A PEDAGOGIA
DE PROJETOS
Dr. Frank Viana Carvalho
Ms. Delly Danitza Lozano Carvalho
Resumo
Hoje se fala muito da importância de se trabalhar com projetos para a
eficiência e eficácia da educação. Será que realmente os projetos são a
resposta que a escola esperava? Se sim, o projeto acaba por ser um planejamento
de ações pedagógicas que pode surgir como fruto da vontade do grupo e não
apenas da vontade do diretor escolar ou do professor regente.
Abstract
Today there is much talking of the importance of
working on projects for the efficiency and effectiveness of education. Does it
really projects are the answer that the school expected? If yes, the project
turns out to be planning a pedagogical actions that may arise as a result of
the will of the group and not just the will of a school principal or classroom
teacher.
Há alguns anos estivemos em um Congresso de Educação em Brasília e
assistimos junto com outros congressistas uma peça teatral sobre a escola. A
peça pareceu-nos muito interessante e a personagem central da narrativa era a
"escola". Vivendo muitas angústias, crises e depressões e sem
conseguir resolver seus principais problemas, a "escola" conhece
então uma personagem que finalmente a ajudará: o "projeto
pedagógico". A peça seguiu até ao seu final na apresentação das incríveis
"soluções" que o "projeto" oferecia à "escola".
Infelizmente em se tratando de educação não existem soluções
mágicas como naquela encenação. Todas as soluções efetivas passam por muito
planejamento, muito trabalho e até ajustes e reajustes. Isto também acontece
com o atualmente "famoso" Projeto Pedagógico. Hoje se fala muito da
importância de se trabalhar com projetos para a eficiência e eficácia da
educação. Será que realmente os projetos são a resposta que a escola esperava?
Será que uma pedagogia de projetos apresenta as melhores soluções para as
questões da educação? Procuramos resumir aqui algumas contribuições para
elucidar esta "novidade" educacional.
Em se tratando de educação, o que é um Projeto?
A característica básica de um projeto é a de ter um objetivo
compartilhado por todos os envolvidos, que se expressa num produto final em
função do qual todos trabalham e que terá, necessariamente, destinação,
divulgação e circulação social internamente na escola ou fora dela. Além disso,
os projetos permitem dispor do tempo de forma flexível, pois o tempo tem o
tamanho necessário para conquistar o objetivo: pode ser de alguns dias ou de
alguns meses.
Para sua execução, portanto, é preciso planejar, prever, dividir
responsabilidades, aprender conhecimentos específicos relativos ao tema em
questão, desenvolver capacidades e procedimentos específicos, usar recursos
tecnológicos, aprender a trabalhar em grupo agindo de acordo com as normas,
valores e atitudes esperadas, controlar o tempo, dividir e redimensionar as
tarefas, avaliar os resultados em função do plano inicial.
Vários tipos de projetos
Em se tratando de educação existem vários tipos de projetos e
relacionamos aqui os principais:
1. O Projeto Pedagógico, que também é chamado de Proposta
Pedagógica, é amparado na LDB e é uma exigência legal para as Instituições
Educacionais. Este Projeto é um retrato da Instituição, pois ali estará um
detalhamento das ações que serão desenvolvidas, os recursos que serão
aplicados, a estrutura oferecida pela Instituição, a sua metodologia de ensino,
o seu sistema disciplinar, o seu modelo de avaliação, bem como os projetos
pedagógicos que serão desenvolvidos no período letivo.
2. Os Projetos Globais, também são chamados “Projetos Macro”. Sua
característica principal é a interdisciplinaridade, mas sua ênfase não são os
conteúdos curriculares (embora trabalhe com estes), e sim os conteúdos
atitudinais e valorativos. Seu enfoque está no desenvolvimento das habilidades
e dos valores. São exemplos de Projetos Globais as Feiras Culturais, as Feiras
de Ciência, os grandes eventos esportivos escolares (Jogos Abertos, Olimpíadas,
etc.) as Exposições Escolares, as Gincanas, as Semanas Especiais e outros
eventos que em sua execução acabam por envolver toda a escola ou várias séries
e turmas (ou até mesmo mais de uma escola).
3. Um outro foco importante são os Projetos de Sala de Aula. Eles
se subdividem em Projetos Disciplinares (Disciplinas Específicas), Projetos
Multidisciplinares (um tópico que é abordado por diferentes disciplinas, sob
diferentes aspectos) e Projetos Interdisciplinares (temas ou tópicos que fazem
parte de mais de uma disciplina necessariamente).
