Antes de atingirmos a fenda do estudante, a roda de uma das bicicletas se prendeu em uma fenda e se soltou da magrela, rolando ante os nossos olhos rumo ao precipício. Foi terrível. Ficamos paralisados vendo a danada voar despenhadeiro abaixo. Nosso grande temor era de que ela atingisse alguém lá embaixo, o que felizmente não aconteceu. Continuamos e embora a nossa descida estivesse indo num ritmo mais acelerado do que a subida, o cansaço fazia parecer uma trilha sem fim.
Por volta das cinco e meia, a neblina chegou e em minutos cobriu tudo. Não dava para ver nada. O frio aumentava junto com o cansaço. Quando chegamos no riozinho que marca a base do Agulhas, a noite já havia chegado e não conseguíamos enxergar quase nada. Com a neblina e a escuridão, sabíamos que seria fácil errar o caminho e avançamos meio às cegas, devagar, quase parando. Não dava para ver mais nada, nem o caminho, nem o monte às nossas costas. Como nessas horas sempre se busca o caminho mais fácil, acabamos seguindo por uma trilha adjacente à principal rumo ao Prateleiras. Em pouco tempo a trilha fácil foi parar em uma região de pequenas lagoas e pântanos. A bússola indicava o rumo certo, mas o cansaço, o frio, a fome e a escuridão pareciam se unir para impedir que conseguíssemos chegar à estrada. Seguindo à frente, eu me atolei tanto num pântano que só saí com a ajuda do Eliandro. Cansado e com muita dificuldade para enxergar, o Elias passou a bike para o Eliandro. Na frente, outra vez me atolei em outro pântano. Decidimos deixar as bikes e seguir em direção à estrada. Caminhamos seguindo o rumo da bússola, mas a cada passo as dificuldades aumentavam. O Elias bateu forte o joelho em uma pedra e sem enxergar, caí feio machucando uma das costelas. Decidimos não arriscar mais. Parar e esperar o dia amanhecer era a melhor decisão. A despeito de todos estes contratempos, agimos sempre com bom senso, em nenhum momento discutindo ou brigando.
Armamos a barraca rapidamente e entramos, pois o frio era pesado. Molhado e batendo queixo, fui colocado no meio para ficar mais aquecido. Choveu e depois veio aquele silêncio incrível das montanhas. Comemos um pouco e conversamos sobre aquela situação e sobre a oportunidade impar que ela significava no aprendizado e na experiência. Não haver colocado uma lanterna, fósforos e saco de dormir na bagagem foi excesso de autoconfiança e em certo sentido, erro inaceitável para montanhistas com a nossa experiência. Dormimos com os corpos doloridos e com o coração agradecido a Deus por estarmos abrigados e unidos numa situação adversa.
Levantamos cedo e às 5:45 já havíamos desmontado a barraca. Com o tempo claro avistamos a estrada a apenas 500 metros. Logicamente o caminho não era fácil, mas a bússola não errara e nós também não. Só que, na noite anterior, naquelas condições, gastaríamos entre três e quatro horas para chegar à estrada.
Às sete e meia já estávamos guardando nossas coisas no carro. Na entrada do Parque recebemos a roda que havíamos perdido na montanha. Pé no acelerador e às duas da tarde já estávamos em São Paulo, prontos para outras aventuras.
Frank V. Carvalho
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