Frank Viana Carvalho
O mundo inteiro está apresentando respostas educacionais para que o processo educacional continue em meio à crise do novo coronavírus. Em minha perspectiva de pedagogo, gastei um tempo considerável pesquisando sobre o que está acontecendo em outros países, pois é uma pandemia, uma excepcionalidade. Além disso, há vários exemplos em nosso próprio país.
Diferentes caminhos para o ensinar e o aprender
A Associação Internacional Global Partnership que promove ajuda e recursos para dezenas de países, numa parceria mundial pela educação afirmou sobre os meios de educação nesta pandemia:
“Não existe uma escolha “certa” para educação a distância no momento. Cada país deve escolher os melhores meios ou uma mistura de meios de acordo com acesso, infraestrutura técnica, conteúdo, capacidade de adaptar esse conteúdo aos meios apropriados à sua disposição e sua capacidade de fornecer aos alunos acesso a essas oportunidades de aprendizado o mais rápido possível.”
A UNESCO, braço da ONU para a educação, além da Internet, sugere vários caminhos para a educação a distância, que envolvem a todos, com inclusão real:
O mesmo incentivo para diferentes caminhos é feito pelo World Bank em suas políticas de educação para o mundo:
Ao pesquisar sobre o que diferentes atores estão fazendo nesta questão, vê-se que eles buscam respostas sem fechar ‘portas’ ou ‘possibilidades’, sem restringir o caminho da aprendizagem às TICs.
1. Na Colômbia (IDH 761, 79º), entre outras possibilidades, estão usando o Rádio, uma tecnologia centenária para o ensino na pandemia:
2. Na Argentina (IDH 830, 48º), além da internet, o uso da TV para educar na época do Coronavírus é oficial, são 14 horas de transmissão diária:
3. Na rica Áustria (IDH 914, 20º), no coração do continente europeu, além da internet, é também oficial o uso da TV para educar nessa pandemia com uma programação 24 horas: https://tv.orf.at/
4. Na Costa Rica (IDH 794, 63º), que possui um IDH dos mais altos entre os países da América Central, além da Internet e da TV, para as famílias que não têm internet, são enviados pelo Correio ou sistemas de entrega, todo o material de estudo impresso e apostilado a partir de um Programa do Ministério da Educação.
5. De volta ao Brasil (IDH 791, 69º).
a) Na UNICAMP, o Reitor Marcelo Knobel afirmou:
“A palavra chave neste momento é flexibilidade. É preciso dar flexibilidade para o estudante nesse momento tão complexo (...) Nós não tínhamos muito preparo [para o ensino remoto emergencial], mas ponderamos diversas questões, como nossa obrigação como instituição pública, de manter o funcionamento de algumas atividades (como nossos hospitais) e acreditamos que o ensino também é parte das coisas fundamentais de serem mantidas”.
A Universidade de Campinas deu liberdade aos Departamentos e docentes para a retomada de aulas e atividades não presenciais:
b) Na USP, mais de 90% das aulas teóricas dos cursos de graduação e mais de 900 disciplinas de pós-graduação estão sendo ministradas on-line. A instituição distribuiu 2.250 kits de internet aos estudantes em situação de vulnerabilidade acompanharem as aulas.
c) No IFRR, além de definirem como Plataforma AVA o Moodle, fizeram um leque amplo de possibilidades, materiais e recursos, e considerando que nem todos têm acesso à internet, estão fazendo chegar aos estudantes livros didáticos e materiais educativos impressos:
d) No IFES, além da internet, estão imprimindo instruções de atividades e apostilas, fazendo com que elas cheguem às casas dos estudantes: https://ifes.edu.br/noticias/19194-coronavirus
e) A Rede Estadual de São Paulo está utilizando a TV Escola e enviando às casas material impresso e kits de estudo:
f) O Instituto Unibanco lançou uma série de podcasts educacionais (seria como ouvir aulas no rádio) para os tempos da COVID-19:
g) A Prefeitura de São Paulo, além da internet, também está enviando material de aprendizagem impresso:
7. Na populosa Índia (IDH 647, 129º), 32 canais de TV Direct To Home (DTH) são dedicados à transmissão de programas educacionais, ampliando sua programação na pandemia para as 24 horas por dia e acessíveis em todo o país.
8. No Peru (IDH 759, 82º), o governo está lançando mão de todos os caminhos para a aprendizagem dos estudantes: internet, rádio e TV. Além disso, o Ministério da Educação comprou mais de 840 mil tablets para os estudantes e professores.
9. Em outros países das Américas como Chile (IDH 845, 43º), Equador (IDH 758, 85º), Cuba (IDH 778, 72º) e Haiti (IDH 503, 169º), além das mídias digitais baseadas na internet, há muita utilização do Rádio e da TV para educar nos tempos da pandemia.
9. E os Estados Unidos (IDH 920, 15º)? Em Chicago, parte da programação televisiva foi adaptada para a educação dos estudantes. No Mississipi, a Rádio WTVA adaptou sua programação para fornecer programas de ensino à distância para estudantes em comunidades de pouco acesso à internet. Em Cleveland, uma emissora de TV faz transmissões de aulas em função da pandemia. Mesmo no país mais rico do mundo, Estados Unidos, há disparidades no acesso à internet e soluções inovadoras que não se restringem às TICs têm sido utilizadas. A frase da educadora americana Vickki Katz da Universidade de New Jersey (campus Rutgers, em New Brunswick) resume tudo:
"A noção de que devemos interromper o aprendizado digital para todos porque não temos como alcançar igualmente a todos é a preocupação certa, mas é a solução errada."
O retorno presencial e a vacina
Vários países já pensam no retorno presencial. Alguns que realizam educação à distância, após o pico da pandemia, tentaram voltar ao presencial e recuaram (Coreia e França, por exemplo). Avaliam que os riscos só diminuirão de forma efetiva com a vacina, mas deverão fazer novas tentativas quando houver menos infectados com o vírus e os riscos forem menores. Mas algumas experiências de retorno presencial antes da vacina com uma série de cuidados já começam a acontecer efetivamente na Nova Zelândia.
Essa pesquisa foi feita entre os dias 07 e 09 de junho de 2020.
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