4. Projetos com Jogos - Aproveitando o potencial dos jogos no desenvolvimento
dos alunos, estes Projetos
utilizam os jogos no contexto das disciplinas, trabalhando os seus conteúdos de
forma direta ou indireta, potencializando as ações pedagógicas no
desenvolvimento de atividades cognitivas, sociais, afetivas, lúdicas, recreativas e motoras.
5. Projetos com Temas Geradores - Para a atuação com conteúdos
Didáticos e curriculares em forma de Projetos, sobretudo em sala de aula e com
uma turma especificamente. Envolve uma participação efetiva dos alunos na busca
do conhecimento e das respostas e soluções aos problemas propostos. Eles podem
ocorrer em sala de aulas, no ambiente escolar ou mesmo em forma de pesquisa extraclasse.
O projeto que se apresenta como uma proposta de solução para o
professor no seu dia a dia é o último da lista anterior: o projeto com Temas
Geradores. Isto até em função de que os outros projetos continuarão acontecendo
na escola - provocando ou não mudanças, trazendo ou não soluções. Desta forma
existe uma necessidade de que o professor transporte para dentro de sua sala de
aulas a construção e a realização dos projetos a fim de que eles sejam
ferramentas pedagógicas reais. Vejamos o porquê.
Dilema da escola : Tempo & Conhecimento & Competências.
A vida real apresenta ao ser humano a necessidade conjunta de
conhecimento e de competências. No caso aqui, queremos definir
"conhecimento" como o conjunto dos conhecimentos teóricos ou
curriculares. Por outro lado, as competências serão definidas como as
habilidades necessárias para a utilização deste conhecimento. Perrenoud as
define como a “capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de
situação, apoiado em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”[1].
A escola moderna vive um grande dilema: possui uma significativa
bagagem (carga) de conhecimentos curriculares (teóricos) muito grande que julga
serem necessários para os seus alunos. De igual modo, também crê na importância
do desenvolvimento das habilidades ou competências. Para Fernando Hernandez, o
principal autor e referência no assunto, “projeto é o enfoque integrador da
construção de conhecimento que transgride o formato da educação tradicional de
transmissão de saberes compartimentados e selecionados pelo professor.” Para
ele, "todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que
se tenha uma dúvida inicial e que se comece a pesquisar e buscar evidências
sobre o assunto”. [2]
Alguns professores optam por dar bastante conteúdo (entenda aqui
conteúdo como conhecimentos teóricos) em detrimento do enfoque nas habilidades
(conteúdos atitudinais) e nos valores (conteúdo valorativo). Na realidade,
existem cobranças pelo avanço no conteúdo teórico (dar toda a matéria) e ao
mesmo tempo se avolumam as pressões para que os docentes também trabalhem com o
desenvolvimento das habilidades. Mas isto exige tempo e preparo. Na prática a
maioria enfoca o primeiro em detrimento do segundo e uma outra parte dos
professores enfoca as habilidades em detrimento do avanço nos conteúdos. Será
que existe solução para este dilema?
Pensando neste problema alguns educadores têm elaborado propostas
interessantes e que têm funcionado com sucesso em diferentes escolas. Um delas
é a pedagogia de Projetos, com eles acontecendo dentro da sala de aulas
(conhecida como Temas Geradores).
Descrevendo o Projeto com Temas Geradores
Os Projetos com temas geradores são de grande valor para a prática
pedagógica cotidiana, pois eles permitem que se realizem no dia a dia da sala
de aula, projetos multidisciplinares com temas curriculares.
Diversos professores gostariam de trabalhar de forma diferenciada
todos os dias a fim de motivar os seus alunos e isto de fato é possível. Como
afirmou recentemente o educador espanhol Antoni Zabala: “o segredo de tudo está
na participação dos alunos no processo”[3]. Desta forma,
a proposta dos projetos com os temas geradores vê na participação dos alunos o
diferencial para o sucesso da relação ensino e aprendizagem.
I - A Escolha dos Temas
Com base na proposta que o professor pretende trabalhar com os
seus alunos (proposto em seu planejamento) e com base nos objetivos propostos,
o professor deve lançar propostas de temas de acordo com a realidade dos
alunos.
