e ajudou o Uruguai a declarar sua independência.

            História à parte, Montevidéu é uma cidade bonita. Os prédios antigos atestam de uma época em que o país era mais próspero e rico.

            Despedimo-nos da Gabriela e seguimos para Fray Bentos, na fronteira com a Argentina. O motor fazia um barulho esquisito e resolvemos parar logo na saída de Montevidéu. Folga no comando de válvulas. O Márcio foi logo abrindo o motor e fazendo a regulagem. Enquanto o Binho lhe dava uma mão, eu fui comprar algumas peças. Terminado o serviço, seguimos já à noite para a Argentina.

            A estrada muito boa convidava-nos a pisar mais fundo. Atrás o Binho dormia e ao meu lado o Márcio cochilava. Cento e vinte, Cento e trinta. Mantive isto por uma hora, até que um pobre gambá cruzou na frente. Não deu tempo nem de encostar no freio. Que hora infeliz ele escolheu para atravessar a pista. Pode parecer estranho, mas fiquei chateado. Não somos ecologistas radicais, mas também não sentimos prazer em atropelar animais.

            Diminuí o ritmo e logo passamos por Mercedes. Engraçado como é a sinalização em algumas cidades do Uruguai e da Argentina. Você vai seguindo pela rodovia, de repente a rodovia entra direto dentro da cidade, sem nenhuma placa de desvio ou contorno por fora. Aí a rodovia acaba e você fica dentro da cidade "a ver navios". Não há nenhuma placa mostrando como voltar para a rodovia e você tem que usar o método de ir a Roma. O duro é quando isto acontece à uma da manhã. Perguntar a quem?

            A despeito deste probleminha conseguimos sair de Mercedes.

            Chegamos à fronteira e nos despedimos do simpático e organizado Uruguai.
Pastagens no norte do Uruguai.

Rivera - lado uruguaio da fronteira.


Próximo a Montevidéu.



IAU.



Montevideu.

O Binho e sua avó uruguaia, Sra. Risoleta.

Centro de Montevideu.


Palácio do Governo em Montevidéu.



A cosmopolita Montevideu.

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