Minha Filosofia e Reflexões sobre o atual momento político, social
e educacional do Brasil
Uma visão das possibilidades da Educação no Brasil
Como filósofo e educador, é
para mim inevitável ver a educação pelo prisma teleológico, da finalidade última
e dos propósitos. A grande maioria dos educadores de nossa época tem se
preocupado mais com a ação do que com o progresso, mais com os meios do que com
os fins. São incapazes de avaliar as principais questões sobre o propósito. E infelizmente
a formação, habilitação e capacitação profissional dos educadores, muitas vezes
voltada unicamente aos conteúdos técnicos, raramente habilita-os
para a solução deste problema. E a grande verdade é que poucos líderes
educacionais estão genuinamente preocupados com os grandes temas educacionais porque
eles não possuem ideias claras sobre o significado da educação. O foco
excessivo nos métodos, a preocupação com os meios em detrimento dos fins, e a
ênfase unilateral nas questões políticas e o equilíbrio orçamentário têm
incapacitado vários líderes para o grande diálogo público sobre a finalidade e
o propósito da educação. Há uma forte necessidade de preparação de nova
linhagem de profissionais educadores que sejam capazes de enfatizar e manter o
pensamento no propósito e de pensar sobre o que estão fazendo e por que estão
fazendo. Será que são capazes de encarar as perguntas mais importantes da
educação: “Por que educamos dessa forma? Com que propósito e finalidade? Que
valores queremos de fato ensinar? Nossos alunos estarão integralmente
preparados para os desafios da vida em sociedade?”
Há
muitas possibilidades na educação brasileira e com as medidas e decisões
inteligentes podemos sair do atraso e avançar muito em pouco tempo. Inicialmente
é necessário ter clareza na formação e preparo dos docentes. São necessárias
mudanças na formação dos professores, com ênfase em finalidade e propósito,
competências e valores. Igualmente são necessários enfoques em modernas
metodologias de ensino e currículos voltados ao perfil do egresso em
consonância com as transformações e progresso da tecnologia da informação.
De
igual forma, hoje há excessiva discussão sobre temas periféricos, sobre problemas
e suas derivações e pouca ênfase nas propostas que trazem soluções que, em
grande medida, já ocorrem em lugares específicos.
Por
exemplo, temos várias escolas públicas que elevaram o aprendizado dos
estudantes no interior do Ceará (Sobral), São Paulo (Itápolis) e de Santa
Catarina (Joinville) com corretas medidas pedagógicas e metodológicas, a
despeito de recursos financeiros reduzidos.
É
preciso enfoque em ações práticas nas redes públicas de ensino, a semelhança do
que já é feito em países como Finlândia e Dinamarca, onde as principais medidas
não estão ligadas a recursos financeiros, mas práticas efetivas, tais como
gestão do ensino e da aprendizagem por meio de projetos educacionais,
protagonismo dos estudantes e educação centrada no aluno, que são fáceis de
serem implementadas e adaptáveis aos contextos locais.
É
necessário valorizar a carreira docente através de medidas concretas e
progressivas: o aumento gradual do piso nacional do magistério; a
obrigatoriedade do plano de carreira nos estados e municípios - atrelados à
formação continuada, avaliação periódica e permanência na rede pública;
incentivos inteligentes às redes e aos professores na promoção da aprendizagem
dos estudantes.
A
formação continuada dos docentes precisa e pode ser uma ferramenta de melhoria
do IDEB, pois a contínua atualização em estratégias metodológicas, processos de
avaliação e projetos educacionais têm feito a diferença em municípios que
conseguiram melhorar os indicadores educacionais.
Enfim,
as propostas e metas do PNE são alvos a serem buscados com diligência e é
necessário pessoas de visão educacional, preparo técnico e conhecimento do
sistema para fazê-las avançar.