Pensando nas habilidades que almeja desenvolver, o professor deve
indicar uma linha principal ou um tema gerador. As habilidades que ele pretende
trabalhar com seues alunos podem ser cognitivas, de relacionamento
interpessoal, sensório-motoras, visuais-espaciais, sócio-afetivas, morais, etc.
II - A Construção do Projeto
Esta construção ocorre conjuntamente com os alunos, mas para o seu
início o professor utiliza-se de um recurso pedagógico chamado de “agente
estimulador”. Este agente pode ser um filme sobre o assunto, uma excursão, uma
reportagem, uma notícia importante e atual, uma propaganda, uma entrevista,
etc.
Este agente estimulador vai criar o clima e o espaço adequado para
que o professor conduza um “debate” ou “discussão” sobre o assunto. Neste
momento haverá um aprofundamento sobre o conhecimento relativo ao tema
principal (gerador). Ocorrerá um PQA[4] ou um processo que permitirá levantar
os pontos que precisam ser aprofundados.
PQA (Pensar, querer, aprender)
A estratégia do PQA (KWL[5]) foi
desenvolvida por Donna Ogle[6] e é um poderoso meio para ajudar os
alunos desenvolverem e construírem significado. Antes de começar uma atividade
de representação, leitura de um capítulo, assistir a um filme ou desenvolver um
projeto, os alunos devem escrever (ou dizer) “o que eu penso sobre este
tópico?” (P). e “o que eu gostaria de (ou quero) aprender sobre este
assunto?”(Q)? Depois da leitura, apresentação, observação, etc, os alunos devem
relatar “o que eu aprendi” (A).
PQA
O que eu sei
O que eu gostaria de saber
O que eu aprendi
A partir do “agente estimulador” várias abordagens podem ser
feitas pelo professor:
Fazer perguntas aos alunos:
a) O que vocês gostariam de aprender sobre ...?
b) O que podemos fazer para realizar uma pesquisa sobre ...?
c) O que temos ouvido falar sobre ...?
Ele deve também incentivar e estimular os alunos para questões que
eles possam estar fazendo para um aprofundamento no assunto em questão. O
professor, de maneira cuidadosa, vai estabelecendo os caminhos da pesquisa a
partir das questões levantadas.
Coordenar os objetivos gerias do planejamento com os objetivos
estabelecidos no Projeto com os Temas Geradores.
Algumas questões e perguntas colocadas pelos alunos serão
repetitivas, superficiais e até mesmo, redundantes. Cabe ao docente,
respeitando a opinião dos alunos, resumir, direcionar, suprimir e esquematizar
em linhas gerais o Projeto.
Esta característica de partilha do planejamento, inerente ao
desenvolvimento do projeto, favorece o necessário compromisso do sujeito que
aprende com sua própria aprendizagem, pois ela se torna muito mais produtiva
quando o grupo que realiza o projeto conta com a participação de cada um na
função de alcançar uma meta comum, do que quando as tarefas são definidas
apenas pelo professor.
III - Os Objetivos e a Duração
Os objetivos do tema proposto serão aqueles que estão
estabelecidos no planejamento que o professor faz ao começo do ano. Alguns
objetivos específicos serão aprofundados em função do tema.
O Projeto pode durar um mês, um bimestre ou mesmo mais, podendo
ser até mesmo todo o ano letivo. Como funcionará em concordância com os
objetivos e o programa estabelecidos no planejamento, não haverá nenhuma
fragmentação de conteúdos, superficialidade ou desgaste na exploração do tema
por excessiva exposição. No entanto, ao planejar o Projeto, o professor deverá
ter em mente o início (abertura), o durante (desenvolvimento) e o fechamento
(conclusão) desta atividade.
IV - Durante o Projeto
Os alunos estarão desenvolvendo uma pesquisa e montando uma
“pasta” com todas as informações coletadas. Esta pasta, também chamada de
“Dossiê” consiste em tudo o que o aluno pode conseguir sobre o assunto
proposto. A Realização do Projeto não exige que haja um formato específico para
este Dossiê, a menos que o professor estabeleça desta forma.
V - Compartilhando
Em um tempo devidamente separado para esta finalidade, o professor
abre um espaço na sala de aula para que os alunos compartilhem as novas
informações que eles estão conseguindo sobre o assunto. Isto pode estar
ocorrendo cada dia, ou semanalmente ou ainda em outra periodicidade
estabelecida pelo professor.
Este será um momento importante, pois os alunos estarão contanto
sobre o que eles aprenderam ao realizar aquela pesquisa. Desta forma, novos
conhecimentos e experiências serão compartilhadas.