O momento social e político e a polarização nas Redes Sociais
A sociedade brasileira
contemporânea vive um momento de polarização e, em certa medida e em certos
grupos, de radicalização. Não acredito que as redes sociais criaram esse clima,
mas certamente elas potencializaram essas tendências, pois atuam como uma caixa
de ressonância onde os algoritmos dessas plataformas envolvem, cercam e isolam os
usuários de acordo com pessoas, ideias, modelos paradigmáticos, produtos e
coisas que o programa interpreta como ligadas ou relacionadas à visão de mundo
de cada pessoa em particular. Embora esses algoritmos passem por mudanças de
tempos em tempos, elas cada vez mais enclausuram os usuários em bolhas ainda
mais herméticas, onde os usuários e seus influenciadores, pensando falar para
todos, falam somente aos seus pares próximos. O facebook, por exemplo, é uma
bolha, uma caixa, uma caverna diria Platão. Será que dá para sair desta caverna
e ver novamente o mundo real? Ou o mundo real transformou-se nessa
caverna-bolha digital? Percebo que essa polarização da sociedade brasileira
leva cada vez mais as pessoas a se sentirem perdidas com tanta agressividade
que inundou as redes sociais. São posts que incentivam a polarização da
sociedade ao invés do diálogo e da busca da harmonia. Sei que há muitas
exceções. Contudo tudo isso parece uma corrida rumo ou em meio à insanidade.
Talvez muitos, quiçá estejam todos enlouquecendo coletivamente. Neste momento
vale a pergunta: Como nós, educadores, filósofos e outros pensadores podemos
ajudar as pessoas a encontrarem caminhos de compreensão, progresso, tolerância
e respeito ao outro, enquanto o mundo digital que elas frequentam as
bombardeiam com posts cheios de palavras ou demonstrações de incompreensão e
intolerância, ódio e radicalização, além de posts inúteis, fúteis ou
'nonsense'?
Ora, se o algoritmo da rede
social de amizades, ou os grupos fechados de mensagens não têm sido capazes de conduzir
as pessoas à uma sociedade harmoniosa, que preserve os valores que nos são tão
caros ao mesmo tempo em que avança rumo ao futuro desconhecido, cabe-nos como
pensadores do hoje e do amanhã apresentar caminhos construtivos e projetá-los
de forma consciente nos espaços digitais. Cabe-nos também incentivar as pessoas
a passar mais tempo fora dessa bolha digital e gastar seus talentos e recursos de
forma positiva encontrando o outro em ações de ajuda ao próximo, solidariedade,
compreensão e acolhimento. Ajudá-los a valorizar sua família, seus amigos, e dedicarem
esforços na construção de uma sociedade mais justa e democrática, na realização
de seus projetos e seus sonhos.
Minha Filosofia
Somos todos iguais e
diferentes. Iguais enquanto seres humanos com nossos talentos e habilidades,
virtudes e defeitos, forças e fraquezas. Diferentes em nossa personalidade,
aptidão intelectual e caráter. Diferentes no reconhecimento das oportunidades e
especialmente na capacidade de nos valermos delas. Mas estas diferenças não nos
diminuem nem nos aumentam – elas devem nos aproximar, nos fazer olhar o próximo
com compreensão e solidariedade.
Estou certo que o valor das
pessoas não está nos seus talentos, na sua inteligência, forças, riquezas,
poder, posição ou condição física. Mas com certeza na sua capacidade de ajudar
os outros e a si mesmo a crescer como ser humano e entregar-se a causas nobres,
de lutar por elas e de viver com entusiasmo. O valor de um homem também está
diretamente ligado aos valores que ele humildemente abraça, buscando andar de
acordo com os caminhos da virtude e do bem, aceitando que a vida é muito mais
do que vemos, mais do que sabemos e mais do que sentimos.
Non est oppositio inter scientiam et fidem - Não existe oposição entre a ‘Ciência’
e a ‘Fé’, são complementares e necessárias. Não gosto de rótulos ao me definir,
pois meu amor pela filosofia, pedagogia e teologia me fez buscar o melhor e
mais sábio nos caminhos que percorri. Assim, minha filosofia de vida é fruto de
minhas experiências, estudos, aprendizagens, e de minha herança e formação
cristã: a vida é um dom divino especial.
Sou
a favor da vida e contra o aborto - apoio a legislação hoje vigente sobre o
tema. Sei que para muitos esse é um assunto delicado e sensível, e creio que há
um leque de ações possíveis nessa área da saúde e da ética que devem ser
continuamente estudadas, refletidas, analisadas e trabalhadas.
Acredito
na meritocracia de forma equilibrada, pois tenho por certo que o peso da origem
social influencia diretamente nas condições em que se pode aproveitar as
oportunidades, pois mesmo nos países democráticos mais desenvolvidos, não há
posições vantajosas para todos. Logo, deve haver um equilíbrio entre
meritocracia e justiça social. Acredito que o sistema de cotas deva ser
regulado por leis temporais, para a análise de sua efetividade de tempos em
tempos. Nos Estados unidos, onde esse sistema nasceu, há estudos que comprovam
que as cotas raciais beneficiaram a classe média negra, ao invés dos negros pobres[1].
Sou a favor de cotas sociais, e já fiz essa defesa em artigos publicados desde
2002[2].
Mas mesmo essas políticas também devem seguir critérios de orientação
profissional e avaliação cíclica, para que não se transformem em políticas de
cooptação dos desfavorecidos para apoio político partidário.
Ideologias?
Embora como educador e filósofo político, eu entenda as aflições e angústias dos idealizadores do projeto Escola sem Partido, não sou favorável às medidas por eles sugeridas. Numa análise contemporânea, em grande medida a Academia (Ensino Superior) se inclinou
em direção às ideologias e dogmas da esquerda – isso não só no Brasil, mas em praticamente
todo o mundo nas profissões ligadas às humanidades. E essa não é uma percepção
intuitiva, é um fato já pesquisado e demonstrado empiricamente pelos pesquisadores
americanos Neil Gross e Ethan Foss[3].
Com isso, parte da formação dos novos profissionais e, entre eles, dos
docentes, pode ter sido influenciada por paradigmas unidirecionais e não plurais. É lógico que há docentes que confundem seu papel e, aproveitando da
audiência cativa que o sistema escolar lhes oferece, agem como doutrinadores de
vieses ideológicos que eles aceitaram como corretos, ao invés de, numa
demonstração de competência e maturidade profissional, apresentarem pedagógica
e didaticamente os vários pontos de vista e construções que constituem o
pensamento humano. Seria uma utopia desejar que os docentes apresentem aos
alunos os diversos lados das questões políticas, socioculturais e econômicas,
abstendo-se de imporem a sua própria opinião aos alunos?
Aprofundando
a questão, várias reflexões se colocam a partir desse momento nas duas principais
perspectivas.
Será que existe de fato a figura do professor doutrinador? Se sim, surge a pergunta: o que deve a sociedade fazer nesse caso? Permitir que esses docentes promovam em
sala de aula seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências
ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias? Que constranjam,
favoreçam ou prejudiquem alunos em razão de suas convicções políticas,
ideológicas, morais ou religiosas? Que façam propaganda político-partidária, ou
incitem os estudantes a participar ou não de manifestações, atos públicos e
passeatas – numa clara demonstração de correspondência ao viés ideológico do
docente? Seriam essas questões válidas?
A despeito dessas questões, não acredito que criar
uma lei é o caminho para estabelecer uma concepção plural de
ensino. Essa
medida seria inconstitucional, pois limita a pluralidade de ideias e liberdade de
expressão e haveria uma contradição com o artigo 205 da Constituição Federal
que estabelece a liberdade de ensinar e de aprender. Além disso, é subjetiva
a análise do que é doutrinação ideológica, religiosa ou moral, haja vista a
grande diversidade de pensamentos na sociedade moderna. Muito melhor seria a adoção de ações
propositivas, isto é, ao invés de proibições às concepções ideológicas
restritas e vinculadas a um determinado modelo, um claro incentivo a uma real pluralidade
no ensino de ideias e concepções.
Isso posto, mesmo acreditando que este é
um tema que mereça análise, há outros muito mais importantes que afligem o sistema educacional do nosso país. Por isso sou contra o 'Escola sem Partido'. Enfatizo, sou contra o projeto 'Escola sem Partido'.
Vale observar que meu ponto de vista é influenciado por minha formação e minha atuação como educador e gestor da educação, onde procuro ser reflexivo e ao mesmo tempo, objetivo, prático e pragmático. Prefiro o enfoque da solução.
BNCC
Vale observar que meu ponto de vista é influenciado por minha formação e minha atuação como educador e gestor da educação, onde procuro ser reflexivo e ao mesmo tempo, objetivo, prático e pragmático. Prefiro o enfoque da solução.