VI - Fechamento
A parte final é a entrega do “Dossiê”. Neste dia os alunos,
juntamente com o professor estarão apresentando as conclusões mais importantes
sobre aquela grande pesquisa e “jornada de exploração” do tema proposto.
Os “Dossiês”, após a revisão do professor, voltam para os alunos,
formando assim parte de um arquivo pessoal. Se este material foi colocado em
uma pasta com folhas plásticas, ou encadernado em espiral, certamente poderá
levar o aluno o aluno a sentir uma motivação maior para guarda-lo e consulta-lo
futuramente, até mesmo como fonte de pesquisa.
Resumindo o Projeto com Temas Geradores
Preparativos:
1. Objetivos do Educador.
2. Comunicação entre o professor e a coordenação e direção da
escola.
Escolha do Tema:
a. Escolha feita juntamente com os alunos.
b. Várias propostas apresentadas pelo professor, os alunos
escolhem uma.
c. A proposta é então definida pelo Professor
d. Elencar as possíveis dificuldades (resistência dos pais, dos
alunos, dificuldades com o tema proposto) e mostrar as possibilidades de
superação destes obstáculos.
Desenvolvimento do projeto:
1. Lançamento do Projeto.
2. Escolha dos itens a serem estudados e trabalhados.
3. Escolha do nome oficial do projeto.
4. Atividades propostas para o trabalho no projeto.
5. Definição do tempo de trabalho.
6. Análise das fontes de pesquisa.
7. Adequação às necessidades da classe e aos objetivos do
professor para com seus alunos
8. Pesquisa das informações necessárias.
9. Levantamento de dados
10. Elaboração do mural do projeto
11. Ambiente da sala – respira o projeto
12. Elaboração do Dossiê do aluno.
Fechamento do Projeto:
1. Dossiê do aluno.
2. Álbum de informações da classe.
3. Depoimento dos pais.
4. Avaliação com os alunos sobre o desenvolvimento do Projeto.
Conclusões Finais
O projeto não é a "salvação" da escola como naquela peça
teatral que citamos a princípio, mas não se pode negar que ele traz várias
respostas para os principais problemas que a escola enfrenta. E para o trabalho
com os conteúdos e com o desenvolvimento de competências o desenvolvimento de
projetos em sala de aula parace ser uma solução apropriada.
Em educação não existe mudanças repentinas ou o “ovo de Colombo”.
Se quisermos resultados, teremos que planejar e trabalhar. Qualquer que seja o
caminho para melhores resultados, ele, sem dúvida, passa por muito esforço e
dedicação. Assim também o é com a proposta da construção de projetos para que
eles direcionem o trabalho da escola, dos professores e dos alunos. Em última
instância o Projeto acaba por ser um "planejamento" de ações
pedagógicas que pode surgir como fruto da vontade do grupo e não apenas da
vontade de um diretor ou professor. Aceite o desafio: construa um projeto com
seus alunos e execute-o. Você perceberá que é mais fácil do que parece.
Referências
[1] PERRENOUD, Phillipe. Dez Novas Competências para ensinar. Porto Alegre: ARTMED, 2000, p. 27.
[2] HERNÁNDEZ, Fernando.; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.
[1] PERRENOUD, Phillipe. Dez Novas Competências para ensinar. Porto Alegre: ARTMED, 2000, p. 27.
[2] HERNÁNDEZ, Fernando.; VENTURA, Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho: o conhecimento é um caleidoscópio. 5ed., Porto Alegre: Artmed, 1998.
[3] ZABALA, Antoni.
Modelos se discutem (artigo). Revista do Ensino Superior. São Paulo: Editora
Segmento. Ano 2, nº 26, novembro de 2000, pp. 12-15.
[4] PQA: O que Penso sobre o assunto; o que Quero aprender; o que finalmente Aprendi.
[5] KWL – Knowledge, Want to learn, Learning.
[6] OGLE, Donna. KWL: A teaching Model that Develops Active Reading in Expositoy Text, The Reading Teacher 39, 1986, 564-576.
[4] PQA: O que Penso sobre o assunto; o que Quero aprender; o que finalmente Aprendi.
[5] KWL – Knowledge, Want to learn, Learning.
[6] OGLE, Donna. KWL: A teaching Model that Develops Active Reading in Expositoy Text, The Reading Teacher 39, 1986, 564-576.
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