É válido considerar que a subjetividade presente na interpretação ou aplicação da proposta pensada por eles resultará no futuro em ações que representarão vigilância ou pressão sobre os docentes e isso não é bom, na verdade é péssimo. Afastará bons profissionais da carreira docente, num país que historicamente não valoriza os educadores.
Voltando aos americanos Neil Gross e Ethan Foss, eles afirmam que é contraproducente a simples crítica e discordância da ação e influência dos esquerdistas na formação acadêmica, pois isso leva a se conseguir o contrário do que preveem seus críticos: o ensino superior se tornará ainda mais uma bolha da esquerda.
Voltando aos americanos Neil Gross e Ethan Foss, eles afirmam que é contraproducente a simples crítica e discordância da ação e influência dos esquerdistas na formação acadêmica, pois isso leva a se conseguir o contrário do que preveem seus críticos: o ensino superior se tornará ainda mais uma bolha da esquerda.
Vale a observação de que os bons docentes no limite de seus conhecimentos e atuação são sempre abrangentes em suas proposições.
Alguns que leem essa postagem dirão que existem maus profissionais na educação. Sim, mas vale lembrar que eles não pertencem a um único espectro ideológico. Como não existe vácuo ideológico, ideologias ocupam o lugar de outras ideologias e paradigmas se sucedem continuamente.BNCC
Estamos em tempos
de análise para aplicação dos trabalhos da BNCC (Base Nacional Comum
Curricular) no Ensino Fundamental e Médio. Sendo a base um documento de caráter
normativo, ela define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens
essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e
modalidades da Educação Básica. No caso do Ensino Fundamental, a construção
permitiu um texto que contemple a formação de conceitos, procedimentos, valores
e atitudes. E estamos também no momento de reflexões e análises sobre a BNCC do
Ensino Médio. Sendo que o MEC e as autarquias públicas dirigem e coordenam essa
discussão (MEC, CNE), porque não buscar uma discussão que também aborde as
soluções, questionamentos, impasses e dilemas levantados pela excessiva
ideologização no ensino? Nesse caso, cabe aos gestores públicos abrir espaços
de discussão que são próprios da BNCC e colocar o problema, sugerir e ouvir
sugestões. Seriam caminhos propositivos e não unidirecionais.
Educação Política?
O que ocorre em outras partes do planeta? Ao fazer parte do meu doutorado na França, meus filhos estudaram no sistema público educacional francês. É muito interessante destacar que a França é amplamente reconhecida como um país plenamente democrático. O que muitos não sabem é que no Ensino Médio de lá existe uma disciplina com conteúdos que são espécie de somatória do que houve aqui em OSPB e Educação Moral e Cívica. Destaco esse ponto, porque OSPB (Organização Social e Política Brasileira) como disciplina foi proposta em 1962 pelo educador Anísio Teixeira, e Educação Moral e Cívica, proposta pelos governos militares. As duas conviveram lado a lado durante muitos anos. Não temos nada no currículo voltado especificamente a esta formação social e política. Mas sem dúvida, mais importante do que estabelecer uma nova disciplina ou conteúdos no currículo, devemos pensar qual o propósito e finalidade dessa inserção e seu significado na formação básica. Sendo que há uma clara tendência de estabelecer parâmetros de educação religiosa nas diretrizes curriculares, porque não termos também uma educação política e social?
[1] SOUZA,
Jessé. A
visibilidade da raça e a invisibilidade da classe. In: SOUZA, Jessé. (org).
A invisibilidade da desigualdade brasileira. Belo Horizonte. Editora: UFMG,
2006.
[2] CARVALHO,
Frank Viana. Cotas
para os excluídos. Pátio Revista Pedagógica. Ano VI, nº 22 julho/agosto
2002. Editora Artes Médicas Sul Ltda.
[3] COHEN,
Patricia. Professor
Is a Label That Leans to the Left. The New
York Times. 17/01/2010. Uma versão deste artigo aparece impressa em 18 de
janeiro de 2010, na página C1 da edição do The New York Times. A tradução
literal: “Professor é um rótulo que se inclina para a esquerda”.
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